Toda solidariedade a Jean Wyllys, que desistiu de tomar posse como deputado após ameaças de violência.

O deputado federal Jean Wyllys (Psol - RJ) comunicou publicamente que não tomará posse para o 3o mandado de deputado federal para o qual foi eleito. Em férias no exterior, Jean disse que não vai mais voltar ao Brasil e que vai desistir da carreira pública. Sua explicação para esta mudança de posição, tão pouco tempo após uma eleição em que fez campanha por sua reeleição, foi de que a decisão foi tomada por conta de ameaças que ele vem sofrendo. "Eu já vinha pensando em abrir mão da vida pública desde que passei a viver sob escolta, quando aconteceu a execução da Marielle. Antes disso, havia ameaças de morte contra mim...mas nunca achei que pudessem acontecer de fato", contou o parlamentar. Embora nada concreto tenha ocorrido desde que tinha esta opinião, Jean reconheceu que não suportou mais a situação de andar com escolta e, ao experimentar uma liberdade maior em férias no exterior, não pretendia voltar às restrições anteriores.

Nacional - 25 de janeiro de 2019

                O deputado federal Jean Wyllys (Psol – RJ) comunicou publicamente que não tomará posse para o 3o mandado de deputado federal para o qual foi eleito. Em férias no exterior, Jean disse que não vai mais voltar ao Brasil e que vai desistir da carreira pública. Sua explicação para esta mudança de posição, tão pouco tempo após uma eleição em que fez campanha por sua reeleição, foi de que a decisão foi tomada por conta de ameaças que ele vem sofrendo. “Eu já vinha pensando em abrir mão da vida pública desde que passei a viver sob escolta, quando aconteceu a execução da Marielle. Antes disso, havia ameaças de morte contra mim…mas nunca achei que pudessem acontecer de fato”, contou o parlamentar. Embora nada concreto tenha ocorrido desde que tinha esta opinião, Jean reconheceu que não suportou mais a situação de andar com escolta e, ao experimentar uma liberdade maior em férias no exterior, não pretendia voltar às restrições anteriores.

                As ameaças que Jean sofreu e as calúnias de que foi vítima são repugnantes e inaceitáveis, e nos solidarizamos com ele e todos os demais que foram vítimas desta violência. Por conta disso, e de que é a vítima quem melhor sabe sobre si mesma, sobre o que é capaz de suportar e como pode reagir ou romper o ciclo de depressão, pânico ou insegurança, independentemente de haver fatos reais ou apenas temor, nós somos integralmente solidários a Jean, respeitamos sua decisão e exigimos a punição severa daqueles que o ameaçaram, com prisão, perda de mandato e multas exemplares.

                A família Bolsonaro está ligada diretamente às milícias de assassinos e criminosos do Rio de Janeiro, e Jean poderia, sim, ser mais um alvo dos mesmos que mataram a vereadora Marielle Franco e que, agora se sabe, indicaram funcionários para o gabinete de Flávio Bolsonaro. A família, os mandatos, o governo e os aliados de Bolsonaro são associados a crimes de várias espécies e utilizam métodos mafiosos. Não acreditamos que a saída seja abandonar a luta, e sim partir ainda mais para o enfrentamento. Mas a responsabilidade pela decisão de Jean Wyllys é, antes de mais nada, dos milicianos e dos políticos que os sustentam, como Bolsonaro.

Um mandato capitalista, que não era dos trabalhadores.

                Nossa solidariedade integral a Jean Wyllys não pode esconder demagogicamente o que representava seu mandato.  Jean era um deputado totalmente alinhado ao bloco burguês do PT e PCdoB, mesmo que supostamente a bancada do PSOL fosse independente. Jean foi um enfático defensor de que a quadrilha do PT permanecesse à frente do pais, refutando não apenas o rumo que tomou o impeachment de Dilma, mas, antes, todas as manifestações populares do Fora Dilma. Fez o mesmo com Lula e todos os demais “bandidos de estimação” do PT.

