REPUDIAR AS MEDIDAS REPRESSIVAS DE BUKELE SEM CONFIAR NO SISTEMA BURGUÊS IMPERIALISTA.

No sábado, 1º de maio, o presidente de El Salvador aproveitou o controle que tem da Assembleia Legislativa do país (equivalente, no Brasil, à Câmara de Deputados) para destituir com uma canetada os magistrados do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público. Nayib Bukele chegou à presidência com o apoio de seu partido, Novas Ideias, em uma eleição onde esmagaram os demais candidatos, obtendo um grande número de votos, enquanto a FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, organização ex-guerrilheira de esquerda que se tornou um partido burguês) teve seu pior desempenho em décadas.

Internacional - 10 de maio de 2021

No sábado, 1º de maio, o presidente de El Salvador aproveitou o controle que tem da Assembleia Legislativa do país (equivalente, no Brasil, à Câmara de Deputados) para destituir com uma canetada os magistrados do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público. Nayib Bukele chegou à presidência com o apoio de seu partido, Novas Ideias, em uma eleição onde esmagaram os demais candidatos, obtendo um grande número de votos, enquanto a FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, organização ex-guerrilheira de esquerda que se tornou um partido burguês) teve seu pior desempenho em décadas.

O fracasso histórico da FMLN é um reflexo da traição deste grupo ex-guerrilheiro, totalmente adaptado à democracia burguesa, que governou o país de forma corrupta, sob um programa burguês e políticas neoliberais. A desmoralização da FMLN abriu as portas para o surgimento e desenvolvimento de Bukele e suas Novas Ideias, que não passam das velhas ideias burguesas, que mesclam o aprofundamento dos ataques aos trabalhadores com ações autoritárias e antidemocráticas.

A intervenção ilegal de Bukele no judiciário contém também a sua intenção de substituir os três magistrados do Tribunal de Contas e outros órgãos do Estado. E parte da burguesia salvadorenha e a maioria da burguesia regional e internacional estão indignadas com a situação. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, a OEA, a ONU e outras instituições acusam Bukele de preparar um “golpe” e exigem que ele devolva a institucionalidade em El Salvador. Bukele, em resposta, os desafia, afirmando que sua intenção é “limpar a casa” e que continuará a agir como faz.

Aparentemente, a crise do regime político salvadorenho reflete apenas confrontos entre poderes do Estado e lutas entre frações da burguesia local e possivelmente regional. Em todo caso, a concentração do poder nas mãos de uma pessoa e a destituição ilegal de juízes do alto escalão do judiciário são, de fato, um atentado à democracia burguesa. A nosso ver, a decisão do presidente diz respeito à necessidade dele se preparar para o que vier a acontecer em El Salvador, com um possível aumento das lutas dos trabalhadores, no marco da conjuntura política regional e mundial, que vem agravando as condições materiais sofridas pela grande maioria.

Segundo o FMI, a economia de El Salvador regrediu aos níveis de 2016 e está à beira de entrar em recessão. É nesse cenário que Bukele, seu partido e parlamentares têm que agir, preparando uma futura repressão ao povo salvadorenho. Assim, ele ataca um dos pilares da ordem democrática burguesa agora, mas seu objetivo é sustentá-la melhor, contra uma possível ameaça das mobilizações nas ruas.

Neste sentido, ele quer centralizar as funções do Estado burguês em torno do poder executivo. Um regime burguês presidencialista em que os demais aparatos de Estado diminuam ou tenham desaparecidas suas funções reguladoras. Os aparatos militares, de segurança e repressivos que se alinham em torno do Poder Executivo se preparam para agir no futuro, quando as massas acordarem do sonho eleitoral em que vivem e buscarem as ruas exigindo que suas necessidades sejam resolvidas. Consequentemente, Bukele considera necessário ter liberdade de ação para golpear com um único punho, sem mediações “legais” contra o movimento de massas.

Bukele atira contra o Judiciário, mas suas balas têm como objetivo matar a rebelião popular antes que ela se desenvolva. Ele sabe que sua eleição despertou ilusões que não podem ser resolvidas por seu governo, sob o qual aumentará a corrupção, as dívida, o desemprego e a pobreza, males que levaram o povo a rejeitar governos anteriores e colocar suas esperanças em mais uma mentira. Repetimos que Bukele quer concentrar poderes para que, diante da decepção que, com certeza, vai provocar, ele possa reagir com mais força contra as mobilizações populares.

OS SOCIALISTAS REVOLUCIONÁRIOS NA SITUAÇÃO DE EL SALVADOR

Somos contra as medidas do governo Bukele e nos somamos às denúncias de todos os setores que se opõem a elas. Se a classe operária e outros oprimidos de El Salvador seguirem o caminho de luta dos heroicos operários da fábrica têxtil Florenzi, Bukele estará em apuros. Essa luta coloca em evidência o caráter de classe burguês do governo Bukele e dos aparatos do Estado, incluindo o judiciário, as instituições trabalhistas, o parlamento e as forças militares. Portanto, chamamos a que não se confie neles. A classe trabalhadora só pode acreditar em sua própria força e na solidariedade nacional e internacional.

Consideramos pertinente denunciar aos trabalhadores salvadorenhos as manobras políticas autoritárias de Bukele. Esta posição nada tem a ver com depositar confiança neste regime ou na suposta “separação” de poderes. Mesmo assim, se a classe trabalhadora, ou um setor importante dela, considera um dever defendê-los contra as investidas do governo, estamos prontos para acompanhá-la em sua experiência.

A luta contra Bukele não passa por nenhuma Frente Única com outros setores burgueses, “rivais” do Novas Ideias, mas iguais nos interesses de classe que seus programas e governos defendem. Confiamos apenas na classe trabalhadora e no povo salvadorenho. E, como parte deles, também confiamos nos revolucionários e revolucionários socialistas que veem na construção de partidos operários independentes a melhor solução para os graves problemas enfrentados pelos explorados e oprimidos em El Salvador, na região e no mundo.

A luta direta é a única saída, junto com a construção de organizações de resistência e de luta popular, com um programa contra todos os exploradores, do governo Bukele, do Congresso por ele controlado, do judiciário, e também da oposição burguesa e dos aparatos sindicais e políticos reformistas que capitulam diante deles. É preciso fazer como na Colômbia e marchar nas ruas contra as medidas de Bukele, mas também contra os demais corruptos e inimigos do povo, que são seu alvo imediato, mas que fazem parte do conjunto que prepara sua artilharia para atacar diretamente as grandes massas salvadorenhas, quando estas saírem às ruas exigindo suas justas demandas.

VIVA A UNIDADE DOS POVOS DA AMÉRICA CENTRAL!