Evo Morales entrega Battisti à Itália, e, mais uma vez, mostra que os governos burgueses são todos iguais!

O italiano Cesare Battisti recebeu o reconhecimento de refugiado do governo brasileiro em 2010, situação que poderia ter sido revista após 5 anos e que, caso não fosse, seria definitiva e irreversível. No entanto, rasgando a Constituição brasileira, Temer revogou a concessão de refúgio e jogou o Brasil de joelhos ao governo ultra reacionário da Itália, controlado pelos grupos pró- fascistas que atacam trabalhadores na Itália desde os anos 60, e contra os quais Battisti militava.

Mundo - 11 de fevereiro de 2019

                O italiano Cesare Battisti recebeu o reconhecimento de refugiado do governo brasileiro em 2010, situação que poderia ter sido revista após 5 anos e que, caso não fosse, seria definitiva e irreversível. No entanto, rasgando a Constituição brasileira, Temer revogou a concessão de refúgio e jogou o Brasil de joelhos ao governo ultra reacionário da Itália, controlado pelos grupos pró- fascistas que atacam trabalhadores na Itália desde os anos 60, e contra os quais Battisti militava.

                Após o regime fascista de Benito Mussolini ser derrubado e ele mesmo ser justiçado pelas massas sob a direção da resistência dos revolucionários comunistas, a Itália passou por uma forte intervenção capitalista, que, junto da traição stalinista da ex-União Soviética, freou a luta revolucionária e pactuou um governo de estabilização do regime democrático-burguês. Os investimentos sociais e o Estado de Bem-Estar, criado a partir dos anos 40 para acalmar a maioria da população e evitar a tomada do poder pelos trabalhadores, não impediram que a luta de classes seguisse radicalizada. Fascistas do bando de Mussolini e das gerações seguintes se mantiveram ameaçando, agredindo e assassinando pessoas desde então; e a resistência comunista nunca deixou de os enfrentar.

                Com a radicalização da luta de classes nos anos 60, produto do ascenso revolucionário impulsionado pela vitória da revolução cubana em 1959, da crise do imperialismo e do seu sistema colonial e da explosão social de 1968, os choques nas ruas da Itália se tornaram cada vez mais frequentes. Movimentos de extrema-direita, como o Núcleo Armado Revolucionário, se utilizavam, eles sim, do terrorismo e dos atentados políticos contra a população. No atentado da Piazza Fontana, em 1969, mataram 17 pessoas; e assassinaram outras 85 em 1980, na explosão da estação ferroviária de Bolonha, uma cidade historicamente ligada à resistência. Os criminosos da extrema-direita saíram impunes em quase todos os casos, e um dos terroristas da Piazza Fontana, Delfo Zorzi foi para o Japão, obtendo cidadania japonesa e vive tranquilamente no país asiático até hoje. Grupos como o PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), de Cesare Battisti, perseguiam estes fascistas, e mereciam todo o apoio e admiração por parte dos lutadores e dos trabalhadores em geral.

                Battisti escapou da prisão na Itália em 1981, enquanto aguardava julgamento por acusações de quatro homicídios supostamente cometidos entre 1977 e 1979, contra empresários e militantes fascistas, todos inegavelmente criminosos de extrema-direita, justiçados pelo PAC. Nós entendemos os justiçamentos de fascistas como um método de defesa da classe trabalhadora, contra assassinos e terroristas capitalistas, que usam sistematicamente a violência contra os trabalhadores. Battisti e todos os membros do PAC, das guerreiras Brigadas Vermelhas e dos demais grupos de combatentes italianos deveriam ser homenageados, e não condenados. Mas, mesmo sob a legislação burguesa, o “julgamento” de Battisti na Itália foi uma farsa. Não conseguiu provar que ele esteve envolvido nos justiçamentos, ocorreu à revelia e foi parcial e controlado pela extrema direita desde o começo. Tanto é que países igualmente capitalistas, como a França, deram abrigo por décadas a Battisti, ameaçado de ser morto ilegalmente se retornasse à Itália.

