PT diz: Fica, Bolsonaro!

O diretório nacional do PT decidiu neste dia 09 de abril não aderir ao movimento que cresce em todo o Brasil exigindo o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro. O partido alegou que “compreende e respeita” as manifestações de panelaço e indignação, e os gritos de “Fora Bolsonaro”, cada vez mais freqüentes, “Mas, como um partido que tem como seu objetivo principal a defesa da vida do povo, queremos afirmar que a prioridade na conjuntura imediata é focar toda a nossa energia no combate à pandemia do coronavírus”. Seria cômico se não fosse trágico.

Nacional - 11 de abril de 2020

O diretório nacional do PT decidiu neste dia 09 de abril não aderir ao movimento que cresce em todo o Brasil exigindo o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro. O partido alegou que “compreende e respeita” as manifestações de panelaço e indignação, e os gritos de “Fora Bolsonaro”, cada vez mais freqüentes, “Mas, como um partido que tem como seu objetivo principal a defesa da vida do povo, queremos afirmar que a prioridade na conjuntura imediata é focar toda a nossa energia no combate à pandemia do coronavírus”. Seria cômico se não fosse trágico.

O PT nunca quis a derrubada de Bolsonaro, e agora se apoia na pandemia que está matando milhares de pessoas para justificar sua traição. Um argumento vergonhoso considerando que é justamente o papel de Bolsonaro diante da crise que mais exige sua derrubada no momento, à medida que o presidente está diariamente defendendo que as pessoas saiam às ruas, descumpram a quarentena e se infectem, menosprezando o que chama de “gripezinha”. Bolsonaro só espalha fake news, tentou impedir que houvesse até mesmo a renda mínima de R$ 600 aprovada pelo Congresso após pressão da população, e é responsável por cortar bilhões do orçamento da saúde. A pandemia é um enorme motivo a mais para exigir o Fora Bolsonaro.

Gilmar Tatto, secretário de comunicação do PT, cinicamente diz que “Temos que cobrar que o governo implemente as propostas do Congresso. Que dê crédito às pequenas e médias empresas. Salvar vidas é a maior preocupação. E que as pessoas tenham o mínimo para comer”. E o discurso da cúpula do partido e não é de agora; o PT é mais um partido defensor das instituições capitalistas e defende a todo custo que não haja a quebra do calendário eleitoral e da tranquilidade do sistema.

A pior coisa para um partido burguês como o PT é que haja um processo de derrubada de governos fora das eleições “normais”, mesmo que seja de um governo que pareça ser seu maior inimigo.

PT foi contra derrubar Collor, FHC, Temer e Bolsonaro

A posição do PT de defender a continuidade do governo Bolsonaro não é uma novidade. O PT nunca defendeu a queda de nenhum presidente burguês!

Nascido em 1980, o PT nunca foi revolucionário, nem sequer socialista, mas era um partido de esquerda e operário, sustentado em uma base de milhões de trabalhadores. Numa de suas posições mais importantes, votou nulo nas eleições indiretas para presidente em 1985, quando acabou a ditadura no Brasil, mas quando as eleições ainda foram apenas no Congresso Nacional, chamadas de Colégio Eleitoral. O PT se recusou a escolher entre o Paulo Maluf, representante direto da ditadura, e Tancredo Neves, do MDB, a “oposição” colaboracionista por mais de 20 anos de ditadura. Votou nulo, denunciou o processo e expulsou os 5 deputados federais que traíram os trabalhadores e apoiaram Tancredo. Que, depois, morreu sem nem mesmo assumir e deixou seu vice, José Sarney, governar por 5 anos.

Sarney alternou momentos populares, com a reação democrática no auge, a população empolgada com a democracia burguesa e com planos de contenção inflacionária, mas terminou o governo completamente repudiado pelas massas, com hiperinflação e numa eleição em 1989 em que todos os candidatos mais votados apedrejavam o governo. Mesmo assim, o PT nunca fez nada para derrubar Sarney, e esperava ser eleito nas urnas. Não foi.

Veio o governo Collor, corrupto, neoliberal, com milhões de desempregos, confisco de poupança e 2 anos de recessão seguidos. Resultado: uma enorme campanha popular pelo Fora Collor em 91 e 92. O que fez o PT, a esta altura ainda um partido de esquerda e de base operária, mas com um programa burguês? Foi contra derrubar Collor. Chegou a expulsar a corrente interna Convergência Socialista, que defendia o Fora Collor.

As ruas atropelaram o PT, e Collor acabou derrubado no final de 1992, apesar do PT, que só aderiu á campanha quando ela já era inevitável, e para ajudar a que ela se desse de maneira comportada, por dentro do Congresso, via votação de impeachment.

