ONU reconhece que esta crise é maior que a de 2008! Argentina, Brasil e México serão gravemente afetados!

A ONU alerta que o coronavírus trará um "impacto econômico sem precedentes" para os países emergentes e que esse bloco necessitará de US$ 2,5 trilhões! Alguns dos paísesmais afetados serão Brasil, o México e a Argentina, 3 maiores economias “emergentes” da América.

Mundo - 30 de março de 2020

                A ONU alerta que o coronavírus trará um “impacto econômico sem precedentes” para os países emergentes e que esse bloco necessitará de US$ 2,5 trilhões! Alguns dos paísesmais afetados serão Brasil, o México e a Argentina, 3 maiores economias “emergentes” da América.

            Estes graves efeitos serão resultado da soma de: a) queda do preço de commodities; b) fuga de capital; c)queda de comércio exterior; e d)problemas de financiamento.

           Os dados fazem parte de um informe publicado hoje, dia 30/03/20 pela Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que aponta que a “velocidade com a qual as ondas de choque econômico da pandemia atingiram os países em desenvolvimento é dramática, mesmo em comparação com a crise financeira global de 2008”.

             Um dos pontos destacados pelo informe é a fuga em massa de capital das economias emergentes. Temendo instabilidade, investidores retiraram seus ativos de locais de risco e aplicaram em locais mais seguros. Apenas em um mês, entre fevereiro e março, US$ 59 bilhões deixaram esses mercados emergentes. “Isto é mais do dobro das saídas experimentadas pelos mesmos países na sequência imediata da crise financeira global de 2008”, disse. Naquele momento, a fuga foi de US$ 26,7 bilhões. Apenas no Brasil, entre 21 de fevereiro e 20 de março, os investidores não-residentes no país retiraram da economia mais de US$ 7 bilhões.

               Um dos efeitos desta saída de enormes quantidades de dólares foi a desvalorização das moedas dos emergentes, de até 25%, desde o início deste ano. Novamente, tal perda foi mais rápida que os primeiros meses da crise financeira global iniciada em 2008. Os países ais afetados pela desvalorização de suas moedas no mundo inteiro foram, nesta ordem, México, Rússia e Brasil, todos com quedas de mais de 20% em suas moedas desde o começo da crise.

Valor dos produtos desmorona e exportações também cairão em quantidade.

             Outro impacto que será duramente sentido nos países dependentes de exportações, como Argentina, Brasil e México se refere aos preços das commodities. Muitos emergentes dependem fortemente desses recursos para suas divisas, e a queda global dos preços das commodities foi de 37% este ano. No setor de metais, a contração seria de 18%, contra 6,8% na agricultura. Algodão teve retração de 22%, açúcar de 15% e a soja de 7%.

             Mas esta é apenas a primeira parte do problema – a queda dos preços. Mas além de vender os produtos mais baratos, os exportadores venderão menos. A ONU estima que as exportações dos países emergentes vão despencar, mesmo com o pacote de resgate da economia chinesa.

               “As perdas no volume das exportações serão agravadas pelas quedas acentuadas nos preços da energia e das matérias-primas, que ainda constituem a maior parte dos bens que muitos países em desenvolvimento exportam” e “No total, projetamos que os países em desenvolvimento como um todo (excluindo a China) perderão quase US$ 800 bilhões em termos de receitas de exportação em 2020”, escreve a ONU. “Embora as importações (também) se contraiam, em cerca de US$ 575 bilhões, a queda global da balança comercial de cerca de US$ 225 bilhões não é isenta de conseqüências para suas necessidades de desenvolvimento, seus planos de transformação estrutural e sua capacidade de gerar produção e capacidade de continuar a enfrentar compromissos financeiros externos”.

                A falta de produtos importados vai fazer fábricas pararem e levar à inflação. A queda das exportações vai multiplicar o desemprego e acabar com a arrecadação de impostos. E, entre uma coisa e outra, ainda haverá US$ 225 bilhões a menos nas economias destes países chamados de emergentes.

                A realidade é que, para a cúpula da ONU, a situação econômica vai sofrer uma forte deterioração. “As consequências econômicas do choque são contínuas e cada vez mais difíceis de prever, mas há indicações claras de que as coisas vão piorar muito para as economias em desenvolvimento antes de melhorarem”, disse o secretária-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi.

Pior que 2008: não há previsão de melhora nem em 1 nem em 2 anos.

