Na contramão: centrais sindicais são contra chamar atos de protesto!

No meio da pior pandemia mundial em um século, e da maior mortandade de pessoas no Brasil desde a chegada dos europeus, ninguém gostaria de se expor nas ruas, quando deveríamos poder exercer nossa quarentena e resguardar nossas vidas. No entanto, infelizmente, os governos e instituições como a polícia e o Congresso, em diferentes países, não deixam de assassinar negros inocentes, reduzir salários e aumentar nossa jornada.

Nacional | Sindical - 6 de junho de 2020

                No meio da pior pandemia mundial em um século, e da maior mortandade de pessoas no Brasil desde a chegada dos europeus, ninguém gostaria de se expor nas ruas, quando deveríamos poder exercer nossa quarentena e resguardar nossas vidas. No entanto, infelizmente, os governos e instituições como a polícia e o Congresso, em diferentes países, não deixam de assassinar negros inocentes, reduzir salários e aumentar nossa jornada.

                Diante disso, independente de não querermos esta situação, não nos resta alternativa senão lutar, e o único terreno real da luta dos trabalhadores é nas ruas!

                No entanto, centrais sindicais como a CUT e CTB, assim como os partidos que as controlam – PT e PCdoB -, votaram por não participar de nenhum ato de rua, alegando que isso pode cutucar o governo Bolsonaro, a quem temem e tremem desde antes de sua posse, alegando que não poderíamos mais fazer luta alguma. Apesar deste derrotismo, os trabalhadores realizaram manifestações com milhões nas ruas em 15 e 30 de maio de defesa da educação, uma Greve geral em junho e enormes manifestações em defesa da Amazônia logo em seguida, além das incontáveis greves e protestos durante todo o 1º ano do mandato de Bolsonaro.

                Agora, quando o governo mais está fraco e perde popularidade a cada dia, as centrais sindicais vêm em seu socorro e dizem para os trabalhadores cruzarem os braços diante dos ataques e não saírem de casas para lutar. Estes mesmos partidos, PT e PCdoB, no entanto, onde são governo, como no Maranhão, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte; permitem abertura de lojas, comércios populares, shoppings e aglomerações de todo tipo. Para todos os partidos, sair de casa para trabalhar, pode. Pra protestar, não.

                Infelizmente, até mesmo a Conlutas, central que construímos, e que é controlada pelo PSTU e correntes do PSOL, foi contra chamar a luta nas ruas. Em reunião neste dia 5 de junho, nós do MRS apresentamos uma resolução que defende a necessidade de se somar às lutas que já estão existindo n Brasil, que contagia o mundo e que devem ser disputadas e convocadas pelos setores revolucionários.

                No entanto, tal resolução foi derrotada por 22 votos contra 2, sendo a favor apenas o representate do MRS e o da CST (corrente do PSOL). Todas as demais correntes do PSOL, setores como o sindicato nacional de professores universitários (ANDES/SN) e principalmente o PSTU foram contra mobilizar os negros, as mulheres, o movimento popular, a juventude e todos os trabalhadores, alegando que este não é o momento para isso.

             Segue abaixo nossa resolução, submetida ao debate 2 dias antes, ainda sem a atualização dos dados de mortes e infectados (que passaram de 31 mil para 35 mil mortos, igualando em pouco mais de 2 meses o número de mortos em 2 anos da gripe espanhola no Brasil).

                Aos revolucionários cabe apontar a direção às massas e estar junto delas em lutas decisivas como esta, e não atrás delas, no máximo aceitando ser arrastados “a reboque” quando talvez o destino da luta já estivesse perdido. Perdemos a votação; mas ganharemos as ruas!

“Lutar é serviço essencial!

