João de Deus e Religião

Já são 596 mulheres que denunciaram o charlatão João de Deus, líder espírita e alegado "médium" como estuprador. Além do que podem ser mais de mil casos de abusos sexuais, o criminoso em série é acusado de homicídio, de lavagem de dinheiro, extorsão e posse ilegal de armas, numa sucessão de crimes cometidos sem parar nas últimas décadas.

Nacional - 20 de janeiro de 2019

Estupro e religião: líder espírita João de Deus estupra centenas de fiéis por décadas!

                Já são 596 mulheres que denunciaram o charlatão João de Deus, líder espírita e alegado “médium” como estuprador. Além do que podem ser mais de mil casos de abusos sexuais, o criminoso em série é acusado de homicídio, de lavagem de dinheiro, extorsão e posse ilegal de armas, numa sucessão de crimes cometidos sem parar nas últimas décadas.

                Depois que a corajosa coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus fez a primeira denúncia, e que outras valentes brasileiras se seguiram a ela, uma avalanche de mulheres se sentiu fortalecida para reportar as barbaridades cometidas contra pessoas que foram e seguem sendo enganadas pelo líder religioso. Num primeiro momento, a delegada responsável pelo caso tentou livrar João de Deus, por quem declarou admiração, e houve pressão política local a favor da liberdade do bandido, que sempre teve suas histórias discutidas na região, mas que era protegido por atrair uma enorme movimentação de turistas e de dinheiro. Mas a “pizza” não deu certo, diante das denúncias que chocaram o país, e a Justiça foi obrigada a decretar a prisão dele, desde 14/12.

                Ainda que seus crimes certamente sejam ainda maiores, de todas a acusações que o líder espírita responde, o Ministério Público e a Polícia Civil abriram processos relativos a estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse ilegal de arma. As mulheres que denunciaram João de Deus ao MP têm entre 9 e 67 anos, vivendo em pelo menos 15 estados brasileiros e outros seis países!

Estuprador, pedófilo, mafioso e charlatão

                Depois de ficar foragido, o fora-da-lei se entregou à polícia em uma estrada de terra em Abadiânia, cidade sede da Casa Dom Inácio de Loyola, a Casa dos Horrores do espiritismo. João de Deus é, além de um estuprador em massa e charlatão religioso, um criminoso perigoso, que contabiliza ameaças à vida e de agressões, e que movimentava uma fortuna. Antes de se entregar, movimentou R$ 35 milhões! Mesmo assim, João de Deus ainda teve R$ 50 milhões em dinheiro e imóveis bloqueados pela Justiça de Goiás, do que ele não conseguiu esconder. A medida foi determinada para ressarcimento das vítimas.

                Apenas em uma mala com dinheiro achada em um porão escondido em uma de suas casas, João de Deus tinha R$ 1,2 milhão! O acesso ao cômodo ocorria por meio de um fundo falso em um armário. No local, também foram apreendidas esmeraldas, que ainda não foram contabilizadas pela corporação, e uma arma ilegal. Também havia medicamentos (que o charlatão, sem formação médica, distribuía a doentes, sem que a Justiça nunca tenha intervindo, apesar disso ser público). Também foram recolhidos euros e dólares. No mesmo esconderijo, foi encontrado um colchão e um cofre vazio, que, anteriormente, com certeza estavam cheios de dinheiro. Em buscas anteriores, policiais já haviam encontrado mais R$ 400 mil em moedas nacional e estrangeiras e armas (revólveres e pistolas) na casa dele. Um mafioso dos pés à cabeça.

                Armas, pedras preciosas e mais de R$ 1,6 milhão apreendidos, e quase mil mulheres tendo sido vítimas de estupros são apenas a ponta do iceberg de uma tragédia que contou com a cumplicidade de policiais, políticos, juízes, imprensa e todos os que sabiam da existência de um charlatão, estelionatário, com um discurso lunático, estava arrecadando milhões de reais de uma multidão, diariamente, através de “tratamentos” e “curas” que não passavam de um mega-golpe.

Casa Dom Inácio de Loyola é um centro de crimes e precisa ser fechada!

