Sindicato dos Bancários RN/FNOB denuncia Caixa e exige medidas em defesa dos trabalhadores

Em nome do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do RN (SEEB-RN), expressamos nossa enorme preocupação com a situação dos trabalhadores da Caixa Econômica Federal e da população que tem necessitado do banco neste período trágico da pandemia de coronavírus.

Nacional | Sindical - 11 de maio de 2020

O Sindicato dos Bancários do RN enviou uma carta à Superintendência da Caixa no RN cobrando providências quanto a situação das agências. Leia na íntegra o relato e as cobranças feitas pela Entidade:

À Superintendência de Rede do RN

Em nome do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do RN (SEEB-RN), expressamos nossa enorme preocupação com a situação dos trabalhadores da Caixa Econômica Federal e da população que tem necessitado do banco neste período trágico da pandemia de coronavírus.

Já são quase 10 mil brasileiros mortos, 135 mil infectados e um desastre sem precedentes sobre a economia do país. O auxílio-emergencial votado pelo Congresso Nacional, neste contexto, é absolutamente imprescindível – mesmo sem estar acessível a muitos que necessitam, e num valor muito abaixo do necessário. Ainda assim, é a diferença entre conseguir ter comida em casa ou não; entre famílias terem pelo menos o mínimo para sobreviver, ou nem isso.

Por isto, é fundamental o papel que a Caixa está cumprindo e não haveria como existir nenhum programa de distribuição de renda sem a participação da Caixa, que sairá ainda maior desta pandemia, mostrando que não pode sob hipótese alguma ser privatizada ou enfraquecida. Os bancários que trabalham na TI, nas áreas-meio dando suporte e principalmente nas agências merecem realmente todos os aplausos e reconhecimento.

No entanto, não basta chamar de heróis a quem está sendo exposto à contaminação, à doença e, infelizmente, à morte. Os bancários estão sendo pressionados a cumprir jornadas de trabalham que começam às 7h e não tem hora para acabar. Foi isso que o próprio presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou quando disse que se vai atender até o último cliente. Nos últimos dias, já foram muitas as agências em que empregados foram obrigados a ficar trabalhando até 19h ou 20h! Uma jornada total de mais de 10h, chegando a 12h, à disposição do banco é absolutamente desumana. Como é desumano haver trabalho em todos os sábados e feriados, como já vem sendo praticado e agora foi reiterado pela administração da Caixa. É um massacre psicológico e físico.

Há relatos de episódios de violência contra empregados da Caixa e até mesmo com princípios de incêndio em frente a agências. Multidões se aglomeram por horas intermináveis nas madrugadas anteriores e nos dias de pagamento do benefício, sob o sol escaldante e também na chuva. Apreciamos a adoção de medidas como a contratação de seguranças para organizar filas, assim como a distribuição de senhas e delimitação de espaçamento nas filas, todas tomadas tardiamente após vários incidentes. Mas isso não é suficiente!

Já foram mais de 50 milhões de pessoas com o auxílio emergencial creditado, sendo que a Dataprev ainda analisa outras dezenas de milhões de pedidos, que podem provocar uma nova enxurrada de pessoas se dirigindo às agências da Caixa. Além disso, estas novas pessoas aprovadas, assim como as 50 milhões já creditadas, terão outras duas ondas de pagamento. O presidente da Caixa também já disse que é “impossível” pagar todos sem filas. Diante disso, as cenas de humilhação, abuso e sofrimento se repetirão e não podemos permitir isso calados.

A Caixa não pode banalizar a extensão da jornada bancária todos os dias, nem o trabalho aos sábados e feriados. E, pior ainda: por tempo indeterminado! Enquanto isso, os negócios do banco seguem sendo feitos sem cessar. Oficialmente, as metas teriam sido suspensas, mas as cobranças prosseguem, e uma parte considerável do esforço dos empregados permanece voltado à produção de lucros em meio à pandemia e à tragédia que o país enfrenta. CDCs, consignados, cheques especiais, cartões de crédito e financiamentos seguem sendo feitos, ao mesmo tempo em que milhões de pessoas sofrem nas filas e colocam a culpa equivocadamente nos trabalhadores da Caixa.

Nem se todos os mais de 80 mil empregados do banco estivessem atendendo, desapareceriam as filas, seja pela quantidade de atendimentos, seja pela necessidade de atender aos poucos, respeitando o distanciamento social. Isto só vai ser solucionado se os demais bancos forem chamados à sua responsabilidade e também derem alguma contribuição a este esforço de pagamento. Mas existirem milhares de bancários fazendo outras operações não essenciais nem urgentes neste momento é inadmissível.

Da mesma forma, é inaceitável que hoje haja 20 mil bancários a menos na Caixa, em relação a poucos anos atrás, e tenhamos um concurso público feito em 2014 com milhares de aprovados esperando para serem chamados. O governo e a Caixa, desta forma, estão sacrificando ao extremo os colegas que estão na linha de frente, dando o seu melhor, mas cuja saúde não é ilimitada e invulnerável.

Outra questão gravíssima é o descaso com as normas estabelecidas pela própria Caixa e órgãos de vigilância sanitária e de saúde. Nestes dias, soubemos da contaminação de uma colega da Agência Noilde Ramalho, a qual entrou em quarentena, mas a agência permaneceu funcionando com todo o restante da equipe! Isso é um atentado contra a saúde destes colegas, dos prestadores, seguranças e de todos os clientes que necessitaram ir à agência. Alguns colegas desta agência realizaram os testes de Covid 19 por sua conta e custos, e outros sequer foram testados, desmentindo informação inverídica que nos foi prestada por esta SR, inclusive com o testemunho de representantes do Ministério Público em audiência no dia 7/5! Outros colegas podem estar infectados. E todos seguem trabalhando!

Vemos as mortes recordes no mundo entre enfermeiros sendo no Brasil, chamados de heróis, assim como alguns também chamam os bancários da Caixa. Não queremos heróis mortos. A insalubridade de trabalhar em meio a multidões, muitos sem máscara, é indiscutível. Os bancários da Caixa estão sofrendo jornadas exaustivas e com EPIs não padronizadas nem substituídas a cada 2 horas, como preconiza a OMS.

O SEEB-RN entende que é preciso que todos os principais bancos assumam o pagamento daqueles beneficiários do auxílio que não são clientes de nenhum banco. Foram mais de 100 bilhões de lucros obtidos apenas em 2019 pelos 5 maiores bancos do país, e não é possível que só a Caixa seja responsável por esta tarefa enquanto os demais não fazem absolutamente nada neste sentido.

Defendemos que a SR RN faça a gestão junto à Matriz para que haja a descentralização dos pagamentos com os demais bancos. E para que haja o chamamento imediato de 20 mil bancários no país, com a reposição de todas as vagas perdidas no RN.

Além disso, que providencie:
1) Ida do superintendente de rede à imprensa esclarecer e orientar a população;
2) Exigir que todos os funcionários que estão nas agências deixem de realizar negócios e sejam direcionados exclusivamente para os atendimentos emergenciais;
3) Pedir ajuda à Guarda Municipal ou, na ausência desta, através de agentes designados pelo município para organizar as filas e evitar aglomerações;
4) Intensificar a triagem e a distribuição de fichas, para restringir as filas a quem realmente poderá ser atendido;
5) Viabilizar a emissão de cartões multifunções, para que os beneficiários não necessitem fazer saques pessoais nas agências;
6) Simplificação e melhorias nos aplicativos de cadastramento para requerer o auxílio e de movimentação das contas digitais.
Natal, 08 de maio de 2020

Sindicato dos Bancários do RN