#ELESNÃO! O BALANÇO COMPLETO DO PROCESSO ELEITORAL DE 2018

Houve 3 grandes fenômenos nesta eleição: 1) uma avalanche de não-votos; 2) um voto em massa pela renovação; 3) uma grande polarização Bolsonaro x PT.

Nacional - 9 de dezembro de 2018

Houve 3 grandes fenômenos nesta eleição: 1) uma avalanche de não-votos; 2) um voto em massa pela renovação; 3) uma grande polarização Bolsonaro x PT.

A maior quantidade de não-votos de toda a história neste sistema de voto

As eleições de 2018, mais do que a vitória de alguns candidatos ou partidos, teve como grande fenômeno, outra vez, o não-voto: com um recorde de abstenções nos últimos 20 anos, a soma de quem se recusou a votar em qualquer um dos milhares de candidatos e 35 partidos foi de dezenas de milhões de eleitores. Entre abstenções, votos nulos e votos brancos, mais de 40 milhões de eleitores entenderam que eles todos são iguais e não votou em ninguém para presidente! Esta enxurrada de não-votos, que bate o recorde já impressionante da eleição passada, quando 38 milhões e 780 mil eleitores se recusaram a votar em qualquer um, mostra que mais 1 milhão e meio de eleitores se somaram ao não-voto, a maioria deles por romper com as ilusões de que as eleições possam mudar qualquer coisa. Somente em 1998, último ano da eleição ainda por meio de cédulas em papel, onde era muito mais fácil alguém errar o voto sem querer ou usar a cédula como protesto e anular o voto até mesmo com mensagens políticas, houve mais não-votos.

Com a urna eletrônica, de eleição em eleição, este número vem aumentando, e o não-voto já foi “o 2º colocado nesta eleição presidencial”, “o 2º colocado na maioria das eleições para governador” e a maior quantidade nas eleições para deputados estaduais e federais. Nenhuma votação de partido ou coligação chegou sequer perto do total der não-votos para nas votações proporcionais, onde a enxurrada de não-votos foi maior ainda.

Grandes estados como Rio de Janeiro (com mais de 30% de não-voto), Minas Gerais (mais de 30% de não-voto), São Paulo e Bahia foram os grandes puxadores do não-voto, mostrando que nos grandes centros é onde a experiência eleitoral já foi mais fundo, e uma imensa parcela da população já percebeu que, ganhe quem ganhar, sua vida não vai mudar. Apesar da insistente propaganda eleitoral do TSE, órgãos do governo, imprensa, igrejas e dos 35 partidos e suas dezenas de milhares de candidatos, uma onda crescente e gigantesca rechaçou as urnas e virou as costas à farsa das eleições.

O que muitos militantes que se reivindicam revolucionários não entendem, ao não conseguir pensar nem viver sem eleições burguesas, mais de 40 milhões de trabalhadores ensinaram outra vez: as eleições são um jogo de cartas marcadas, onde só se escolhe a cor do chicote que vai estalar no lombo dos explorados.

Renovação recorde de políticos e maior quantidade de mulheres na História não será capaz de renovar práticas políticas. Mas a população tentou…

Além dos cerca de 30% de eleitores que já se recusam a tentar mudar a podridão das eleições por dentro, a grande maioria dos demais que compareceu às urnas votou pela mudança. As assembleias legislativas do país inteiro tiveram um índice de renovação altíssimo, com pesos pesados da política não sendo reeleitos e a renovação no Congresso nacional passou dos 50%. Nas eleições para governador, também houve inúmeras surpresas e candidatos de 1ª eleição ou, ao menos, mais novos ou sem experiência no executivo, sendo os mais votados.

Romeu Zema em MG é o exemplo mais marcante disso, mas em quase todos os estados houve votações em pessoas novas, seja até então não-políticos, ou políticos com apenas um mandato. Do outro lado, nos casos em que não havia muita novidade em termos dos candidatos, todos mais ou menos velhos conhecidos, como a eleição presidencial, o voto foi majoritário em quem mais falou em mudança e se apresentou contra tudo; mesmo que não passasse de retórica e discurso vazio. O próprio Bolsonaro, de modo muito distorcido, por se tratar de um velho bandido, de mais de 20 anos atuando como inimigo dos trabalhadores, também surfou nesta onda de voto pela mudança. O que significa que votar para mudar não resolve coisa alguma. Mas é preciso reconhecer que houve este fenômeno em massa e que aqueles que ainda não romperam com a ilusão eleitoral, ao menos forma votar querendo que as coisas mudem.

