Fora Bolsonaro! Moro se demite e apresenta provas de crimes do presidente.

A crise política estourou no Brasil com o máximo de força. O ministro com maior popularidade, mais conhecido e considerado um elemento chave de legitimação do governo Bolsonaro como “ético”, não apenas renunciou como revelou crimes do presidente, e apresentou provas deles.

Nacional - 25 de abril de 2020

               A crise política estourou no Brasil com o máximo de força. O ministro com maior popularidade, mais conhecido e considerado um elemento chave de legitimação do governo Bolsonaro como “ético”, não apenas renunciou como revelou crimes do presidente, e apresentou provas deles.

               Sérgio Moro, agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, se notabilizou por ser o juiz de 1ª instância que julgou e condenou o ex-presidente Lula por corrupção, em razão de Lula ter aceitado um apartamento de luxo de uma empreiteira (OAS) beneficiada por obras superfaturadas no governo do PT. Mais tarde, Lula foi preso quando esta condenação foi mantida no tribunal de 2ª instância ao qual recorreu, onde a pena decretada por Moro foi, inclusive, aumentada, por unanimidade.

               Após eleito, Bolsonaro convidou Moro para ser seu “superministro”, com carta branca para tomar todas as decisões que julgasse necessárias na sua pasta. Em pouco mais de 1 ano, Moro não fez nada de relevante no ministério, tentou aprovar um conjunto de leis chamadas de “pacote anti-crime”, que principalmente liberaria policiais para matarem pobres que fossem “suspeitos”, sem terem que responder por isso, a famigerada “exclusão de ilicitude”. Moro também se calou ou defendeu as inúmeras manifestações de Bolsonaro contra as instituições do Estado burguês que se esperava que ele devesse resguardar, por ser ministro da Justiça, e Moro ainda ajudou a esconder embaixo do tapete as investigações contra todos os crimes dos filhos de Bolsonaro, dele mesmo e de sua esposa.

               Mas, diante da crise econômica recorde, da postura genocida de Bolsonaro diante da pandemia de coronavírus e da perda geral de sua popularidade, Moro resolveu “pular da barca”. Saiu atirando! E com acusações e provas que não deixam mais dúvidas: Bolsonaro tem que ser destituído!

               No seu pronunciamento de ruptura com o governo, Moro deixou claro que Bolsonaro fez de tudo para que a Polícia Federal parasse de investigar os crimes de seus filhos, assim como dos deputados da sua base eleitoral. Bolsonaro exigiu demitir o diretor-geral da PF porque ele se recusava a parar completamente as investigações e dar relatórios diários a ele, e disse que colocaria alguém alinhado pessoalmente a ele para acobertar os crimes. Depois, Bolsonaro negou ter exigido isso, mas admitiu que interferiu em duas investigações o que jáé ilegal. Moro, no entanto, fez uma réplica e provou que Bolsonaro mentiu e que a interferência foi mais geral e incluía demitir o diretor-geral da PF para salvar “12 deputados bolsonaristas”. Há um print de whats app mostrando isso!

               Bolsonaro tentou virar o jogo dizendo que Moro só queria uma vaga no STF, mas Moro também provou que foi a deputada Carla Zambelli, muito próxima de Bolsonaro, quem lhe ofereceu o cargo caso ficasse quieto, numa clara proposta de propina. E não para por aí. Bolsonaro acabou mesmo demitindo o diretor-geral da Polícia Federal, sem avisar Moro, mas colocou a assinatura falsa do ex-ministro no comunicado de demissão.

               São crimes que levam à perda de mandato e à prisão, se forem julgados, e a lista é grande: falsidade ideológica, prevaricação (usar do cargo para atender interesses pessoais, contra a lei), obstrução de Justiça por demitir quem investiga, chantagem ao oferecer cargo em troca de silêncio…

A quadrilha Bolsonaro

                Além dos crimes cometidos por Bolsonaro ao tentar demitir o chefe da PF, o mais grave é o que ele tentou esconder com esta demissão. São os crimes do seus filhos, que estão sendo investigados pelo STF e pela própria PF, e que podem levar parte da família para a cadeia.

               São 4 investigações que tiram o sono da família-quadrilha dos Bolsonaros: 1) o esquema de achaque de salários de funcionários-fantasmas (incluindo milicianos e pessoas do crime organizado) conhecido como “rachadinha” no gabinete do filho, então deputado e hoje senador Flávio Bolsonaro; 2) a CPI das Fake News, que mostra o envolvimento do filho Carlos Bolsonaro, com mentiras, fraudes, crimes de calúnia e ameaças via internet; 3)o envolvimento do seu maior amigo pessoal, Fabrício Queiroz, ex-PM assassino, com milicianos e arrecadação de dinheiro ilícito, incluindo depósitos de cheque na conta da esposa de Bolsonaro, Michele; e 4) As relações íntimas com o ex-PM e miliciano Adriano da Nóbrega, funcionário dos Bolsonaros e recentemente executado numa ação conjunta com a polícia do PT da Bahia numa óbvia “queima de arquivo”, sendo Adriano um dos suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Mariele Franco.

