LIDERANÇA DO POVO NEGRO É ASSASSINADA NO MARANHÃO, NO QUILOMBO JAIBARA DOS RODRIGUES, ITAPECURU MIRIM, MA.

“A bainha é a lei, a faca é a nossa organização” (Justo Evangelista) NOTA DE SOLIDARIEDADE e REPÚDIO “A história se repete como tragédia ou como farsa.” A célebre frase de Karl Marx na abertura de ‘O 18 de Brumário de Luís Bonaparte’, de 1852, portanto, dez anos depois do assassinato por enforcamento do líder quilombola que comandou a guerra da balaiada, “Negro Cosme”, em Itapecuru-Mirim no Maranhão, ainda que se refira a outros contextos e à conjuntura política diferentes, retrata a realidade de hoje.

Nacional - 1 de novembro de 2023

A bainha é a lei, a faca é a nossa organização”
(Justo Evangelista)

NOTA DE SOLIDARIEDADE e REPÚDIO
“A história se repete como tragédia ou como farsa.”

A célebre frase de Karl Marx na abertura de ‘O 18 de Brumário de Luís Bonaparte’, de 1852, portanto, dez anos depois do assassinato por enforcamento do líder quilombola que comandou a guerra da balaiada, “Negro Cosme”, em Itapecuru-Mirim no Maranhão, ainda que se refira a outros contextos e à conjuntura política diferentes, retrata a realidade de hoje.

O brutal assassinato do líder quilombola José Alberto Moreno Mendes, 47 anos, popularmente conhecido como “Doca”, morto no dia 27/10, no quilombo Jaibara dos Rodrigues, no município de Itapecuru Mirim, mesmo município que “Negro Cosme” foi assassinado, traz para o presente acontecimentos do passado que estamos vivendo novamente. Parece, definitivamente, que o passado foi esquecido e que, como tragédia, ele volta, trazendo impressionantes semelhanças com o presente.

As terras do Maranhão há muitos anos vivem ensopada de sangue quilombola, indígena e camponês.

Segundo dados da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (FETAEMA), José Alberto é o décimo quilombola assassinado no Maranhão entre os anos de 2020-2023. Existindo uma semelhança nos requintes de crueldade quando do cometimento desses crimes.

Ressalta-se que, dos dez assassinatos das lideranças quilombolas, 9 aconteceram na Baixada Ocidental Maranhense, região marcada pelos conflitos por terra. Esses crimes jamais foram elucidados e os executores e mandantes punidos.
Necessário dizer que o governo de Carlos Brandão (PSB), tem uma relação de compadrio com grileiros, latifundiários, empresas do agronegócio, ladrões de terras públicas e milícias armadas, o que sem sombras de quaisquer dúvidas tem provocado uma escalada de violência e morticínio no campo.

Os governos de Flavio Dino/Carlos Brandão (PC do B, agora PSB), escancarou as portas do estado ao agronegócio.

Nos últimos anos o governo maranhense tem superado os recordes de liberação licenças ambientais para o desmatamento, permitindo o uso indiscriminado de veneno, contaminado a terra, as águas e as pessoas, expulsando comunidades inteiras, como aconteceu na comunidade Cajueiro, em São Luís. Essa falsa “esquerda”, trabalha dia e noite em favor dos latifundiários, criminalizando as lutas do povo e suas lideranças por meio do braço armado do Estado ou quando não por meio das infinitas (e)liminares concedidas pelo Poder Judiciário em favor de grileiros.

Apenas para exemplificar, a Baixada Maranhense, local em que 9 quilombolas foram covardemente mortos nos últimos 3 anos, é um exemplo de promiscuidades e ilegalidades. Nessa região, existe quase 2 milhões de hectares de terras públicas, local onde fica a APA – Área de Preservação Ambiental, grande parte dessas terras encontra-se hoje grilada por juízes, desembargadores, delegados de polícia, procurador do estado, políticos de mandato ou seus parentes, que se apropriaram ilegalmente, levantando cercas, criando búfalos, expulsando comunidades inteiras, ou quando não, impedindo-os de terem livre acesso às fontes de água, ao pescado ou quando não matando os animais dos camponeses, principalmente porcos.

Governo põe gasolina no fogo.

No último dia 19, o governador Carlos Brandão, assinou o Decreto nº 38.606, que permite que empresas do agronegócio criem camarão nas áreas de teso da baixada, principalmente nos municípios de Anajatuba, Viana e São Joao Batista. Isso é o prenúncio de mais conflitos agrários nessa região. Por outro lado, faz ouvidos mocos às antigas reivindicações das comunidades pela regularização fundiária dessas terras, retida em definitivo das cercas dos campos e do gado bubalino, conforme determinada a Constituição Estadual.

O território de Monge Belo, onde se situa o quilombo Jaibara do Rodrigues, local em que “Doca” morava com sua família e lavrava a terra, fica numa região disputadíssima pelo agronegócio. Pois, localiza-se próximo aos portos do Itaqui e Madeira na capital São Luís, parte desse território é composto pelos campos inundáveis da baixada, fica às margens da BR 135 e é cortado pela linha férrea Carajás que escoa o minério da empresa internacional Vale.

Solidariedade entre os lutadores e organização popular.

Frente a isso, o Movimento Popular Fóruns e Redes da Cidadania/MA e demais organizações que esta assinam, prestam sua irrestrita solidariedade aos famílias de “Doca”, ao seu quilombo Jaibara dos Rodrigues e a todo o território de Monge Belo. Queremos repudiar o governo do estado do Maranhão por essa política sistêmica de abandono às famílias camponesas, quilombolas, quebradeiras de coco, ribeirinhos e a todos os povos da terra que vivem no estado.
Por fim, queremos conclamar todas as comunidades, quilombos, suas organizações e lideranças a fazermos uma grande retomada das terras que historicamente foram roubadas pelo latifúndio, para fazermos dela local que produza vida, fartura, felicidade e dignidade.

Povo unido e organizado, luta e vence!
Terra para quem nela trabalha.

Maranhão, 30 de outubro de 2023.