Como expressão prática da não-reeleição de centenas de políticos tradicionais, ficaram de fora nomes como Romero Jucá (ministro no governo do PT e ex-líder do governo Temer), Eunício Oliveira (presidente da Câmara), Beto Richa (ex-governador do PSDB do PR, que espancou professores em greve), Requião (ex-goveernador do PR), Fernando Pimentel (governador de MG – um dos chefes da quadrilha do PT), Dilma Roussef (a candidata que mais teve tempo na TV e dinheiro para campanha e fracassou num 4º lugar para o Senado de MG), Roseana Sarney (MA), Edson Lobão (ex-ministro do PT e de Temer), Cássio Cunha Lima (PB), Mendonça Filho (PE – ex-ministro da educação de Temer), Eduardo Araujo (SP – ex-ministro das Cidades), Magno Malta (ex-base do PT, um dos líderes de Temer e apoiador entusiasmado de Bolsonaro), André Moura (SE – líder do governo Temer) etc.

Além de uma infinidade de oligarcas, coronéis e políticos corruptos em geral: Antonio Imbassahy (BA), Benito Gama (BA), José Carlos Aleluia (BA), Lucio Vieira Lima (do clã do Geddel, o ex-ministro do PT e de Temer, cujo apartamento tinha mais de R$ 50 milhões), Augusto Carvalho (DF), Roberto Freire (PE), Leonardo Quintão (MG), Paes Landim (PI), Luiz Carlos Hauly (PR), Osmar Serraglio (PR), Cristiane Brasil (filha de Roberto Jeferson, que nunca conseguiu ser nomeada como Ministra do Trabalho), Leonardo Picciani (RJ – do clã Picciani, cujo patriarca era o presidente da Assembleia Legislativa e chefe da quadrilha de Sérgio Cabral), Marco Cabral (RJ – filho do ex-governador), Danielle Cunha (RJ – filha do preso Eduardo Cunha) Beto Rosado (RN), Rogério Marinho (RN – pai da reforma trabalhista), Darcisio Perondi (RS – um pos porta-vozes de Temer), Yeda Crusius (RS – ex-governadora pelo PSDB), Beto Mansur (SP), Cristovão Buarque (DF), Zeca do PT (MS – ex-governador), Raimundo Colombo (SC- ex-governador),  José Agripino (RN), Antonio Jacome (RN), Garibaldi Alves (RN), Robinson Faria (RN), Vanessa Grazitin (AM), Tião Viana (AC), Lindberg Farias (RJ), Cesar Maia (RJ), Sarney Filho (MA), Marconi Perillo (ex-governador de GO) e outras centenas de políticos conhecidos que não há folha para tanto nome rechaçado nas urnas e colocado para fora pelos eleitores. Além de políticos que nem chegaram a concorrer, de tanta rejeição, como os ministros de Temer, Carlos Marum, Eliseu Padilha e Moreira Franco, além de Gilberto Kassab e outros.

No Senado, 54 vagas estavam em disputa (já que 27 só serão renovadas em 2022). Destas 54 vagas, houve 8 reeleições e 46 novos senadores. Uma renovação de 85,18%! Na Câmara dos Deputados, a renovação foi de 52%! Na Assembleia de SP, de 56%. E assim pelo país inteiro. O PSDB foi desmontado em SP, caindo de 19 deputados para 8! O PMDB foi arrebentado no RJ, caído de 15 eleitos em 2014 para 5 agora.

