Outubro vermelho! Ou rosa? Novembro Negro! Ou azul?

Nos últimos anos, o mês de novembro passou a ser associado à prevenção do câncer de próstata nos homens, e, mais amplamente, a tudo que se refere à saúde masculina, o chamado “Novembro Azul”. Esta data, apesar da utilidade no campo da saúde, e até do debate anti-homofóbico que pode gerar, não vem por acaso. Assim como o “Outubro Rosa” de prevenção ao câncer de mama e pela saúde geral da mulher, estes meses coloridos servem para despolitizar as lutas diretas dos trabalhadores, inclusive as por saúde.

Opressões - 19 de novembro de 2017

Nos últimos anos, o mês de novembro passou a ser associado à prevenção do câncer de próstata nos homens, e, mais amplamente, a tudo que se refere à saúde masculina, o chamado “Novembro Azul”. Muito bom, em se tratando de levar os homens, que tradicionalmente não se preocupam com prevenção. E ainda mais quando é relacionado ao câncer que mais mata entre os homens, sendo que, na maioria das vezes, por preconceito em relação à prevenção, que se dá pelo exame do toque retal, tão rejeitado por, obviamente, também tocar na homofobia e na concepção de que o ânus masculino não pode ser tocado nem por um médico, quanto mais poder dar prazer.

Mas esta data, apesar da utilidade no campo da saúde, e até do debate anti-homofóbico que pode gerar, não vem por acaso. Assim como o “Outubro Rosa” de prevenção ao câncer de mama e pela saúde geral da mulher, estes meses coloridos servem para despolitizar as lutas diretas dos trabalhadores, inclusive as por saúde.

25% dos casos de câncer em mulheres no mundo são de mama, e ele é o que mais mata. O autoexame é muito importante e deve ser feito por todas as mulheres, além de que as entre 50 e 69 anos devem realizar mamografia a cada 2 anos. Mas também é preciso discutir o que faz as mulheres não terem acesso, ou tempo, ou mesmo saúde para procurar prevenção e tratamento. Além de discutir as outras milhares de mortes por feminicídio, abortos ilegais e consequência da pobreza que assola cada dia mais mulheres. Nada disso existe no universo dos “outubros das mulheres”.

Ao invés de lutar para derrubar Temer e o Congresso, que cortam o dinheiro das pesquisas contra o câncer, demitem médicos e sucateiam o SUS e os hospitais, levando milhões de pessoas à morte por falta de exames, de remédios, de cirurgias e de viver mal, por não ter dinheiro nem tempo para se cuidar, a imprensa, os próprios governos e os patrões pintam prédios e cidades de rosa e, depois, de azul, contra “inimigos” comuns, os cânceres, onde todos somos iguais, homens e mulheres, patrões e explorados, agressores e agredidos (as), e a solução é autoexame nos seios para as mulheres e do toque para os homens. Tudo tão simples e consensual…

De lambuja, os meses coloridos riscam do mapa o “vermelho” do outubro das lutas, marcado normalmente pelas greves de inúmeras categorias no Brasil e pelo triunfo da Revolução Russa em 1917, data histórica na libertação de mulheres e homens, que, aliás, acabou de completar 100 anos, sendo que mulheres e homens seguem sem os direitos mais básicos sob o capitalismo, 100 anos depois de os obterem na revolução russa. Da mesma forma, “clareia” o negro do novembro. Este mês que marca a luta de Zumbi e de todos os negros do heroico Quilombo de Palmares, que lutaram até o fim contra a escravidão e a exploração.

Rosas e azuis, os estereótipos das cores que representam “meninas e meninos” também não debatem e muito menos ajudam a lutar pelo direito ao divórcio, ainda negado às mulheres em dezenas de países. Tampouco falam contra a mutilação genital de meninas na África, do tráfico de mulheres e da exploração sexual no mundo inteiro, nem da proibição ao aborto que mata milhares de trabalhadoras em quase todos os países. Nem falam do racismo que extermina negros nas favelas nem da perda de direitos trabalhistas dos mais pobres, em especial mulheres e negros.

Mulheres cada vez mais agredidas, homens cada vez mais pobres, negros cada vez mais mortos de forma violenta e todos os trabalhadores cada vez com menos acesso à saúde; todos saem de outubros e novembros mais chamados a ser rosa junto a todas as mulheres e a ser azuis junto a todos os homens, sem classe nem lutas, convocados a prevenir doenças que o capitalismo multiplica e não garante tratamento. Nós devemos nadar contra a corrente e seguir bradando: nosso outubro será vermelho e nosso novembro é negro, por saúde total, por direitos e pela vida dos trabalhadores!