O combate à exploração capitalista e ao machismo só podem existir juntos!

O capitalismo é um sistema de morte. E que degrada moralmente as pessoas, incluindo a classe trabalhadora, que reflete ou reproduz os seus vícios, preconceitos e ideologia reacionária. Neste sentido, toda organização tem o dever de, permanentemente, combater isso, externa e internamente. O machismo não é imune aos militantes, muito pelo contrário

Opressões - 6 de junho de 2017

 

No momento em que o capitalismo passa pela mais profunda crise de sua História, os trabalhadores do mundo todo reagem, e enfrentam os ataques dos diferentes governos, protagonizando um número inédito de greves, lutas e revoluções. Governos são derrubados e o poder operário e popular é forjado nas barricadas e ações diretas nas ruas. Só a revolução socialista pode libertar a humanidade da exploração e da opressão e nenhuma conquista pode ser obtida sem a destruição do capitalismo.

Neste sentido, nunca houve tantas agressões às mulheres como neste momento. O número de estupros registrados em SP em março deste ano cresceu 15,7% comparado a um ano atrás. Ao mesmo tempo, os governos miram suas armas especialmente contra os setores oprimidos, como as mulheres, alvos prioritários, por exemplo, das reformas trabalhista e da Previdência. Inicialmente propostas pelo governo Dilma, um governo machistas do primeiro ao último dia, que governou junto com os setores religiosos fundamentalistas e do agronegócio, empreiteiras e banqueiros, justamente aqueles que sempre sustentaram a violação dos direitos, a apropriação dos corpos e a supereploração das mulheres, estas medidas hoje são o centro da atuação de Temer, vice de Dilma, e que se dedica a continuar a execução de suas políticas.

CUT, CTB, UNE, PT, PCdoB e todos os demais governistas que sustentaram Dilma e os patrões são culpados pela proibição do direito ao aborto seguro, público e gratuito, assim como da violência sexual e da crise social e econômica que se abateve sobre todos os trabalhadores, mas principalmente contra as mulheres, as primeiras a serem demitidas na crise, e que tiveram pensões do INSS, abono do PIS, parcelas do seguro-desemprego e agora, aumento da idade de aposentadoria. São estas correntes, direção majoritária do movimento feminista, que se calaram diante de todas as pautas das mulheres, disputando cargos e parte do butim da corrupção, com verbas de repasses públicos. Graças a estes partidos e correntes, hoje é possível que haja o governo Temer e seus ataques às mulheres.

Neste meio tempo, o MRS tem o orgulho de ter combatido, desde sempre, cada medida e todo governo que atacou as mulheres. Fomos linha de frente na luta pela legalização do aborto, contra a violência e a misoginia, e resistimos às bombas da Força Nacional de Dilma e, agora, de Temer, por estas bandeiras. Foi assim também em cada sindicato, oposição, movimento popular e estudantil em que atuamos. Nunca vendemos a defesa da vida das mulheres por cargos ou aparato. E jamais entendemos que só a luta contra o machismo poderia obter qualquer vitória. Sem o fim do capitalismo, qualquer pseudo defesa do feminismo não passa de uma grande ilusão.

No entanto, tampouco é possível qualquer luta séria contra o capitalismo e pelo fim da exploração sem o combate radical ao machismo! As correntes stalinistas sempre menosprezaram a defesa das mulheres e dos oprimidos como algo secundário, quase irrelevante diante da suposta luta pelo socialismo – que nunca travaram de verdade. Para nós, alegar a defesa do socialismo ou da revolução, mas ignorar ou mesmo não encarar como a prioridade da nossa luta a defesa das mulheres, LGBTs e negros, contra a opressão, é uma hipocrisia e uma incoerência irremediável. Nós não admitimos nem toleramos que se discurse sobre acabar com os ataques que os trabalhadores sofrem e ser agente, cúmplice ou omisso diante deles quando se passam diante da vida de cada militante.

O capitalismo é um sistema de morte. E que degrada moralmente as pessoas, incluindo a classe trabalhadora, que reflete ou reproduz os seus vícios, preconceitos e ideologia reacionária. Neste sentido, toda organização tem o dever de, permanentemente, combater isso, externa e internamente. O machismo não é imune aos militantes, muito pelo contrário. E temos que responder a ele com formação política, discussões abertas e explícitas, sem tergiversações, com medidas educativas, mas, também, com sanções, punições e dureza. Educando ou sancionando, o fundamental é agir! E não diminuir nenhuma agressão nem a dor de nenhuma companheira.

Por isso, somos solidários à companheira Luma, de Belém do Pará, e repudiamos incondicionalmente as manifestações de J., militante de nossa organização, e pai do filho da companheira. Suas manifestações em redes sociais e em contato com a companheira foram machistas e agressivas, e não podemos permitir que isso ocorra.

Aliás, ponto importante: o militante dedicado, o namorado gentil, o colega simpático: todos podem ser machistas; e devem ser combatidos quando cometerem qualquer manifestação ou agressão! Mas, se o machismo é terrível na sociedade como um todo, ainda que devamos compreender sua relação com a estrutura geral do modo de produção capitalista, ele é incompatível com a militância em nossas fileiras. Por isso, o companheiro está afastado por tempo indeterminado.

É típico da lógica formal acreditar em mártires e em vilões. Acreditamos que as pessoas estão sujeitas a contradições e a pressões, e a dialética refuta o maniqueísmo do “bom” e do “mau”. Não negamos, portanto, todos os méritos do companheiro. Mas, diante da postura evidentemente machista e opressora diante da mãe de seu filho, não há dois lados nem neutralidade. Somos completamente solidários à companheira e totalmente contrários à atitude do companheiro, incompatível com a militância em nossas fileiras.

Este, infelizmente, não foi o primeiro nem será o último episódio de machismo na esquerda. Foi da esquerda, inclusive, que nasceu o governo Dilma, uma mulher, em que mais se mataram índios e os negros e mulheres não tiveram direito nenhum atendido. Nos sindicatos, movimento estudantil e em cada espaço, vemos reproduzir-se estas práticas misóginas e de opressão. Não vamos mudar nada disso nos calando, nem diminuindo a gravidade de nenhum caso. Cada situação destas é inadmissível e temos que levar até às últimas consequências!

Tampouco se pode achar que esta luta será fácil, que se resume a algum militante ou setor em particular. É uma luta de todas as mulheres e de todos os que querem um mundo diferente, sem exploração nem opressão. E precisa ser travada em conjunto! Contra cada agressão! E contra o sistema todo! Lutas combinadas e inseparáveis. Contra a causa de toda opressão e toda a miséria que a classe trabalhadora vive e só se agrava. A revolução socialista é a única saída para impedir que o machismo siga vencendo e se perpetuando. Não há capitalismo sem machismo! Nem há luta revolucionária com ele. Da nossa parte, não passará!