Nacionalmente, os 5 maiores partidos na Câmara dos Deputados perderam muito peso. O PT caiu de 69 para 56. O PMDB caiu de 65 para apenas 34. O PSDB caiu de 54 para 29 e deixou de ser um grande partido. PP (de Maluf e Ciro Nogueira), PSD (de Kassab) e PR (do ex-vice de Lula, José Alencar) também perderam deputados federais e encolheram nos estados. O PTB (de Roberto Jéferson), então, virou pequeno, caindo de 25 para meros 10 deputados. Em compensação, cresceram partidos inexpressivos como o PSL, ou o Novo, que nem existia. Houve ainda maior fragmentação eleitoral e o voto claramente foi contra os grandes partidos, identificados como o que existe hoje e precisa ser combatido.

Nunca houve uma vassourada deste porte, em termos quantitativos e da representação dos nomes colocados para fora pelos eleitores. Infelizmente, nada disso vai melhorar a situação do país, pois em seus lugares entrarão outros tão corruptos e burgueses quanto eles. Mas não se pode ignorar o sentimento explícito e gritante de mudança que veio das urnas. Aqueles que ainda acreditam em eleições fizeram, na sua maioria, o que puderam para mudar a política eleitoral e votar em novos nomes.

A população rejeitou todo o sistema e os políticos tradicionais. Recorde de mulheres eleitas e não-reeleição em massa das bancadas ruralista e da bala.

O fenômeno de não-voto e de voto no “diferente”, no “novo”, também tem seus limites. Não-votar mas não lutar também não serve para nada. Assim como votar para “mudar” colocando políticos novos com as mesmas opiniões dos velhos. Entretanto, se só a luta muda a vida e as urnas não são capazes de mudança para melhor, a intenção dos eleitores ficou clara: o desejo de acabar com a situação terrível que vivemos hoje e mudar de alguma forma. Os políticos, os partidos tradicionais e o sistema como um todo estão em crise e profundamente criticados pela imensa maioria da população.

Neste sentido, entraram para a Câmara e para as assembleias legislativas uma série de candidatos conservadores e até bizarros. Mas isso não significa que já não houvesse centenas deles, e que o eleitor tenha promovido o maior número de renovações e não-reeleição dos últimos tempos contra esta turma. O Congresso que foi eleito, por exemplo, teve um índice amplamente majoritário de derrotas eleitorais de ruralistas, militares e pastores. A chamada bancada BBB viu quase 70% de seus candidatos fracassarem nas urnas.

A bancada ruralista atualmente conta com 233 membros, e, conforme a própria associação que eles possuem para a atuação parlamentar, apenas 54 deles foram reeleitos. Conforme sites de notícia como o G1, o número seria maior, de 79 deputados reeleitos. De toda forma, 77% ou 66% dos atuais ruralistas foram mandados embora pelos eleitores. Da bancada da bala, formada por policiais, militares ou políticos ligados à área da segurança público ou forças de repressão em geral, dos atuais 299 integrantes (alguns são também ruralistas), apenas 82 foram reeleitos. Ou seja, 73% desta bancada foi enxotada da Câmara.

Na chamada bancada da bíblia, o grande nome, Eduardo Cunha, está não só cassado, como preso, e não conseguiu eleger sua filha. O novo líder máximo da bancada, Magno Malta, não conseguiu se reeleger. Idem Missionário José Olímpio, Bispo Antônio Bulhões (líder da Universal), o conhecidíssimo e fascistoide Valdir Raupp (RO), Irmão Lázaro e o líder da bancada evangélica, Takayama, ambos do PSC, partido que encolheu pela metade e não atingiu sequer a cláusula de barreira, rumando para a extinção.

Por outro lado, a bancada feminina nunca foi tão grande. O número de deputadas eleitas deu um grande salto, de mais de 50% de uma eleição para a outra. Nas assembleias legislativas de todo o país, o aumento também foi expressivo, de 35% em relação a 2014. Entre as mulheres eleitas, estão 3 candidatas ligadas à ex-vereadora Marielle Franco, também pelo PSOL-RJ. Mas a esquerda eleitoral não fala disso, mesmo sendo 3 mulheres negras, enquanto não se cansa de falar do fascistoide que se elegeu depois de quebrar a placa em homenagem à vereadora assassinada. Uma das mulheres eleitas também é a 1a indígena eleita na história do Congresso, pela Rede, e um discurso em defesa dos direitos humanos.

