Uma década de vergonha e rapina: após 10 anos, acaba a invasão e ocupação militar brasileira no Haiti

Iniciada por Lula, continuada por todo o mandato de Dilma e mantida até há pouco por Temer, enfim, depois de 10 vergonhosos anos, tiveram fim a invasão e ocupação militares no Haiti por parte do Brasil. O Haiti, até então um país livre, ainda que repleto de conflitos e extremamente pobre, está ainda mais miserável e destruído depois destes 10 anos, e ainda segue ocupado por exércitos estrangeiros e com o governo sendo escolhido conforme determina o imperialismo.

Mundo - 11 de setembro de 2017

Iniciada por Lula, continuada por todo o mandato de Dilma e mantida até há pouco por Temer, enfim, depois de 10 vergonhosos anos, tiveram fim a invasão e ocupação militares no Haiti por parte do Brasil. O Haiti, até então um país livre, ainda que repleto de conflitos e extremamente pobre, está ainda mais miserável e destruído depois destes 10 anos, e ainda segue ocupado por exércitos estrangeiros e com o governo sendo escolhido conforme determina o imperialismo.

A Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah) foi não apenas integrada, mas comandada, pelo Brasil na maior parte deste crime contra os trabalhadores a a soberania do Haiti. A bandeira do Brasil tremulou, junto de outras, como a dos invasores que levaram ainda mais morte, opressão e doenças ao país mais pobre das Américas. Bairros da capital Porto Príncipe, como Cité Soleil, uma enorme favela onde sobrevivem cerca de 300 mil pessoas, convivem com tanques e militares que simulam “integração social” apenas como uma forma de tentar amenizar a realidade de serem responsáveis por manter a população “pacífica” diante da cólera levada pelos militares, da destruição e da fome.

A “Missão de Paz” nunca lutou contra um exército inimigo, e teve raros confrontos com traficantes ou grupos ligados ao crime comum. Em 10 anos, a ocupação militar brasileira no Haiti, antecedida pela invasão imperialista capitaneada pelo Estados Unidos, e que ainda segue presente, agora sob outras bandeiras, serviu apenas para dar segurança ao governo golpista instalado no país após a deposição do presidente eleito anteriormente. Além de defender o governo corrupto e ilegal, as tropas brasileiras serviram para impedir greves, manifestações e protestos de uma população que vive esfomeada, sem emprego e sem liberdade, com esgoto correndo a céu aberto, construções demolidas, lixo por toda parte e miséria sem fim.

As tropas tinham o papel de combater as “gangues”, nome dado a quem quer que não se resumisse ao papel de aceitar o inferno do país sem reação, ou sorrindo diante de camisetas do futebol brasileiro, como as imagens da imprensa fabricavam. As imagens não mostradas, e que consistiam em 99,99% dos casos, era e é bem outra: crianças desnutridas, famílias sem casa e a morte por todos os lados. Enquanto isso, os militares reprimem os saques por comida, as manifestações de rua e quem, legitimamente, tentasse expulsar os invasores imperialistas ou capachos do imperialismo, como os brasileiros.

Por determinação das Nações Unidas, que ainda consideram Cité Soleil uma “zona vermelha”, os militares brasileiros só andam ali com capacete, colete à prova de balas e armamento, e qualquer visitante (como um jornalista) também são obrigados a usar capacete e colete. Uma pequena amostra de que não é carinho que os moradores sentem pelas tropas invasoras.

Um país sem liberdade e massacrado pelo imperialismo e seus representantes locais.

O Haiti foi o primeiro país da América Latina a se tornar independente, a primeira república e o primeiro país de todas as Américas onde a escravidão foi abolida. E nada disso foi feito por brancos ou setores que “libertaram” os escravos, e sim por eles mesmos. O Haiti foi primeiro e o único local em que os escravos assumiram o poder, derrubando o governo e o regime anterior, a partir de uma revolução popular.

O preço deste exemplo e desta vitória espetacular, no entanto, foi cobrado na forma de isolamento do país, boicote econômico, invasão espanhola e divisão da ilha de São Domingos em dois países (hoje, a República Dominicana), e a cobrança de uma astronômica “indenização” à França. Desde então, o Haiti, que já foi o maior produtor de açúcar do mundo e era um grande gerador de riqueza, se manteve um país muito pobre.

O imperialismo mudou a tática para explorar o Haiti, mas seguiu tomando suas riquezas. No século XX, o país foi dominado pela ditadura familiar de Papa Doc e Baby Doc, e afundou ainda mais na miséria profunda. Mais recentemente, entre 1986 e 2004, o Haiti teve 15 presidentes, e os golpes (muitos deles estimulados desde o exterior), se tornaram comuns.

A ocupação da ONU, que instalou a Minustah em 1º de junho de 2004, passada ao controle brasileiro em 2007, foi mais um duro ataque contra os haitianos. Naquele momento, o então presidente, Jean Bertrand Aristide, era derrubado pelos Estados Unidos, numa agressão apoiada pelo governo Lula no Brasil, que participou do golpe e, depois, chefiou a ocupação militar. Depois de 13 anos de invasão e 10 anos da ocupação brasileira, após sucessivos adiamentos, finalmente, os soldados brasileiros saem do país – pela porta dos fundos!

Os trabalhadores do Haiti ainda precisam expulsar o conjunto das tropas agressoras, e, mais do que nunca, é urgente uma nova revolução dos explorados, dos negros, dos sem liberdade e que passam fome… Nos últimos anos, protegidos pelas armas dos militares do Brasil e de outros países, grandes empresas voltaram a instalar fábricas e negócios no Haiti, usando uma mão de obra sem direitos trabalhistas e com salários miseráveis, muitas vezes em condições análogas à escravidão.

Os trabalhadores do Haiti já mostraram sua força em outros momentos. E devem ter a total solidariedade e atuação ativa dos trabalhadores do restante do mundo, a começar pelos brasileiros, país de onde partiu boa parte da repressão contra os haitianos. É preciso derrubar o governo do Haiti e expulsar todas as tropas de ocupação.

A luta pela liberdade do país e contra as novas formas de escravidão passam pela luta contra o capitalismo! A História do Haiti mostra de modo trágico que só a revolução das massas pode mudar a vida, mas que é preciso extirpar o capitalismo, coletivizar a riqueza, garantir o poder a organismos populares e internacionalizar a revolução. Sem levar esta luta até o final, nada de duradouro será conquistado.