ESTAMOS LUTANDO – PRECISAMOS NOS UNIFICAR

O ano de 2018 já começou com manifestações gigantescas. Professores do RJ, MG, RS e do PR; metalúrgicos de vários estados; funcionários públicos federais, estaduais e municipais; e, agora, os caminhoneiros, mostram que só a luta é o caminho.

Nacional | Sindical - 2 de junho de 2018

O ano de 2018 já começou com manifestações gigantescas. Professores do RJ, MG, RS e do PR; metalúrgicos de vários estados; funcionários públicos federais, estaduais e municipais; e, agora, os caminhoneiros, mostram que só a luta é o caminho. O governo Temer foi derrotado em sua mais importante proposta de ataque aios trabalhadores, a Reforma da Previdência, definitivamente enterrada em seu mandato. Outras ações do governo federal e de governos estaduais também foram barradas ao longo da resistência dos trabalhadores. Ainda assim, porém, os cortes de verbas sociais, o desemprego, as dívidas e o aumento do custo de vida seguem massacrando os trabalhadores.

A Greve Geral de abril de 2017 foi um marco no país, interrompendo a produção e colocando o governo Temer por um fio de cair. Em maio, a enorme e radicalizada manifestação em Brasília contra as reformas teve condições de ocupar o Congresso e o Palácio e colocar fim ao governo, mas, novamente, as direções traidoras, como a CUT, CTB e UNE traíram o movimento e se recusaram a ir adiante. Então, veio junho, e a nova Greve Geral marcada foi desmontada deliberadamente pela burocracia, que entendeu que as lutas estavam indo longe demais, fugindo de seu controle e poderiam passar dos limites que a ela interessavam. Foi quando o PT e o PCdoB, que já não construíam as lutas de forma coerente, passaram a destruir qualquer luta independente e salvaram Temer, que esteve por ser derrubado pelas ruas em vários momentos, além de ser absolvido pelo TSE, junto com Dilma, por um único voto, e no Congresso em mais duas oportunidades.

A aposta do PT e dos setores mais eleitoreiros era a de, ao invés de derrubar Temer e deixar Rodrigo Maia – presidente da Câmara – assumir, deixar Temer governar e seguir se desgastando, para fazer o governo “sangrar” até a volta triunfal de Lula nas eleições. Mas nada disso deu certo. Lula foi preso e se entregou passivamente; Palocci e outros delatores confirmaram ainda mais detalhes da corrupção do governo, e a pressão social levou a que mais políticos tenham sido detidos, como Geddel Vieira Lima do PMDB e Eduardo Azeredo do PSDB, que se juntam a Maluf, Cunha, Cabral e vários outros já presos. A crise econômica não acaba, e, por consequência, a crise política tampouco se resolve, e o sistema precisa de bodes expiatórios para tentar convencer que “algo funciona” e que agora os políticos e empresários começaram a ir para a cadeia.

No mundo inteiro, existe esta mesma instabilidade. O capitalismo não é capaz de oferecer mais do que miséria, exploração e violência. O tráfico de mulheres, a exploração sexual, o desemprego e as humilhações sofridas por milhões de refugiados são o retrato de um sistema falido e incapaz de ser consertado. Candidatos eleitos, da extrema-direita nos EUA (Trump) à extrema-esquerda na Grécia (Tsipras), governam conforme determinam os banqueiros e grandes empresários. As eleições são uma grande farsa e, ganhe quem ganhar, a vida não vai mudar.

No Brasil, não é diferente. A vitória de qualquer candidato a presidente, de Boulos a Bolsonaro, por mais diferentes que eles sejam, não vai mudar o essencial. As leis, o Congresso, a Justiça, o poder econômico e o poder midiático seguirão os mesmos. Ganhe quem ganhar, nenhum candidato a presidente defende deixar de pagar a dívida pública, nenhum defende estatizar o sistema financeiros e as grandes empresas sem indenização, e nenhum defende medidas radicais pela reforma agrária e urbana, pela legalização do aborto ou qualquer outra medida contra o sistema capitalista e patriarcal. Todos querem manter o sistema “melhorado”, uns de forma tacanha e militarista; outros de forma neoliberal; e outros de modo a tentar humanizar o capitalismo. Todas medidas falsas e que são incapazes de ser atendidas no sentido de melhorar a vida dos trabalhadores.