Outra vez, repetimos: isso não necessariamente muda o congresso para melhor. A maioria das mulheres eleitas antes e agora, assim como dos homens, é formada por burguesas. A classe trabalhadora e as pessoas vítimas de opressão não vão avançar por meio de mandatos, como não avançaram no mandato de Dilma, uma mulher que governou para o machismo e os opressores.

No entanto, estes números mostram, outra vez, que a intenção dos eleitores é dar mais voz às mulheres. E colocam mais um ponto de interrogação sobre as afirmações de que avança o fascismo. Mais de 70% das bancadas mais reacionárias não conseguem ser reeleitos, mais mulheres se elegem… Onde está a onda parlamentar fascista, se não apenas em exemplos particulares (que existem num sentido e noutro), que não se transformam em hipótese alguma em números coletivos?

Bolsonaro é inimigo dos oprimidos. O PT também. Negros e índios já sofrem um genocídio. 1 pessoa LGBTQ é morta a cada 19 horas e são agredidas sem parar.

No Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. O relatório da ONU de 2017 já trata a questão como sendo um genocídio. São 63 jovens negros (entre 15 e 29 anos) assassinados todos os dias! São 23.100 por ano, sendo 77% do total de mortes nesta faixa etária. Como um todo, o Brasil tem 59 mil assassinatos por ano, na imensa maioria de negros, sejam eles jovens, adultos, idosos ou crianças. Este número cresceu de 48 mil para 59 mil ao ano durante o período de 2005 a 2015, todo ele de governos do PT.

O genocídio negro já existe e só os hipócritas não veem. Pior ainda são aqueles que veem, que o denunciaram por tanto tempo, mas agora se calam, em campanha para o PT no 2º turno, ameaçando que a vitória de Bolsonaro pode trazer o genocídio ao povo negro. O genocídio já existia com o PSDB! O PT ampliou este genocídio de forma brutal! E, ganhe quem ganhar, seja ele Bolsonaro ou Haddad, se não for impedido pelas ruas e pela mobilização dos oprimidos e de todos os trabalhadores, aumentará ainda mais, com qualquer um dos dois.

Outro genocídio incontestável é contra os povos indígenas. Os povos pré-colombianos já vêm sendo exterminados há 5 séculos, impiedosamente, por todos os regimes e governos. Nas últimas décadas, a principal ameaça aos índios é a expansão agrícola, que derruba floresta para plantar soja ou criar gado. Já foi a extração madeireira e o garimpo, que ainda seguem existindo com força e expulsando índios de suas terras, envenenado seus rios e matando suas lideranças, que ousam enfrentar fazendeiros, comumente ligados aos políticos, do PSDB, PT e PMDB, na imensa maioria. Mas a soja e o gado vieram para arrebentar de vez com o que sobrou de terra indígena e de suas comunidades.

Os conflitos por terra no sul do Pará, em toda a Amazônia, Mato Grosso, Tocantis, Maranhão, Roraima e Rondônia são impressionantes. Há dezenas de líderes mortos a tiros, pauladas e com facões. Casos de índios com mãos decepadas e aldeias inteiras incendiadas. Considerando que já são uma pequena população, estas centenas de mortes representam um genocídio, ainda mais que não se resumem aos assassinatos, mas à retirada da terra, da cultura e da própria existência como uma população comum.

Após 11 anos de governos do PT, o próprio Conselho Indigenista Missionário, ligado à CNBB e sempre próximo do PT, contabilizou um aumento médio de 269% dos assassinatos de índios nos governos do PT em relação aos anos de governo do PSDB, que já era inimigo dos indígenas. Com FHC, houve absurdas 20,8 mortes ao ano. Mas com Lula, houve 56,5 mortes ao ano! Índice mantido por Dilma, com 54 índios assassinados por ano. São centenas de mortos e áreas inteiras tomadas à força. O genocídio já está aí! E o PT nunca fez nada para deter. Ao contrário, nomeou Kátia Abreu, a “motosserra de ouro”, a rainha do genocídio á frente da CNA para ser ministra da Agricultura. Kátia Abreu morreu abraçada a Dilma e agora foi candidata a vice de Ciro Gomes. Eles são todos iguais!

