No capitalismo, o esporte reflete o machismo, o racismo e a LGBT+fobia!

As Olimpíadas de Tóquio 2020 acabaram, mas são um símbolo de muitos aspectos do capitalismo. O maior evento esportivo do mundo ocorreu com um ano de atraso, em razão da pandemia destruidora de Covid-19, mas as multinacionais, entidades e governos que controlam o evento não permitiram que elas fossem canceladas. Retomadas em 1896 sob o lema de que “o importante é competir”, as Olimpíadas, outra vez, foram um espelho da sociedade, com machismo, sexíssimo, racismo, exploração capitalista sobre atletas, abuso psicológico em nome dos lucros de anunciantes e o principal: o desprezo pela vida em nome do dinheiro.

Opressões - 16 de novembro de 2021

As Olimpíadas de Tóquio 2020 acabaram, mas são um símbolo de muitos aspectos do capitalismo. O maior evento esportivo do mundo ocorreu com um ano de atraso, em razão da pandemia destruidora de Covid-19, mas as multinacionais, entidades e governos que controlam o evento não permitiram que elas fossem canceladas. Retomadas em 1896 sob o lema de que “o importante é competir”, as Olimpíadas, outra vez, foram um espelho da sociedade, com machismo, sexíssimo, racismo, exploração capitalista sobre atletas, abuso psicológico em nome dos lucros de anunciantes e o principal: o desprezo pela vida em nome do dinheiro.

Durante as Olimpíadas, mesmo com restrição de público nos eventos, o resultado foi óbvio: no Japão, aumentaram os casos de Covid-19 e as mortes. O dinheiro nunca dorme, dizem os burgueses… Enquanto pessoas morriam sem ar pelo coronavírus, atletas eram obrigadas a competir sem reclamar, em nome dos patrocinadores, mesmo com dores, sob assédio e após passarem por violência e abusos psicológicos e sexuais, como denunciado pela melhor ginasta do mundo, Simone Biles.

Mas a luta dos explorados e oprimidos também acontece nesta arena olímpica, seja através das denúncias do movimento LGBTQIA+; da reivindicação do uso do pronome neutro; dos protestos antirracistas; do apelo pelo fim da intolerância religiosa; e pela liberdade de escolha dos trajes esportivos. As Olímpiadas chegaram escancarando: a opressão também existe no esporte. Não se descola o esporte da sociedade: ele faz parte dela, é um recorte. E as mulheres são as protagonistas deste marco de denúncia e resistência contra esta situação.

Jogadoras das seleções da Grã-Bretanha, Chile, Estados Unidos, Suécia e Nova Zelândia ajoelharam-se em protestos antirracistas antes do início das partidas de futebol. Marta, a melhor futebolista do mundo por seis vezes, jogadora da seleção brasileira, no jogo de estreia do futebol feminino contra a China, fez dois gols dedicando-os à esposa, Toni Deion. 

A narradora Natália Lara ao citar a substituição da jogadora Quinn, da seleção canadense de futebol, explicou que Quinn é uma pessoa transexual não binária. O comentarista Conrado Santana complementou com pronome neutro: “Elu jogou muito bem”.

Entretanto, a sexualização do esporte feminino é o que ganhou os holofotes da mídia. O assunto veio à tona depois do infeliz episódio que ocorreu com as jogadoras da seleção de handebol de praia da Noruega. Ao se recusarem a jogar o campeonato usando biquíni, foram punidas com multa no valor de R$ 9,2 mil (1.500 euros). As jogadoras optaram por competirem de shorts, o que vai contra o regulamento da competição. A Federação de Handebol de Praia Europeia emitiu um comunicado através da comissão disciplinar afirmando que as roupas seriam “impróprias”.

O debate em torno das roupas de atletas mulheres não é novidade. A discussão sobre a erotização do uniforme feminino é antiga e volta e meia retoma os grandes debates, mas sem efeitos práticos. Sem mobilização para o fim da conotação sexual aos uniformes, sequer são mulheres que decidem sobre o traje.

Em 1900, a tenista Charlotte Cooper levou a primeira medalha de ouro feminina numa Olímpiada, utilizando vestidos e saias longas e golas fechadas, seguindo o padrão imposto à época, bem distante das vestimentas curtas utilizadas atualmente nas quadras. A tenista multicampeã Serena Williams, inclusive, foi alvo de críticas ao utilizar um macacão preto longo, que violava os códigos atuais de vestimenta.

Há pouco tempo, a jogadora de basquete Magic Paula concedeu uma entrevista relatando que os famosos macaquinhos colados ao corpo eram incômodos, desconfortáveis para as atletas do basquete. O mesmo macaquinho também agitou o time de vôlei em 2005, apelidado de ‘É o tchan” em referência às dançarinas do grupo. À época, a atleta Leila ironizou a exigência, como se as roupas remetessem a uma fantasia erotizada: “Com essa roupinha que eles bolaram, só vai faltar entrar em quadra de botinha e chapéu de caubói”. Em 2012, nas Olímpiadas de Londres, dirigentes debateram incluir a saia como uniforme oficial do boxe feminino nos Jogos, o que foi chamado de machismo por pugilistas.

Porém, em Tóquio 2020, este protesto ganhou ainda mais repercussão. As atletas deixaram um recado para os milhares de telespectadores: “não à sexualização do esporte feminino; sim ao direito de escolha do que usar”, apesar de não serem apoiadas sequer pelas próprias Federações e Comitês, formados em sua maioria por homens, brancos e burgueses. O sistema capitalista oprime as mulheres e explora os corpos das atletas, utilizando-se do esporte para exibicionismo do corpo feminino como meio para obter ainda mais lucro.

A luta é o único caminho! Serena Williams conseguiu o direito de vestir a roupa que escolheu. As atletas norueguesas conseguiram o direito de usar seus shorts. Simone Biles saiu ainda maior das Olimpíadas, não com tantos ouros no peito, mas sendo a voz de milhares de mulheres ao redor do mundo, na luta contra o estupro, o abuso sexual, o assédio moral e as exigências capitalistas de ter que fazer sucesso a qualquer custo, suportar tudo e gerar dinheiro para quem já tem muito dinheiro.

O que está por trás dessas vitórias e das exigências destes movimentos é a reivindicação de um olhar do corpo da mulher como atleta, e não a exploração de uma beleza para satisfazer o olhar masculino. A questão não é o tamanho da roupa em si; a luta das mulheres esportistas é pelo direito de escolha do traje esportivo, seja calça, short, biquíni ou maiô. Não é moralismo tampouco retrocesso. A luta é pelo fim da mercantilização da mulher, neste caso expressa na sexualização dos uniformes, que objetificam e vendem os corpos femininos como produtos disponíveis em prateleiras de um mercado.

As atletas representam a realidade das mulheres, que não suportam mais a exploração do capitalismo e da burguesia, e da exposição pelos meios de comunicação, que exibem os corpos femininos como forma de alavancar a audiência, e arrecadar ainda mais dos patrocinadores, à medida que estes lucram bilhões com a sexualização do esporte feminino.

Estes Jogos Olímpicos mostraram que no capitalismo, “o importante é explorar”! Mas também deixaram um legado histórico: não existe mais espaço para o silêncio na exploração do corpo da mulher. A primavera feminista ganha cada vez mais força e as mulheres não se calarão mais!