A greve dos caminhoneiros mostrou que “tudo que é sólido desmancha no ar” e o governo temer teve que ficar de joelhos e correr para atender às demandas dos motoristas de caminhões, antes que tivesse que também atender às demandas dos motoristas de carro e moto, dos aposentados, dos terceirizados, das mulheres, dos estudantes e assim por diante. Os caminhoneiros mostraram o caminho e o exemplo da ação direta. Sua greve não lançou edital, não foi avisada com 72h de antecedência, bloqueou “ilegalmente” estradas e passou por cima do governo e da institucionalidade. Conquistou as demandas dos caminhoneiros, ganhou a simpatia da população e mostrou que uma Greve Geral poderia derrubar quem quisesse e conquistar a maioria das demandas dos trabalhadores.

É neste sentido que os bancários e os demais trabalhadores reunidos em São Luís, no Maranhão, nos dias 21 e 22 de abril de 2017 organizaram um encontro unitário de debate e deliberações de luta, dando início a um processo que chegou a este novo encontro em Belém do Pará. A Frente Nacional de Oposição Bancária (FNOB) e a Frente Nacional de Trabalhadores da Educação (FNATE), constituída em São Luís há um ano, junto de sindicatos e oposições de metalúrgicos, trabalhadores da saúde, do Judiciário, do Serviço Público Federal, de movimentos populares, de luta contra a opressão e a da juventude, realiza, agora, um novo encontro, fundamental para que avancemos na construção de um movimento ainda mais forte, democrático, combativo, pela base.

O Encontro Classista dos Trabalhadores, realizado em conjunto com o XV Encontro Nacional da FNOB e I Encontro Nacional da FNATE, tem o objetivo de reunir os ativistas que defendem um sindicalismo e uma luta baseados na ação direta, na participação e controle efetivos da base de seus organismos e pela mudança do país e do mundo. Cada vez mais, as centrais e sindicatos só pensam em reaver o imposto sindical perdido; os partidos de esquerda se resumem a lançar seus candidatos e pedir votos para tentar obter mandatos; e o programa de reivindicações não ultrapassa os marcos do economicismo e das bandeiras específicas.

Nós, reunidos em Belém, queremos partir do acúmulo que já temos de tantas lutas em tantos estados diferentes, e articular a unidade dos que lutam e organizam um movimento diferente, que parte das reivindicações específicas, mas avança para pautas estratégicas que questionam o conjunto da exploração e da opressão. Como escrevemos na Carta de São Luís, de 2017, “CUT, CTB, Força Sindical, UNE e milhares de sindicatos pelegos, associações de moradores oportunistas e entidades estudantis, populares, do campo e de luta contra as opressões sustentadas por governos ou que vivem da conciliação de classes tiveram um efeito devastador sobre a classe trabalhadora. Não apenas impediram as lutas por décadas, como desmoralizaram o próprio sentido da luta e a esperança de que mudemos as nossas vidas. Nossa tarefa é reconstruir a confiança da classe em si mesma, resgatar valores que historicamente foram e são fundamentais (como a solidariedade e o apoio mútuo) e apontar a ação direta como meio de mudança, e a alternativa estratégica contra o capitalismo como saída política.”.

As lutas estão aí, e não param de nos dar exemplos. Não há semana que não haja lutas e paralisações. Mas, sozinhas, estas greves e lutas são derrotadas ou acabam isoladas e restritas a conquistas específicas. Se 2 milhões de caminhoneiros pararam o país e colocaram Temer no chão, o que não são capazes de fazer dezenas de milhões de trabalhadores juntos? As campanhas salariais de bancários, petroleiros, metalúrgicos e dos Correios vêm aí, e podem ser o momento de unificar 4 “batalhões pesados” da classe trabalhadora, repetindo o que fizeram os caminhoneiros no país. Para isso, no entanto, é urgente uma organização conjunta destes movimentos.

Em 2017, a “Carta de São Luís” iniciou um processo de discussão e lutas comuns que, um ano depois, encontra um Brasil ainda mais em crise, instituições ainda mais desmoralizadas e lutas ainda mais fortes! É possível e necessário aproveitarmos a oportunidade para darmos um salto em nossa organização e unidade. Que a FNOB e FNATE, junto de outras organizações, sejam uma semente de união de outros movimentos e que se avance para um processo de ruptura com tudo que está aí, de forma independente, partindo das lutas específicas até as mais gerais!

CARTA DE BELÉM – JUNHO DE 2018