                A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, ano passado, de ordenar sua detenção e extradição para a Itália e o então presidente, Michel Temer, firmar um decreto nesse sentido são uma vergonha que contrariam o direito internacional, a segurança jurídica e significam uma rendição colonial às ordens do imperialismo europeu. Bolsonaro, mesmo antes de tomar posse, tratou de se ajoelhar para Trump e Netanyahu, mas não se restringiu a beijar a bandeira dos EUA e do Estado terrorista de Israel: prometeu ao Ministro do Interior e vice Premiê da Itália, o fascistoide Mateo Salvini, que lhe entregaria Battisti “de presente”, como ele mesmo disse. Não conseguiu, pois Battisti já havia saído do país, burlando a Polícia Federal, que não prende traficantes, mas persegue um ativista de mais de 60 anos, combatente, com refúgio concedido de modo irreversível e com filho brasileiro.

                Eis que a reviravolta final mostra a que ponto rasteja a falsa esquerda reformista nos dias de hoje: Evo Morales, presidente burguês e golpista da Bolívia, onde estava Battisti, cumpriu o papel de serviçal da direita mais criminosa e inimiga dos imigrantes e trabalhadores, e entregou o militante, superando Temer e Bolsonaro e inscrevendo para sempre seu nome no rol dos colaboradores do fascismo mundial.

Morales e a esquerda reformista são “socialistas” e pacifistas por fora e pró-imperialistas e assassinos por dentro.

                Na Itália, a “esquerda tradicional, ligada aos Partido Comunista Italiano e Partido Socialista Italiano, sempre foi muito oportunista e traidora. Foi no PCI que Antonio Gramsci concebeu sua tese antimarxista que deu base ao futuro “eurocomunismo”, pregando a disputa da hegemonia e da luta pela sociedade civil dentro do capitalismo, por meio de “blocos históricos”. No fundo, o abandono da luta pela tomada do poder, a renúncia à insurreição armada das massas e a rejeição do proletariado como sujeito social da revolução. Após a restauração capitalista no leste europeu, o que já era revisionismo e reformismo na Itália se converteram em traição explícita, extinção do PCI e governos desta “esquerda” implantando o neoliberalismo impiedosamente, como no restante da Europa, América Latina e mundo todo.

                Diante da prisão de Battisti, esta “esquerda” de araque da Itália, que já não apoiou a luta antifascista como deveria nos anos 70 e 80, agora festejou, junto dos fascistas, a prisão de um lutador. Da mesma forma, fez a imensa maioria dos partidos “socialistas” ou “dos trabalhadores” no mundo, na verdade todos eles traidores e neoliberais, capachos do imperialismo e da perseguição da extrema direita a um ativista antifascista. O reformismo fala em pacifismo para justificar nunca lutar, mas tem as mãos sujas de sangue e agora faz a festa dos herdeiros de Mussolini. O maior representante desta falsa esquerda que está a serviço da extrema direita, porém, é Evo Morales.

                Battisti foi detido em Santa Cruz de la Sierra, através da participação do governo criminoso de Morales em colaboração com agentes internacionais italianos, o que mostra a total falta de soberania da Bolívia, que virou um quintal do bando da extrema direita que governa a Itália. Evo Morales, 1º indígena a governar a Bolívia, um dos países mais pobres das Américas, foi eleito com a esperança de acabar com a miséria, a exploração e  as perseguições a ativistas sociais. No governo, falou muito em socialismo, mas, como seus similares na Venezuela, Equador e Nicarágua, tudo não passou de jogo de cena. Morales perseguiu ativistas, reprimiu lutas indígenas e populares, atacou direitos dos trabalhadores e manteve a Bolívia capitalista, pobre e capacho do imperialismo.

                A entrega de Battisti, no entanto, foi a gota d’água de Morales, que tenta se perpetuar como presidente, apesar da população boliviana já ter rejeitado suas reeleições eternas em um plebiscito. Com a entrega de Battisti, Morales tenta ser visto como um empregado confiável aos negócios da burguesia brasileira sob Bolsonaro e da burguesia imperialista, rompendo com a retórica de esquerda (que sempre foi uma fraude) e assumindo seu papel explícito de inimigo dos trabalhadores.

                Se a falsa esquerda abandonou Battisti, nós nos colocamos a seu lado! Expressamos nossa solidariedade a Battisti, condenado sem provas, à revelia e por perseguição política dos simpatizantes do fascismo, que hoje repetem práticas criminosas contra imigrantes pobres na Itália. Exigimos a liberdade de Battisti! Pela derrubada do governo italiano e de seu capacho Evo Morales na Bolívia! Que os trabalhadores reajam nas ruas e punam através de seus métodos de luta e da sua Justiça os inimigos e assassinos da nossa classe!