                Um dos tantos veículos de imprensa que tratam o estuprador com condescendência, escreveu que o caso “Não se trata de questionar os métodos de cura de João de Deus ou a fé de milhares de pessoas que o procuram.”. Pois é exatamente o contrário! João de Deus pôde estuprar à vontade crianças, adolescentes, mulheres adultas e idosas, sem parar ao longo de décadas, porque foi apresentado ao mundo, aceito e divulgado como “médium”, um ser notável e milagroso com capacidade de se comunicar com seres sobrenaturais. Esta é a base que permitiu os estupros em massa, as ameaças, o roubo e a lavagem de dinheiro. Uma coisa tem tudo a ver com a outra! É por cima da enganação religiosa, do estelionato e do exercício ilegal da medicina, todos elementos de charlatanismo, que João de Deus montou uma quadrilha, da qual era o chefe e cuja sede era sua seita, a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia.

                Incrivelmente, apesar de ser uma cena de crimes sistemáticos e de ter sediado atrocidades sem fim, a Casa dos Horrores do espiritismo segue funcionando, e nem há pedido para suspensão do funcionamento. Ela se mantém extorquindo “pacientes” desesperados por suas doenças e que continuam sendo enganados, vítimas de estelionato e intervenções absurdas, feitas por outros membros da quadrilha de João de Deus, que, aliás, seguirá se beneficiando das fortunas que ainda são achacadas dos fiéis, incapazes de se defender.

                A “imprensa amiga” segue tratando o bandido como “médium”, e cada uma das vítimas como “supostas vítimas”, que “alegam ter sofrido” crimes. Além de defender a continuidade da máquina de crimes que é a Casa Dom Inácio. Tratamento muito diferente do que diariamente ocorre quando jovens negros são mortos em operações policiais, sempre descritos através de notícias como “mais 5 bandidos morrem em confronto com a polícia”. Não escrevem “supostos bandidos”, nem se diz “como alega a polícia”. Chega a ser repugnante a camaradagem como a Globo, Bandeirantes, Record, jornais, etc., tratam um psicopata, estuprador e pedófilo, que destruiu a vida de tantas mulheres, enquanto era aplaudido e divulgado como um homem santo por estes mesmos órgãos de imprensa.

                João de Deus era o chefe da quadrilha e quem obrigava mulheres e meninas a lhe masturbar, fazer sexo oral e outras agressões odiosas. Mas sua Casa inteira vivia deste negócio da fé e da alienação. Eram uma quadrilha inteira praticando estelionato, ameaçando vizinhos, extorquindo comerciantes e abusando de pessoas doentes. Todos deveriam ser presos e esta Casa tem que ser imediatamente fechada!

Casas espíritas repetem o que ocorre em igrejas e templos: eles são todos iguais.

                Sempre que surgem denúncias de estupro e pedofilia na Igreja Católica ou em Igrejas evangélicas, surgem vozes dizendo que são casos isolados. Não são! O Vaticano (criado, aliás, por Mussolini, o fascista que era braço direito de Hitler e do nazismo), já foi comprovadamente envolvido em centenas de casos de estupro e pedofilia ao redor do mundo. O atual papa, Francisco, já se cansou de tanto pedir perdão por cada um dos escândalos que não param de surgir. Pede perdão, mas também já acobertou pedófilos no Chile e na cúpula da Igreja. São centenas de escândalos e milhares de vítimas, na Austrália, Itália, Brasil, Inglaterra, Irlanda, Estados Unidos, etc. O recente filme Spotlight relata apenas um exemplo disso, quando, somente em Boston, uma única diocese católica, havia quase 100 padres estupradores agindo e sendo respaldados por seus superiores. Na Irlanda, havia um esquema de estupro em massa, venda de crianças, trabalhos forçados e cemitérios clandestinos!

