Na Argentina, polícia mata manifestante indígena e cria “guerra ao terror” para defender empresários.

Assim como no Brasil, o presidente argentino, Mauricio Macri, ex-peronista e atualmente no partido Cambiemos (Pela Mudança, numa tradução livre), está dia e noite atacando os trabalhadores. Além de cortes no orçamento da saúde, educação e moradia, Macri retira subsídios para os serviços de gás, luz e transporte, fazendo os preços irem às alturas. A última medida proposta pelo governo é a reforma trabalhista, que pode acabar com direitos conquistados ao longo das lutas dos últimos 100 anos na Argentina, precarizando a vida do trabalhador, do mesmo modo que Temer e o Congresso estão fazendo no Brasil.

Mundo - 28 de novembro de 2017

Assim como no Brasil, o presidente argentino, Mauricio Macri, ex-peronista e atualmente no partido Cambiemos (Pela Mudança, numa tradução livre), está dia e noite atacando os trabalhadores. Além de cortes no orçamento da saúde, educação e moradia, Macri retira subsídios para os serviços de gás, luz e transporte, fazendo os preços irem às alturas. A última medida proposta pelo governo é a reforma trabalhista, que pode acabar com direitos conquistados ao longo das lutas dos últimos 100 anos na Argentina, precarizando a vida do trabalhador, do mesmo modo que Temer e o Congresso estão fazendo no Brasil.

Diante de tantos ataques e da perda de popularidade e aumento dos protestos e greves diante destes ataques, Macri apela à violência policial para tentar reprimir as mobilizações, que só crescem e ameaçam seu mandato. Empregados públicos, movimentos populares e trabalhadores em geral recebem tiros, golpes de cassetete e são presos por lutar.

Entre os mais agredidos, são os indígenas, que têm aumentado muito seus protestos, como mais um dos sintomas de que todos os explorados argentinos estão em ascenso e que o tema dos oprimidos (neste caso por sua etnia) estão na vanguarda de muitas das lutas. É este o caso dos mapuches, etnia indígena mais numerosa no extremo sul da Argentina, uma região pouco habitada, mas muito rica em recursos naturais, em água, em terras e como polo turístico. No coração do território mapuche, por exemplo, está Bariloche, que recebe todos os anos milhares de turistas e milhões de dólares em negócios.

Neste choque entre os lutadores e os empresários que especulam com terras e roubam áreas dos indígenas, o governo e o congresso entram para aprovar leis e colocar a polícia armada até os dentes para defender os interesses dos multinacionais. Num destes enfrentamentos, a polícia argentina perseguiu e executou Santiago Maldonado, ativista mapuche, que teve seu corpo desaparecido por meses pela polícia assassina, até que tiveram que fazer “aparecer” seus restos mortais, diante de uma pressão das manifestações, inclusive internacionais, impulsionada a partir da unidade e da enorme luta dos argentinos.

Nem bem a família de Maldonado pôde enterrar seu corpo, outra vítima foi morta! Macri e o governador da região de Bariloche, Alberto Weretilneck, como chefes da polícia genocida que vem massacrando os povos originários, são responsáveis pela morte do jovem de 21 anos Rafael Nahuel. Conforme as muitas testemunhas da execução, após ser baleado, o jovem, que além de mapuche e lutador, era um proletário, trabalhando como marceneiro na indústria moveleira da cidade, pedia, já perdendo sua vida: “ não me entreguem aos brancos”.

Emociona e indigna saber que na Argentina, no Chile, no Peru e em tantos outros lugares da América, os índios ainda sejam caçados e atacados, como foram nos últimos séculos e ainda seguem sendo, inclusive no Brasil. Os mapuches não vivem numa reserva, e são parte da classe trabalhadora. Mas também têm suas demandas por território, por sua ancestralidade e cultura. São vítimas duas vezes, porque o capitalismo os ataca por serem trabalhadores através da exploração e por serem indígenas, por meio da opressão.

Rafael foi morto por balas letais de armas de fogo pelas costas! Os manifestantes, agora, são acusados de serem terroristas, não respeitar os símbolos do país, não aceitarem a constituição e nem se considerarem argentinos. O governo os trata como “inimigos internos” para tentar convencer a maioria da população e aos trabalhadores de que os mapuches não são parte de sua mesma luta, e sim indígenas anti-argentinos violentos e terroristas. Quando não passam de adolescentes e jovens com pedras nas mãos, indefesos, mas combativos e corajosos, que decidiram lutar por seus direitos e sua terra, mesmo que dando sua vida por isso.

Crise do regime e das instituições coloca na ordem do dia o Fora Macri e a unidade de todos os explorados em uma Greve Geral, a serviço de uma saída dos trabalhadores.

Assim como no Brasil, a população argentina, cada vez mais, rechaça os governos, os políticos tradicionais, os partidos do sistema e as instituições como um todo, incluindo a Justiça corrupta, o congresso dos patrões e a polícia assassina. Neste sentido, a agressão aos mapuches teve mais uma questão que gerou crise para o governo. Além do assassinato de Rafael, a polícia feriu outros mapuches, alguns levados aos hospitais, mas outros escondidos nas montanhas de Bariloche, colocando suas vidas em risco e podendo morrer sem atendimento médico, para não serem presos pela polícia, que lhes chama de terroristas. Uma destas feridas, que resolveu se esconder na mata, é Joana Micaela Colhuan, outra jovem, de 22 anos.

O que faz com que o caso seja ainda mais constrangedor para o governo é que Joana é soldado do Exército! A jovem, que é mapuche, por falta de emprego, se alistou como voluntária e trabalhava na “Escola Militar da Montanha”, e agora é acusada pelas Forças Armadas de deserção e de ter aderido às ocupações dos mapuches. É um caso que mostra o quão de massas é a luta dos mapuches na região, e que até mesmo o exército pode ter divisões internas, pois além de mapuches, tem soldados que conhecem e vivem com os indígenas, e recebem ordens para os matar.

Macri e sua ministra de segurança, Patrícia Bullrich, estão contra a parede por mais este caso, e esta é a hora de derrubar a todos. Junto dos cortes do orçamento social, do desemprego em massa e dos ataques em torno da reforma trabalhista – e da Previdenciária que se planeja depois dela – é urgente mobilizar os trabalhadores e sair às ruas para enfrentar diretamente Macri, o congresso e todas as instituições capitalistas na Argentina.

No dia 29/11 está marcada uma grande manifestação nacional e começa a greve geral dos professores. Já houve um primeiro ato contra a repressão aos mapuches e pela liberdade dos que foram e ainda estão presos desta luta. Também há uma nova data, no dia 6/12, marcada para barrar a Reforma Trabalhista.

Ou seja, há muitas lutas e muito fortes. O que falta é unificar todas as demandas dos trabalhadores e dos setores oprimidos, e, além de todas as reivindicações específicas, impor a derrubada de Macri e do congresso, por uma saída dos trabalhadores, através de comitês populares e das organizações dos trabalhadores, que devem ser tomadas das mãos dos burocratas e ser postas a serviço da revolução e da libertação da maioria da população.