Toda a aposta era deixar que o vice-presidente Itamar Franco acabasse seu mandato sem problemas (Luiza Erundina, do PT, chegou a ser ministra de Itamar!) e venceriam as eleições seguintes, com o slogan “Feliz 1994”. As eleições vieram, e o PT perdeu de novo, agora para o PSDB, do candidato Fernando Henrique Cardoso (FHC). FHC ainda ganharia novamente em 1998, outra vez contra Lula, em sua 3ª derrota.

Foram 8 anos de governo FHC, com privatizações, reformas da Previdência e trabalhistas, inúmeros casos de corrupção e o PT nunca defendeu a derrubada de FHC. A campanha pelo Fora FHC chegou a ter marchas enormes pelo Brasil, a popularidade do presidente estava baixíssima e FHC poderia ter caído. Mas o PT e a CUT, a principal central sindical do país, o sustentaram sempre, até a nova política de “Feliz 2002”. Veio 2002, o PT se aliou à ultrarreacionária Igreja Universal, colocou um megaempresário de vice e, enfim, venceu, após prometer manter tudo como sempre foi, na famosa “Carta ao Povo Brasileiro”.

Foi uma das poucas promessas cumpridas pelo PT, que manteve mesmo tudo como era. Em 6 meses fez uma nova Reforma da Previdência, e governou quase 14 anos enriquecendo banqueiros, latifundiários e especuladores da Bolsa. Foi um partido burguês desde que assumiu o governo, tendo mantido uma política neoliberal e de direita praticamente idêntica a de todos os demais partidos.

Privatizou quase tudo que Collor, Itamar e FHC não conseguiram, e ainda teve tempo de fazer novas reformas da Previdência, atacar o funcionalismo público e cortar programas sociais e verbas do orçamento que ele mesmo conseguiu ampliar nos anos dourados do capitalismo mundial, em que todos os governos, de direita e esquerda, também conseguiram crescer no mundo, no início dos anos 2000.

A ironia da História é que a crise mundial iniciada em 2008, que atingiu o Brasil com força a partir de 2011, veio para acabar com o prestígio já abalado do PT, enfraquecido por anos de corrupção generalizada e perda de apoio político entre os trabalhadores. A base social do PT já não era mais formada pelos operários e setores organizados, e sim pelas massas mais pobres, desorganizadas e eleitoralmente dependentes das oligarquias e geralmente eleitoras dos governos de situação, desde a ditadura, Collor, FHC, etc.

Pois a crise mundial destruiu também este apoio, que era mais frágil, e o desemprego em massa, as dívidas sem precedentes e a recessão de 2015 e 2016 (que repetiram quase fielmente todo o cenário de 1991 e 1992) levaram outra vez as massas às ruas para derrubar um presidente, desta vez do PT. Dilma caiu após o PT e todos os políticos e partidos serem enfrentado pelas massas no levante popular de 2013, e por ela ter continuado defendendo os interesses do imperialismo e dos grandes capitalistas, jogando os efeitos da crise sobre os trabalhadores.

A derrubada de Dilma se deu pelo Congresso, via impeachment, do mesmo jeito que Collor caiu em 1992: para que o processo fosse controlado e não houvesse uma saída dos trabalhadores. Mas, se em 1992 o PT aderiu de última hora, em 2016 foi o alvo, e inventou a farsa de que isso foi um “golpe”. O irônico, outra vez, é que assumiu o vice-presidente que o PT escolheu, Michel Temer, e o PT nunca defendeu sua derrubada.

Temer governou com ministros que foram quase todos ministros também nos governos do PT. Tinha uma base no Congresso muito parecida e se dedicou a aprovar (ou propor e ser derrotado) os mesmos projetos que Dilma também propôs. Sua popularidade era um desastre desde o começo e chegou a ter míseros 5% de apoio. Depois de 30 anos, os brasileiros fizeram uma Greve Geral, a capital Brasília foi ocupada por uma multidão de ativistas e Temer chegou a fazer um pronunciamento em que 90% da imprensa e das pessoas tinham certeza de que ele renunciaria, no auge das denúncias de corrupção que foram reveladas contra seu governo. O Fora Temer era quase irreversível.

Pois o PT, espantosamente, foi contra Temer cair. Em todos os dias de todo seu mandato, o PT era a principal voz do Fica Temer! A política? Ganhar as eleições seguintes, no “Feliz 2018”! Chegaram a prender Lula e o PT não mudou de posição… “Fica Temer” e governe até o final era sua política. O “golpista” Temer… Um governo “ilegítimo”, como eles diziam, mas que deveria governar legitimamente até o último minuto.