Considerando que:

  1. Vivemos uma pandemia terrível que já provocou mais de 31 mil mortos no Brasil, que se aproxima do 2º lugar mundial em número de mortos, com o Brasil já sendo o triste 1º lugar do ranking diário de mortos há mais de uma semana.
  2. Em razão de não haver vacina, cura, tratamento específico e nem sequer trabalhadores da saúde suficientes, nem hospitais, leitos e sequer respiradores e EPIs, a quarentena é fundamental para conter o contágio e “achatar a curva” de doentes precisando de cuidados.
  3. A quarentena, no entanto, precisa ser remunerada para que haja condições dos trabalhadores adotarem a medida e ficarem em casa. Sem renda garantida pelo governo e estabilidade no emprego sem redução de salários, as pessoas têm necessidade de sair de casa para obter mais recursos, e não é possível apenas insistir que elas fiquem em casa.
  4. Há cerca de 80 milhões de brasileiros desempregados, desalentados, subempregados, informais ou MEIs; todos devendo ter o direito de receber o auxílio-emergencial. No entanto, menos de 60 milhões de brasileiros foram aprovados para receber o auxílio, sendo que há mais de 100 mil militares aprovados irregularmente e outras fraudes no meio destes números, aumentando ainda mais o número do que deveriam receber o auxílio e até agora sequer foram aprovados.
  5. O período de recebimento do auxílio, por apenas 3 meses, é absolutamente impossível de garantir a sobrevivência das famílias mais pobres.
  6. O valor de R$ 600 é completamente insuficiente, e, caso o beneficio seja estendido, pode ser num valor ainda menor.
  7. Enquanto os trabalhadores são chamados a ficar em casa, mas não recebem nenhuma condição para poder exercer seu direito à quarentena, a pressão de empresários faz com que todos os governadores e o governo Bolsonaro, apesar de divergências nos discursos, estejam promovendo a reabertura de toda a economia. Todos eles saco culpados. Governadores de todos os partidos falam em quarentena, mas abrem shoppings, lojas, bancos, fábricas e cada vez mais atividades.
  8. O Congresso e o governo Bolsonaro seguem com suas pautas de ataques aos trabalhadores, sem nenhuma resistência nas ruas, como na aprovação das MPs que reduzem salário, congelam reajustes de servidores públicos, impõem aumento da jornada de trabalho bancário, etc.
  9. Na prática, a polícia segue matando jovens negros, até mesmo dentro de suas casas; os bolsonaristas seguem reinvindicando medidas autoritárias e anti-povo em suas manifestações; e o trabalho já está – de modo criminoso e absurdo – sendo retomado em todas as esferas. A quarentena que queremos não é efetivada; e a “quarentena” dos governos, cada vez mais, vai servindo de argumento apenas para impedir que saiamos à luta.
  10. Milhões de trabalhadores nunca tiveram quarentena, pois são de serviços essenciais (saúde, segurança, alimentação, indústrias, supermercados, farmácias, combustíveis, bancos, transporte, imprensa…) e praticamente todos os demais estão sendo obrigados a retornar agora, apesar de sermos contra este retorno.
  11. Se nos mandam às ruas para trabalhar, podemos e devemos ir às ruas também para lutar!
  12. Já surgiram, de modo mais ou menos espontâneo, contramanifestações para se opor às atividades bolsonaristas. Estes atos, inicialmente chamados por alguns setores de torcidas organizadas e grupos denominados antifascistas, já ocorreram em mais de uma oportunidade e estão recebendo a adesão de cada vez mais cidades e ativistas.
  13. Em Manaus, uma das cidades mais devastada pela pandemia, ocorreu uma enorme manifestação com eixos políticos ainda mais avançados, em torno da bandeira de Fora Bolsonaro, com ações para garantir a sobrevivência dos trabalhadores e combater a pandemia.
  14. Estes atos tendem a se generalizar junto com a generalização das dívidas, falta de dinheiro e polarização social cada vez maior à medida que a pandemia e a crise se prolongam.
  15. Nos EUA, país com recorde absoluto de casos de Covid (quase 2 milhões!) e assolado pela maior tragédia mundial da Covid-19, com mais de 108 mil mortos, dezenas de milhares de pessoas saem às ruas em todos os lugares para protestar contra o racismo, apesar do risco de contágio. Isso acontece porque não se pode controlar o momento em que policiais brancos vão torturar e matar um negro, nem se pode ficar de braços cruzados em casa esperando a pandemia passar (sabe-se lá quando) para poder reagir.
  16. Na França, multidões saíram às ruas em memória de George Floyd e contra o racismo na França e no mundo inteiro. E isso também ocorreu no Reino Unido, Holanda, África do Sul e inúmeros países numa onda mundial de lutas.
  17. No Líbano, já há mais tempo, as massas retomaram um processo insurrecional de lutas nas ruas, em defesa de suas condições de vida e contra o governo.
  18. No Brasil, a crise política do governo Bolsonaro nunca foi tão grande (com o Congresso, o STF, a imprensa, ex-ministros, etc.), sua popularidade nunca foi tão baixa e o momento é o mais propício e necessário para que haja lutas para derrotar este governo e seus ataques.
  19. Só a luta muda a vida e a classe trabalhadora e a juventude nas ruas são o elemento que falta para destravar o processo de derrubada de Bolsonaro, ou, no mínimo, agravar seu enfraquecimento e impedir que tenha condições de seguir nos atacando.

