Operárias ocupam fábrica e fazem greve de fome em El Salvador, contra demissão e para receber salários.

Em julho de 2020, 196 mulheres e 14 homens, operários da fábrica Florenzi, em El Salvador, foram demitidos, sem que fossem pagos seus salários nem direitos trabalhistas. Os donos fecharam a fábrica e pretendiam vender os equipamentos e deixar as trabalhadoras e trabalhadores sem nada. Por isto, elas se organizaram e ocuparam a fábrica, e lá permanecem lutando há 6 meses.

Internacional - 17 de fevereiro de 2021

Em julho de 2020, 196 mulheres e 14 homens, operários da fábrica Florenzi, em El Salvador, foram demitidos, sem que fossem pagos seus salários nem direitos trabalhistas. Os donos fecharam a fábrica e pretendiam vender os equipamentos e deixar as trabalhadoras e trabalhadores sem nada. Por isto, elas se organizaram e ocuparam a fábrica, e lá permanecem lutando há 6 meses.

O fechamento da Industrias Florenzi S.A de C.V, no município de Soyapango, departamento de San Salvador, em El Salvador, foi ilegal desde o início. Não foram pagas as indenizações aos trabalhadores, e os salários e direitos trabalhistas já não vinham sendo pagos. Foi uma demissão em massa, cruel e violenta, colocando centenas de famílias na pobreza, com a alegação da pandemia, que justificou o fechamento da empresa desde 19 de março de 2020. Desde então, os patrões simplesmente pararam de pagar os salários e as contribuições legais obrigatórias (previdência social e recolhimentos trabalhistas)!

Muitos operários e operárias já sofriam de doenças crônicas que precisam de tratamento médico, e o Instituto Salvadorenho de Previdência Social deixou de atendê-los. Alguns trabalhadores também estavam prestes a cumprir o tempo para poderem se aposentar (55 anos para mulheres e 60 para homens), mas isso não será mais possível em razão da perda do emprego, além de que o patrão reteve ilegalmente os pagamentos da previdência desde alguns meses antes.

Sem alternativas, após serem comunicadas do fechamento da empresa e das demissões de todos em 1º de julho de 2020, as 196 mulheres e 14 homens que trabalhavam para a fábrica decidiram ocupar a fábrica, o que fizeram desde 8 de julho. Há 6 meses, eles protegem as máquinas e demais bens, evitando assim que o empregador deixe o imóvel vazio, sem qualquer garantia de pagamento às dezenas de trabalhadores que estão sem receber nada em todo este período.

É urgente exigir o pagamento imediato de todos os salários atrasados, de 100% de indenização pela demissão e que todos os benefícios legais sejam pagos. A maioria dos funcionários trabalha na fábrica há mais de 25 anos, e muitas mulheres são chefes de família, mães solteiras e com idade superior a 50 anos, com doenças crônicas ou com alguma deficiência. Ou seja, com poucas chances de conseguir outro emprego formal, ainda mais diante da crise econômica pela qual passa El Salvador.

O governo de El Salvador é cúmplice desta agressão a mais de 200 operárias e operários, e o ministro do Trabalho e Previdência Social, Rolando Castro, não tomou nenhuma medida em defesa dos direitos dos trabalhadores. Em diferentes ocasiões, em suas contas oficiais nas redes sociais, em conferências de imprensa e em entrevistas de rádio e televisão, o ministro do Trabalho afirmou que “não iria permitir uma única demissão nesta crise” e que iria “processar todos os empregadores que aproveitam a situação”. Mas, na verdade, ele protege os interesses dos patrões e o governo de El Salvador mostra que é inimigo dos trabalhadores, das mulheres e de quem mais é vítima da crise da capitalista e dos efeitos da pandemia.

As operárias de Florenzi foram deixadas por sua própria conta, e não foi decidido nada sequer em relação às ações judiciais movidas na Justiça do Trabalho para requerer a apreensão preventiva dos bens das Indústrias Florenzi SA de CV, para pagar os trabalhadores. Por isto, as trabalhadoras realizaram a “Jornada de Luta e Solidariedade com as Mulheres Organizadas na Resistência de Florenzi”, com atos, manifestações e, agora, o início de uma greve de fome.

Nós nos somamos à luta destas mulheres e homens que não têm mais nada a perder. Exigimos:

1- O pagamento de indenizações de 100% sobre os salários não pagos, horas-extras, férias, 13º, gratificações e outros direitos devidos pela Industrias Florenzi.

2- Que o patrão, Sergio Pineda, seja processado e condenado por violação de direitos trabalhistas e retenção de impostos.

3- Que os juízes do trabalho que analisam o caso agilizem o processo judicial, concedam as medidas cautelares ou apreensão preventiva dos bens para pagar os despedidos.

4- Que acabem as intimidações e perseguições por parte da Polícia Nacional Civil e que esta se limite a dar segurança aos manifestantes, e não amedrontar ou perseguir quem está na fábrica.

5- Que o ministro Rolando Castro seja destituído do cargo de Ministro do Trabalho por não atuar de acordo com a lei, agindo de forma preconceituosa junto aos patrões, prejudicando a classe trabalhadora.

6- Que o Estado salvadorenho seja apontado como violador dos direitos humanos por ter abandonado 210 pessoas (em sua maioria mulheres) que tinham direito ao trabalho, saúde, moradia, seguridade social, uma vida livre de violência contra a mulher, alimentação, liberdade sindical, proteção da família e uma vida digna.

7- Que todas as instituições encarregadas da defesa dos direitos humanos e do trabalho atuem e intervenham para resolver este problema que tende a se agravar.