                No caso das Igrejas evangélicas, a maioria dos escândalos é associada a crimes de sonegação, associação com milícias, estelionato e fraudes de todo tipo. A imagem do padre abusador de crianças é substituída pela do pastor com carrões, mansões e dinheiro sem fim. Por não terem que ser celibatários nem ter voto de castidade, o volume de pastores com problemas psiquiátricos e distúrbios sexuais, se pode presumir que seja menor. Mas nem isso torna seus outros crimes menos graves, nem impede que haja outras centenas de casos de pastores abusando de mulheres, estuprando crianças e cometendo atrocidades contra os fiéis fanatizados, que acham que tudo é por obra ou pela graça de deus. Qualquer simples pesquisa na internet abre dezenas de páginas de notícias sobre criminosos evangélicos desmascarados. Diferente da Igreja Católica, cujas desculpas não apagam a dor da multidão de vítimas, as Igrejas Evangélicas nunca sequer pediram perdão.

                Neste mar de denúncias, os centros espíritas sempre tiveram um discurso de que eles, diferente dos demais, não cobram doações, existem apenas para a caridade, etc. João de Deus e seus quase 100 milhões de reais fizeram esta mentira desmoronar. As casas espíritas abusam da fé alheia tanto quanto qualquer outra religião. E tampouco este é um caso isolado. Há “médiuns” pedófilos, abusadores, enriquecidos com seus “pacientes” e que entram na política em inúmeras regiões do Brasil. Os escândalos são menos frequentes entre os espíritas pelo simples fato de que há menos de 5% de espíritas no país, ao passo que há mais de 20% de evangélicos e cerca de 60% de católicos, havendo muito mais templos e igrejas, assim como líderes destas religiões, além de vítimas em potencial e dinheiro circulando.

                A verdade é que as instituições religiosas são propícias aos abusos sexuais e crimes financeiros, por vários motivos. O principal deles é serem consideradas um tabu. Não há nada no Brasil tão imune a investigações e controle social do que as igrejas e seus similares. Elas fazem o que querem, e ninguém ousa questionar o que ocorre no interior de suas paredes. São o único ramo da economia que arrecada dinheiro sem pagar impostos por isso, que não presta contas, em que há enriquecimento sem necessidade de comprovar nada, em que há isenção de IPTU, imposto de renda e até de tarifas bancárias! É o dinheiro do trabalhador, tenha ele a religião que tiver, ou não tiver, que paga esta farra. É o dinheiro que falta na saúde, na educação, na moradia…

                E é na falta destes serviços, na pobreza, na ignorância e na doença, que mais gente se apega à fé como forma de desespero, adentrando no obscurantismo, acreditando no misticismo e em personagens dotados de poderes, representantes mágicos de seres metafísicos. Padres, pastores e “médiuns” se apresentam como porta-vozes do além-morte, da vida eterna, da salvação… E prometem milagres, curas, saúde, sucesso, bem-estar e todo tipo de enganação. Do alto de seus “poderes”, os líderes religiosos estão acostumados a olhares de idolatria, a vítimas dispostas a tudo e a fiéis fanatizados por suas lavagens cerebrais.

                Nada precisa ser provado, pois tudo é fé. É uma relação em que um detém verdades e salvação, e outro deve crer acima de tudo. Em si mesma, esta já é uma relação completamente abusiva, alienante e irracional. Não se pode admirar que tantos líderes abusem ainda mais desta relação e resolvam saciar seus desejos sexuais, financeiros ou de outros tipos diante de uma multidão literalmente ajoelhada a seus pés.

                Os revolucionários defendem a mais ampla liberdade de crença e de culto. Todas as pessoas podem acreditar no que bem entenderem. Assim como igrejas, templos, sinagogas, casas espíritas, mesquitas e todo lugar religioso tem o direito de funcionar livremente, desde que, obviamente, não sejam usadas para crimes, e se submetam às leis que regem qualquer outro estabelecimento, como pagar impostos, cumprir a lei de silêncio, e não possam praticar ilegalidades, como abusar da economia popular, exercer medicina ilegal, extorsão, ameaças, etc.

                Entretanto, apesar de que defendemos a liberdade de crença e de culto, desde que sem os crimes envolvidos, não podemos deixar de defender que haja, principalmente, investimento na vida terrena das pessoas. Que exista mais educação e conhecimento de ciência à população, que exista tratamento e saúde públicas, gratuitas e de qualidade a todos, que haja condições de vida dignas aos trabalhadores. Somente com uma vida decente, cultura e informações, as pessoas realmente serão livres para pensar, compreender e acreditar no que lhes parecer mais correto.