                O relatório mostra que nos dois meses desde que o vírus começou a espalhar-se para além da China, os países em desenvolvimento sofreram um enorme golpe em termos de saídas de capital, crescentes spreads de títulos, desvalorizações da moeda e perda de receitas de exportação, incluindo a queda dos preços das mercadorias e a diminuição das receitas turísticas. De acordo com a ONU, em diversos setores, o impacto econômico tem sido mais profundo do que em 2008, com a quebra dos bancos. Naquele momento, a crise começou já a ser superada 2009 e 2010. Desta vez, a ONU não aposta em uma recuperação no mesmo ritmo.

                A ONU destaca que, nos últimos dias, as economias avançadas e a China têm reunido enormes pacotes governamentais que, de acordo com o G20, irão garantir US$ 5 trilhões. “Isto representa uma resposta sem precedentes a uma crise sem precedentes, que atenuará a extensão do choque física, econômica e psicologicamente”, admitiu a ONU. A entidade estima que tais pacotes podem reverter até 2% da queda na produção global. Mas, mesmo assim, a economia mundial entrará em recessão, com uma previsão de perda de renda global na casa dos trilhões de dólares.

                “A falta de capacidade monetária, fiscal e administrativa para responder a esta crise, as consequências de uma pandemia sanitária combinada e de uma recessão global serão catastróficas para muitos países em desenvolvimento”, segundo o relatório da ONU.

A entidade geral do capitalismo sugere uma estratégia em quatro frentes para salvar o capitalismo de sua maior crise:

a) Disponibilizar uma liquidez de US$ 1 trilhão, que devem ser “despejados” nas economias;

b) Perdoar dívidas das economias em dificuldades, citando até mesmo o perdão à parte da dívida alemã depois da Segunda Guerra Mundial. Esta medida seria fundamental, pois “O montante total da dívida soberana devida no final de 2021 é de US$ 2,7 trilhões (US$ 1,62 trilhão em 2020 e US$ 1 trilhão em 2021).” e os países mais pobres não teriam a mínima condição de pagar estes valores ao mesmo tempo em que suas economias afundam;

c) Plano Marshall – A ONU também pede o destino de US$ 500 bilhões para financiar os serviços de saúde de emergência e programas de assistência social nos países mais pobres. Isso, na avaliação da entidade, deveria constituir uma espécie de Nova Plano Marshall, plano do capitalismo de reconstrução após a 2ª Guerra Mundial;

d) Capital – A ONU também sugere controles de capital para reduzir o ritmo das saídas de capital, reduzir a falta de liquidez.

                Ou seja, todas são medidas pedindo mais intervencionismo estatal, contrariando as teses neoliberais recentes, que defendiam medidas de austeridade e privatizações. Agora, diante da crise, o “mercado” e a burguesia mundial pedem socorro ao Estado.

Crise dentro da crise! O capitalismo mata!

                Não há solução duradoura para esta crise por dentro do capitalismo. As forças produtivas do sistema já estão saturadas e a superprodução não pode ser resolvida sem quen haja enorme destruição antes, por meio de guerras ou de uma pandemia global de grandes proporções. Neste sentido, o capitalismo pula de uma crise à outra, momentos de recuperação só anunciam uma nova queda, e são grandes desastres humanitários como os que vivemos agora que, contraditoriamente, depois de destruir muito podem permitir voltar a crescer um pouco.

                Mas isto tudo é muito limitado, e uma nova crise ainda pior virá na frente, como mostra a história através das crises de 1929, décadas de 70 e 80, 2008 e, agora, 2020. Na verdade, a crise de 2008 sequer terminou, e se estende ininterrupta há 12 anos, mesmo que tenha havido uma aparente pequena recuperação em alguns destes 12 anos, que serão, agora, seguidos de mais 2 ou 3 anos, no mínimo, de uma “crise dentro da crise”.

            A única saída para interromper esta crise é através de medidas que o capitalismo não pode adotar, sendo as mais fundamentais delas a expropriação da burguesia, o não-pagamento das dívidas públicas, a planificação econômica e a o controle dos trabalhadores sobre a produção.  Só assim se pode interromper esta crise e impedir outras, libertando a maioria da humanidade de pagar cada vez mais caro para manter um modo de produção em crise terminal.

              Estas medidas só serão adotadas rompendo com os governos e instituições que hoje comandam a “resposta à crise”. É urgente exigirmos medidas de cada um deles, mas, paralelamente, organizar suas derrubadas e construção de uma saída dos próprios trabalhadores e explorados.