 

Nossa entidade resolve:

  1. Manter a luta pelo direito à quarentena de verdade. Sem reabertura de shoppings, lojas, fábricas, escritórios, academias, igrejas e qualquer outro serviço não essencial ou que propicie a facilitação do contágio.
  2. Exigir medidas ainda mais duras onde a propagação da doença estiver fora de controle e/ou o sistema de saúde já estiver colapsado ou caminhando para isso.
  3. Apoiar a decretação de um lockdown nacional de 30 dias para salvar vidas e frearmos as mortes e contágios recordes.
  4. Intensificar a pressão para que o auxílio emergencial seja para todos que precisam, incluindo sem burocracia todos os que ainda não tiveram aprovação; estender o pagamento até dezembro; aumentar o valor para R$ 2 mil por mês.
  5. Lutar pela revogação todas as demissões realizadas, com o salário pago pelas empresas ou, em não cumprimento de seus compromissos, a estatização de toda empresa que demitir.
  6. Lutar pela revogação da possibilidade de suspender contratos de trabalho com redução de salários ou diminuir jornadas com mesmo efeito. Vetar qualquer redução de direitos.
  7. Se não garantir o emprego de todos, com mesmos salários e direitos; e sem renda para todos não assalariados; defender que os trabalhadores lutem por sua sobrevivência nas ruas, onde é o terreno da nossa classe.
  8. Reforçar todas as medidas de prevenção e segurança recomendadas e orientar que toda manifestação tente respeitar o distanciamento entre seus integrantes, que todos usem máscaras, etc.
  9. Desta forma, aderir, se somar e convocar todos os atos chamados de antifascistas que ocorram em todas as cidades onde existirem.
  10. Junto a todos os setores dispostos a lutar contra o governo e qualquer medida neoliberal ou autoritária, convocar atos locais onde estes ainda não existam.
  11. Se solidarizar e aderir a todos os atos por lutas diversas dos trabalhadores (uma empresa que feche as portas, um jovem que seja baleado pela polícia, trabalhadores da saúde exigindo condições de trabalho, etc.).
  12. Construir e aderir a atos gerais contra o governo, onde nossa bandeira principal é o Fora Bolsonaro/Mourão, apesar de que estes atos podem ser mais amplos. O fundamental é que nos permitam liberdade e independência política e sejam em torno de bandeiras de luta dos trabalhadores.
  13. Chamar, junto às demais centrais e movimentos sociais, um grande dia de luta e manifestações pelo Fora Bolsonaro/Mourão para o dia 26 de junho.

Se não nos garantem o direito à quarentena, vamos ocupar as ruas por saúde, emprego, direitos e renda!

Vamos parar tudo! Dia 26 é dia de lutar nas ruas! 1 dia de luta para lutar por 30 dias de quarentena de verdade!

Contra a pandemia, dias de luta nas ruas para poder ficar os demais dias se cuidando em casa!

Fora Bolsonaro/Mourão”