O PT é culpado por tudo que lhe aconteceu. E pelo que aconteceu ao Brasil! Veio 2018 e Lula seguiu preso, o PT perdeu as eleições e Bolsonaro foi eleito. As ameaças eram de que o fascismo iniciaria no Brasil. Milhões seriam mortos, os tanques ocupariam as ruas, o Congresso e os sindicatos seriam fechados, os ativistas seriam presos, mortos ou exilados e os homossexuais seriam exterminados e caçados pelas ruas. No 2º turno, partidos como PSTU, PCB, PSOL, PCO, POR e quase todos os ativistas (até “anarquistas” e “revolucionários” de todos os tipos) votaram no PT e faziam campanha, desesperados, para o fascismo não tomar conta do país, via eleições.

Pois Bolsonaro venceu, assumiu, já perdeu uma grande parte de seu apoio popular, seu próprio partido (PSL) o colocou para fora, a maioria dos governadores e deputados eleitos junto com ele agora lhe fazem oposição, os trabalhadores realizaram uma nova Greve Geral e inúmeras manifestações com milhões nas ruas (contra cortes na educação, em defesa da Amazônia, contra a Reforma da Previdência), e a luta de classes segue firme e forte. Os homossexuais seguem sendo terrivelmente assassinados, mas numa média menor do que nos anos anteriores ao mandato Bolsonaro, os sindicatos seguem suas vidas (a maioria traindo os trabalhadores, tranquilamente), o Congresso está intacto e todas as mentiras do PT mostraram que, mais do que nunca, eles são todos iguais, com os governadores do PT aplicando os mesmos planos neoliberais que o governo federal.

Paralelo a isso, a condição de vida dos trabalhadores está cada vez pior, e o governo Bolsonaro é uma enorme decepção para milhões de seus eleitores e é odiado pela maioria dos trabalhadores. As pesquisas mostram que o governo perdeu ainda mais apoio com a crise do coronavírus. O Fora Bolsonaro cresce a cada dia. E o que faz o PT, novamente? Acaba de ser contra. Só está surpreso quem não conhece o PT ou quem gosta muito de se enganar.

Nesta hora, façamos um parêntesis para dizer que o PT não estava sozinho nesta cruzada para não apoiar o Fora Bolsonaro. Por mais de 1 ano do governo Bolsonaro, o chamado “fascista”, o PSOL e o PSTU, levando junto a central Conlutas, estiveram contra o Fora Bolsonaro. Com argumentos diferentes, mas todos contra uma campanha para derrubar o governo, tendo mudado somente poucas semanas atrás…

Voltando ao PT, este partido defende e seguirá defendendo até o último minuto as instituições burguesas, o calendário eleitoral, a normalidade do Estado e o mandato do “fascista” Bolsonaro, contra as pessoas irem às ruas para derrubá-lo, antes, durante e depois da quarentena. Deve ser o único caso conhecido em que se exige o respeito ao mandato de um regime chamado de fascista…

Fora Bolsonaro/Mourão! Fora Todos! Por um governo direto dos trabalhadores!

O governo Bolsonaro não é fascista. Mas é um governo burguês, que ataca os trabalhadores, e precisa ser derrubado! Não apenas ele, mas todos os governos estaduais, de todos os partidos, inclusive os do PT, e o Congresso Nacional. Os trabalhadores precisam colocar todo este sistema abaixo, e construir um governo dos trabalhadores. As eleições são uma farsa, onde, ganhe quem ganhar, a vida não muda para melhor. Eles são todos iguais e só mudam os nomes e as siglas.

As lições do PT como governo e como oposição não deixam dúvidas: não há saída por dentro do regime democrático-burguês e é necessário construir o poder popular e uma revolução socialista no Brasil, a partir da ação direta nas ruas, com um programa revolucionário e  a organização de trabalhadores da cidade e do campo junto dos estudantes, em comitês populares em cada fábrica, empresa, localidade rural, escola, universidade e bairros.

Lula disse: “Eu tenho alertado o PT para ter paciência, porque nós temos que esperar quatro anos” e “nós não podemos achar que nós podemos derrubar um presidente porque não gostamos dele. Não podemos”. Pois Lula e o PT devem ser enterrados politicamente!

A esquerda revolucionária precisa se dirigir diretamente às massas, para acabar com a influência dos que dizem ser seus representantes e nos pedem calma diante do massacre que vivemos. A hora de lutar não só está madura, como já começa a apodrecer!