               Cada vez que se investiga algo destes casos, surgem mais evidências da participação direta da família Bolsonaro, e a mais recente é a divulgação pelo site The Intercept Brasil de que Flávio Bolsonaro financiou e lucrou com a construção ilegal de prédios da milícia erguidos com dinheiro público. A investigação fez com que os advogados de Flávio pedissem por nove vezes que o procedimento fosse suspenso, mas há provas de que três construtoras foram pagas com dinheiro de “rachadinha” do gabinete de Flávio Bolsonaro. As acusações são de organização criminosa, lavagem de dinheiro e peculato (desvio de dinheiro público).

               Flávio Bolsonaro receberia o lucro do investimento dos prédios por meio de repasses feitos por Fabrício Queiroz e Adriano da Nóbrega, e, graças às construções da milícia, Flávio enriqueceu, passando de um patrimônio de R$ 25,5 mil para R$ 1,74 milhão em 2018. Segundo o Intercept , o esquema estava baseado em Queiroz , que é apontado como o articulador do esquema de rachadinhas , e confiscava em média 40% dos vencimentos dos servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro, repassando parte do dinheiro ao miliciano e ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, que seria o chefe do Escritório do Crime, milícia especializada em assassinatos encomendados. No fim, o grosso do dinheiro ia para Flávio Bolsonaro e para a família-quadrilha.

Eles são todos iguais! Por uma saída dos trabalhadores.

               É urgente multiplicar a campanha pelo Fora Bolsonaro! Isso é indiscutível e derrubar o presidente corrupto e criminoso enfraquece o projeto burguês de atacar direitos dos trabalhadores, assim como cria uma correlação de forças mais favorável para enfrentar os efeitos da pandemia sobre a saúde dos mais pobres e sobre o emprego e renda da maioria da população.

               Mas, apesar de ser a principal campanha deste momento, não resolve apenas retirar Bolsonaro. É preciso derrubar ele e seu vice, Mourão, junto! E derrubar também todo o Congresso junto. A maioria dos parlamentares ainda reluta em derrubar Bolsonaro, pois são farinhas do mesmo saco. Mas pode ser que a crise se agrave e a pressão seja insustentável ao ponto do Congresso levar adiante uma destituição parlamentar e controlada apenas de Bolsonaro, via impeachment, como ocorreu com Collor e com Dilma.

         Somos contra a saída do impeachment, que não muda qualitativamente a situação. A derrubada de presidentes deve ser feita pelos próprios trabalhadores em luta, por meio de seus organismos populares, e com a construção de um governo revolucionário da nossa classe. Mas, se não houver força suficiente para a derrubada diretamente pelas massas, mas justamente por pressão destas massas o impeachment avançar e for a possibilidade concreta para derrubar Bolsonaro, não hesitaremos e estaremos a favor de votar por sua destituição, via impeachment! Como foi com Collor e foi com Dilma.

               Infelizmente, toda a esquerda com registro eleitoral (PSTU, PSOL, PCB, PCO, etc.) capitulou ao PT e defendeu o mandato burguês de Dilma, se posicionando contra sua derrubada pelo Congresso em 2016, mesmo após manifestações de milhões nas ruas, que vinham desde 2013. Agora, esta mesma esquerda se negou a chamar o Fora Bolsonaro até algumas semanas (PSTU e PSOL) ou dias (PT) atrás, mas agora que mudou de posição, se joga com vontade apenas na solução do impeachment (PSOL mais e PT um pouco menos). O que houve para o impeachment voltar a ser aceito por estes setores, senão incoerência e oportunismo?

               Neste momento, precisamos demonstrar que Bolsonaro não tem mais condições de seguir no cargo, e mais do que isso: que precisa ser preso! Mas Mourão foi eleito junto com ele e é responsável por tudo, tanto quanto ele. Da mesma forma temos que derrubar o Congresso, que aprovou a Reforma da Previdência de Bolsonaro e é corrupto do mesmo jeito. Defendemos Fora Todos! Que não fique nenhum! E que construamos a luta e comitês desde a base, em cada bairro, empresa, fábrica, escola e universidade.

               Nós apoiaremos o impeachment sem nenhuma dúvida, caso ele se resuma à única forma de derrubar Bolsonaro. Mas, hoje, é fundamental apresentar uma saída diferente, da base, que proponha acabar com tudo que está aí.  Repetindo: como dizíamos em 92 e 2016.