Governos aproveitam a quarentena para reprimir trabalhadores

A pandemia do coronavírus já ultrapassou 55 mil mortos em todo o mundo e deve chegar a 100 mil em mais alguns dias. É uma tragédia mundial, que terá milhões de infectados. A responsabilidade disso tudo é dos governos capitalistas, que, sem exceção, cortam verbas da pesquisa científica, da saúde, do saneamento básico, da moradia, etc. A conseqüência disso tudo é que surgem pandemias sem controle; os infectados não têm leitos, aparelhos, medicamentos e profissionais de saúde para lhes atender e curar; e sequer há garantia de renda aos trabalhadores para poderem ficar em casa sem morrer de fome; sendo que muitas vezes nem há casas para as pessoas.

Mundo - 3 de abril de 2020

A pandemia do coronavírus já ultrapassou 55 mil mortos em todo o mundo e deve chegar a 100 mil em mais alguns dias. É uma tragédia mundial, que terá milhões de infectados. A responsabilidade disso tudo é dos governos capitalistas, que, sem exceção, cortam verbas da pesquisa científica, da saúde, do saneamento básico, da moradia, etc. A conseqüência disso tudo é que surgem pandemias sem controle; os infectados não têm leitos, aparelhos, medicamentos e profissionais de saúde para lhes atender e curar; e sequer há garantia de renda aos trabalhadores para poderem ficar em casa sem morrer de fome; sendo que muitas vezes nem há casas para as pessoas.

O capitalismo mata e vai ser responsável pelas centenas de milhares de mortes que ocorrerão pelo Covid-19. Mas os governos burgueses não apenas levaram à crise que estamos vivendo, como reagem a ela com mais violência contra os trabalhadores. A necessária imposição de restrições e quarentenas pelo mundo também se transformou em violência e caos, especialmente nos países mais pobres.

A violência policial, a censura contra a imprensa e as violações dos direitos humanos deram um salto em vários países. Por exemplo, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, deu ordens para que a polícia atire em quem protestar nas ruas durante a quarenta. Em declaração à TV, ele disse: “não hesitarei em lhes mandar à sepultura se causarem problemas”. A Polícia Nacional Filipina indicou que mais de 17 mil pessoas já foram detidas por violações relacionadas com as ordens de confinamento. Entidades ainda apontam que surgiram relatos de punições desumanas contra as pessoas que violam a quarentena. Alguns foram obrigados a sentar-se durante horas ao sol quente ou ser detidos em jaulas para cães, e a polícia agride manifestantes com paus de madeira.

Entidades como a Anistia Internacional passaram a denunciar estas freqüentes agressões e os presidentes dos dez comitês da ONU para Direitos Humanos, através e sua porta-voz, Hilary Gbedemah, alertaram que as autoridades precisam “garantir o respeito pelos direitos humanos”, mesmo quando a situação é de emergência sanitária. E disse que um número crescente de países tem imposto controles rigorosos que afetam os direitos humanos, tais como limitações à liberdade de circulação e restrições às assembleias pacíficas e à privacidade. “Estes controles devem ser efetuados de acordo com um quadro jurídico válido. Nos países que declaram o estado de emergência, essa declaração deve ser excepcional e temporária, estritamente necessária e justificada devido a uma ameaça à vida da nação”, afirmou Gbedemah.

Mas estas recomendações da ONU são mera fantasia, já que esta entidade acobertou as violações feitas pela China e segue imóvel diante das agressões que denuncia. Governos estão usando o toque de recolher e os estados de emergência para impor ataques contra direitos trabalhadores, reduzir salários e impor a censura e restrições democráticas.

Na Índia, uma ação do governo para desinfectar um bairro popular acabou em caos, depois que parte da população acabou sendo exposta aos produtos químicos. Nas redes sociais, dezenas de vídeos mostram imagens de policiais espancando as pessoas que não cumpriam a quarentena. O primeiro-ministro Narendra Modi comanda uma campanha de quarentena diretamente ligada à violência policial. Além disso, a quarentena criou milhões de migrantes internos na Índia, pois as pessoas sem trabalho e sem comida estão vagando pelo país em busca de ter onde ficar e o que comer. Alguns já estão morrendo ao viajar.

Agora chefe dos direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e mais uma representante dos governos burgueses de Frente Popular que iludiram muitos trabalhadores dos anos 2000 em diante,  disse que está “angustiada” com a situação dos indianos. Mas não propôs nenhuma sanção ao governo indiano nem tomou ação alguma para defender os milhões de refugiados internos.

A censura contra a imprensa também se instalou em diferentes países e levou governos como o do Egito a retirar o credenciamento de jornalistas estrangeiros que tinham questionado o número real de casos da doença. Na Hungria, o governo aprovou uma lei que permite a prisão por cinco anos de jornalistas que difundirem notícias que contrariem o governo. Medidas de restrição ao acesso à informação ainda foram estabelecidas na Turquia, Camboja, China, Tailândia, Rússia, Irã, Honduras e Cingapura, pelo menos.

Na África do Sul, ativistas denunciaram violência contra moradores do bairro Soweto e três pessoas foram assassinadas pela polícia que impõe a quarentena. Pelo menos 55 pessoas já foram detidas no país e policiais disparam balas de borracha, gás lacrimogêneo e usam chicotes contra quem sai às ruas nos locais pobres. Em Dakar, no Senegal, também houve inúmeras operações violentas contra a população, principalmente durante a noite. Em Ruanda, um dos primeiros países a impor quarentena na África, duas pessoas foram executadas pela polícia, depois de não cumprirem a quarentena.

No Niger, 15 militantes foram detidos pelo governo, sob a justificativa de que estavam violando as recomendações de não realizar eventos públicos. Isso ocorreu quando o vírus ainda nem tinha chegado ao país! No Quênia, houve violência policial num dos bairros de Nairóbi e houve disparos policiais durante o toque de recolher além de espancamento a pessoas que estavam nas ruas e o assassinato de um menino de 13 anos morreu. Na cidade portuária de Mombasa, a polícia usou gás lacrimogêneo para impor a quarentena e a violência policial provocou vários feridos.

Os trabalhadores não podem permitir que a burguesia e seus governos mantenham todos trabalhando, enquanto o vírus se alastra e mata milhares, especialmente os mais pobres, sem acesso à saúde. Por isto, defendemos que haja quarentena, mas que ela seja paga pelos Estados e pelos patrões. Que a produção capitalista pare, para salvar as vidas da população!

Mas sem dar condições financeiras às pessoas, não há como fazer quarentena. E o isolamento social não pode ser uma desculpa para aprofundar o massacre que as populações dos bairros mais pobre já sofrem. A crise do Covid-19 desmascara ainda mais o caráter burguês e violento de todos os governos e a nossa única saída é resistir e lutar para que os bilionários e governos paguem pela crise.