                Neste aspecto, é bom relembrar apenas um dos tantos casos de crimes e assassinatos envolvendo o PT e a corrupção com que se envolveu: o caso Celso Daniel. O ex-prefeito de Santo André foi assassinado por querer modificar termos da corrupção praticada pelo partido na cidade, e outras 7 testemunhas ou pessoas que se envolveram com a investigação também acabaram assassinadas. O curioso é que um dos principais denunciantes de todos estes crimes e da autoria da cúpula do PT no caso é o irmão de Celso Daniel, que igualmente se refugiou no exterior, por estar com a morte marcada no Brasil pelos capangas do PT.

                As milícias do RJ, que ontem mataram Marielle e hoje ameaçam Jean Wyllys, são as mesmas que passaram anos junto de Eduardo Paes, Sérgio Cabral e Pezão, todos amigos íntimos e aliados políticos absolutos de Lula e do PT, sempre defendidos pelo PSOL. Este é mais um dos erros do PSOL: ser uma “corrente externa” de uma quadrilha burguesa, o PT, e se prestar ao papel de ser seus soldados mais combativos, “dando a cara para bater” contra aqueles que seriam os “inimigos da esquerda”, enquanto seus líderes, do PT, negociam e dividem a corrupção com estes mesmos “inimigos”.

                Além de defender o PT e seus crimes, Jean Wyllys nunca teve um mandato de enfrentamento ao sistema, resumindo sua atuação a projetos de humanização do capitalismo. Tampouco o vimos à frente de lutas gerais dos trabalhadores, na Greve Geral, na Greve dos caminhoneiros, nos levantes populares de 2013 e assim por diante. Era mais um deputado com um mandato capitalista, embora tivesse pautas progressistas, no sentido reformista e de capitalismo humanitário.  Internacionalmente, Jean Wyllys defendia o Estado de Israel e se posicionou inúmeras vezes contra a posição majoritária na esquerda, mesmo a reformista, de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS) ao Estado terrorista de Israel, que massacra diariamente os palestinos e demais povos do Oriente Médio e região. Os trabalhadores não perdem nenhum deputado que defenda seus interesses de modo coerente e socialista. Como, de fato, não há nenhum mandato deste tipo em todo o Congresso Nacional.

                Manter as análises críticas que sempre tivemos sobre o mandato de Jean Wyllys demonstra que o momento não permite hipocrisias, como normalmente ocorre quando morre ou se aposenta alguma personalidade, que, de uma hora para outra, vira um santo na maioria das análises. Jean tinha suas virtudes, assim como tínhamos nossas críticas à sua atuação. Mas, seja como for, adversários políticos que são parte dos oprimidos e defendem os explorados também merecem nosso respeito, solidariedade e companheirismo. Por isso, estamos ao lado de Jean diante daqueles que o atacaram e seguem atacando no momento em que abre mão de tomar posse.

                Não o reconhecemos como nosso representante e muito menos como um deputado a serviço dos trabalhadores. Mas é lamentável que ele não tenha podido tomar posse em condições de segurança e sem as ameaças que vinha sofrendo. Nossas diferenças são políticas, mas estamos unidos na denúncia da situação em que o Estado burguês é incapaz de garantir até mesmo a tranquilidade para alguém que foi eleito denunciando a violência homofóbica e da burguesia mais truculenta.

O discurso da “resistência” reformista se desmancha no ar.

                Jean Wyllys é um reflexo do partido e do discurso de que fez e ainda faz parte. Mesmo sem mandato, Jean é filiado e dirigente do PSOL, e é porta-voz do discurso alarmista e de satélites do PT que o fez ser parte da tropa de choque do governo burguês, neoliberal e ultra corrupto de Dilma Roussef. Da mesma forma, Jean era e é um dos maiores defensores do presidiário Luiz Inácio Lula da Silva. A incoerência de defender cadeia para Cabral e Pezão, mas querer a liberdade de Lula e outros bandidos do PT, é a mesma que leva a defender o impeachment de Collor, FHC e bradar Fora Temer, mas ter sido contra as manifestações populares do Fora Dilma e a queda de um governo de direita, conjunto com o MDB.

