Irmã, eu acredito em você!

A mobilização das mulheres é cada vez mais expressiva no mundo inteiro, com manifestações gigantescas, greves de mulheres e um avanço impressionante na consciência, na organização e na formação feminista de mulheres trabalhadoras e estudantes. O machismo não passa mais em branco e a impunidade diante de casos de violência sexual são um dos eixos da resistência das mulheres. A Espanha, neste sentido, é uma das vanguardas neste processo.

Mundo - 7 de maio de 2018

A mobilização das mulheres é cada vez mais expressiva no mundo inteiro, com manifestações gigantescas, greves de mulheres e um avanço impressionante na consciência, na organização e na formação feminista de mulheres trabalhadoras e estudantes. O machismo não passa mais em branco e a impunidade diante de casos de violência sexual são um dos eixos da resistência das mulheres. A Espanha, neste sentido, é uma das vanguardas neste processo.

A explosão de lutas mais recentes neste país, se deu após os culpados em um caso de estupro coletivo, ocorrido em 2016, na tradicional festa de San Fermín, em Pamplona, onde acontece a tradicional festa popular espanhola com a “corrida dos touros”, terem recebido uma pena absurdamente leve. Os cinco estupradores, entre 24 e 27 anos, todos de Sevilha, estupraram uma garota de 18 anos durante a festa de San Fermín, após um deles abordar a vítima e a convencer a se afastar da festa. Ao chegarem à portaria de um prédio, o resto do grupo a imobilizou e a estuprou. A jovem denunciou o crime no dia seguinte, a Justiça encontrou imagens das câmeras do prédio e dos celulares dos jovens, que filmaram e compartilharam o estupro com amigos, e determinou a prisão preventiva dos suspeitos. O julgamento final, na semana passada, os declarou culpados, mas apenas pelo crime de abuso sexual, descartando o de agressão, que engloba o estupro na lei espanhola. Assim, ao invés de 22 anos de cadeia, foram sentenciados apenas a 9 anos.

A sentença é um manifesto machista do início ao final, argumentando que não houve violência física, já que a vítima não apresentava nenhuma marca de agressão, e nem teria havido intimidação ou reação. Por ter ficado “paralisada” e “sem resistência”, como afirmou a decisão, a vítima não teria sido agredida. É o cúmulo! A menina alegou ter entrado em pânico por estar diante de cinco homens maiores e mais fortes que ela e que, por isso, ficou bloqueada – o que o atendimento psicológico confirmou horas depois, mas a Justiça ignorou isso. Mas as mulheres do país inteiro, não!

Há dois meses, no Dia Internacional da Mulher, a Espanha realizou a primeira greve feminista da história recente de Europa e levou milhões de pessoas às ruas. Só em Madri, foram 500 mil pessoas, um número só comparável ao protesto contra a participação da Espanha na guerra do Iraque, em 2004, e maior que os atos dos “indignados” ou qualquer outra manifestação recente de massas no país. Este ascenso feminista está permitindo ampliar a luta em defesa dos direitos das mulheres e a decisão judicial amigável aos estupradores de Pamplona caiu como uma bomba neste contexto.

Comparado ao “Me Too”, iniciativa das mulheres dos Estados Unidos contra abusos sexuais que está mobilizando milhares de ativistas a favor da luta pelo direito das mulheres no mundo inteiro, surgiu na Espanha o movimento “Hermana, yo sí te creo”, (“irmã, eu acredito em ti, ou em você”, conforme a região do Brasil. Nas redes sociais, o hashtag “cuentalo“(“conte”), chama as mulheres a contar os casos de assédio e violência sexual. A punição mais severa aos estupradores recém sentenciados é uma luta importantíssima para garantir que novos casos assim não aconteçam! “Hermana, yo sí te creo” é visto em muros, cartazes e vozes de protesto todos os dias.

Manifestações pedindo a revisão da pena no caso da festa de San Fermín são diárias, e reuniram 32 mil pessoas apenas nas ruas de Pamplona, além de estarem marcadas novos protestos em Madri, Barcelona e Sevilha, a cidade de origem dos agressores. Este é o caminho: a ação direta! Não mais nos calaremos. Irmã, eu acredito em você!