                A desistência de assumir o mandato conclui de modo coerente um conjunto de pacifismo, covardia política e defesa do capitalismo na sua forma “suave” de massacre aos trabalhadores. Jean não é um covarde por ter desistido de tomar posse (esta decisão, nós respeitamos); mas é parte de um partido e de um movimento que, como um todo, é covarde e pacifista, além de incoerente, pois tremeram de medo diante da possibilidade de um governo cuja natureza permanece sendo capitalista, neoliberal e democrático-burguês. O PSOL sempre foi um apêndice do PT e se envolveu em práticas e coligações vergonhosas em mais de 10 anos, fazendo com que não fosse surpresa lançar um candidato laranja no 1o turno da eleição, cuja grande missão era defender Lula e o PT; e tampouco tenha sido surpresa apoiar acriticamente e de modo tão entusiasmado ao PT diretamente no 2o turno.

                O PSOL amedrontava seus filiados, eleitores e pessoas em geral com uma campanha capitalista de que ou o PT seria eleito ou adviria o apocalipse. Esquecendo o massacre que já existe e se agravou em 13 anos de PT e mais 3 anos do vice do PT, em que negros, indígenas, mulheres e LGBTs nunca foram tão massacrados. O PSOL foi cúmplice indireto disto tudo, se calou diante desta realidade e ameaçou com a volta da ditadura e a implantação do fascismo no Brasil, em caso de derrota de Haddad. Preparando os trabalhadores para se esconderem, fugirem do país e pararem de militar, o PSOL ajudou e ajuda Bolsonaro a não enfrentar resistência, pois seria um Hitler disposto a massacrar quem sair às ruas.

                Respeitamos a decisão de Jean Wyllys, embora entendamos que ela enfraquece a luta, pois a maioria dos LGBTs não têm passaporte, nem dinheiro para sair do Brasil, e estariam festejando caso pudessem ter apenas parte da escolta que acompanhava Jean Wyllys. Mas Jean não é culpado por ter acreditado no discurso que todo seu partido pregou, e muito menos de ter sido coerente e se “exilado” no exterior. O discurso estapafúrdio e defensista que tomou conta da maioria da esquerda nas eleições indica que é isso mesmo que deveria ser feito. Obviamente, porém, a maioria dos que progaram tal tese, a partir do partido-mãe do PSOL, o PT, assim como o PCdoB e a CUT, nunca acreditaram em tal discurso (reproduzido somente por propósitos eleitorais), não perderam  tempo, e hoje já estão negociando com Bolsonaro e Rodrigo Maia. Quem, no entanto, caiu no “conto do fascismo” ou vai se dando conta do erro que foi ter sido massa de manobra do PT, ou ainda está perplexo, perdido e sem saber o que fazer diante da realidade ser a de um governo Bolsonaro de direita, neoliberal e bastante duro nos ataques que proporá, mas nada a ver com o cenário catastrofista irreal e fantasioso que pintaram. O autoexílio de Jean é parte desta confusão e choque do discurso pró PT com a realidade deles sendo todos iguais.

A necessidade do enfrentamento político e da autodefesa!

                O pacifismo pregado pelos que, contraditoriamente, alarmavam com a chegada do fascismo, é a forma mais inútil e oposta ao que, realmente, significa uma resistência. Nós chamamos os trabalhadores não apenas a não emigrar do Brasil, nem a abandonar ou desistir de seus mandatos ou lutas em curso, a reagirem com força! O discurso de se esconder, recuar ou apenas se defender diante do governo é a preparação da derrota da nossa classe! Os trabalhadores precisam passar por cima da política do medo e da conciliação de classe promovidas pelo PT, PCdoB e PSOL. Nós temos força como trabalhadores e oprimidos para reagir! Viemos lutando e devemos lutar mais ainda!

                Os trabalhadores realizaram ações de rua massivas desde 2012 e greves com número e força recorde ano após ano. Não estamos derrotados e vamos às ruas lutar mais uma vez contra os ataques de Bolsonaro, do Congresso e de todos os governos estaduais, do PT e PCdoB ao PSL, passando pelo MDB, PSB, PSDB, etc.  Diante de agressões aos lutadores, e criminalização de nossos protestos, precisamos reagir com nossa autodefesa e a legítima violência do oprimido para defender-se da violência do opressor.

                Jamais nos calarão nem nos farão render. Os revolucionários propõem a única e verdadeira resistência: lutar pela destruição do capitalismo, do Estado burguês e da exploração, construindo a revolução dos trabalhadores. Não tememos o confronto. Somos a maioria e cada vez mais sabemos que as eleições e o parlamento não mudam nada, que eles são todos iguais e que a luta é para que tomemos o poder!