Se FHC só homologou 148 áreas indígenas em 8 anos, Lula e Dilma, em 11 anos, só hab=viam homologado 84! Com 3 anos a mais. Na reserva de Dourados (MS), 13 mil guarani-kaiowa vivem em minúsculos 3,5 mil hectares, uma densidade demográfica altíssima comparável á das piores favelas do Brasil. houve uma época em que todos éramos guaranis-kaiowas. Eles estavam ameaçados de extermínio e ameaçaram colocar fogo em si mesmos para poder se defender e protestar. Hoje, ninguém mais fala nos guaranis-kaiowas. Parece que não existem nem nunca existiram. É um crime que descendentes de indígenas apoiem Bolsonaro! Mas igualmente inaceitável que apoiem Haddad ou Ciro/Kátia Abreu.

Quando tratamos da defesa da liberdade de orientação sexual e contra a LGBTQfobia, o inferno também já está à nossa volta. O Brasil é o país em que mais se mantam LGBTQs do mundo! Todos lembram do ataque com lâmpadas fosforescentes a 3 jovens na Avenida Paulista em 2010. Todos lembram… apesar de alguns quererem se esquecer. Em pleno governo Lula. Houve a travesti morta em Fortaleza, o vendedor trans morto no RJ… Crimes bárbaros e revoltantes. Milhares deles… nos governos Lula, Dilma, Temer. E antes deles nos governos de FHC e daí para trás. Mas não são casos individuais que nos provarão nada. São as estatísticas gerais.

E os números mostram que a cada 19 horas uma pessoa LGBTQ morre assassinada no Brasil! Segundo o Grupo Gay da Bahia, referência nesta questão, estes assassinatos subiram de 130 em 2000 para 260 em 2010 e 445 em 2017! E esta curva é contínua, com mais assassinatos todos os anos! No governo Lula, a LGBTQfobia aumentou! Com Dilma e Temer mais ainda! Outra vez, não precisamos de Bolsonaro ou Haddad para que vivamos o inferno da intolerância e dos crimes contra a livre orientação sexual. Um eleitor de Bolsonaro ser indiferente a este massacre é repugnante, mas um eleitor do PT fingir que ele não existe é uma postura cúmplice de cada um destes assassinatos.

Bolsonaro verbaliza e fala o que o PSDB, o PT e o PMDB já fazem. Eles são todos inimigos dos oprimidos e responsáveis pelo assassinato em massa de negros, índios e LGBTQs. Ainda trataremos das mulheres no próximo tema, mas a realidade não é diferente. Escolher qual apoiador do genocídio e qual racista e LGBTQfóbico vai nos governar não é papel dos trabalhadores. Porque Bolsonaro e Haddad são diferentes no discurso, mas cúmplices e responsáveis dos mesmos crimes na prática. Nosso papel é lutar nas ruas contra ambos!

Barbárie machista: 60 mil estupros por ano, proibição do direito ao aborto e violência à mulher generalizada.

Acabando o mandato para o qual foi eleita a chapa Dilma/Temer, o número de estupros não parou e não para de crescer. A cada 10 minutos uma mulher é estuprada no Brasil! São 164 destes crimes bárbaros e que destroçam a vida das mulheres, todos os dias. Ao todo, foram mais de 60 mil casos apenas no ano passado! E a realidade ainda é muitíssimo pior do que estas estatísticas, pois é consenso entre os especialistas que este é o crime mais subnotificado que existe, seja pelo medo de represálias (a maioria dos estupros é cometido por alguém conhecido da vítima), pela vergonha ou falta de confiança que a polícia vá fazer alguma coisa. Estimativas projetam que os registros sejam próximos de apenas 10% dos casos totais, o que elevaria os estupros dos já assustadores 60 mil a escandalosos 600 mil casos ao ano! É uma epidemia de estupros por todos os lados, e uma violência tão presente que não deixa nenhuma mulher viver ou ter suas atividades sem estar permanentemente com medo.

Esta é uma violência terrível e hedionda, onde mais da metade das vítimas são menores de idade, crianças e adolescentes! E estes números vêm crescendo vertiginosamente nos últimos anos. Em SP, subiu 10% em um ano, no DF o aumento foi de 32%! Em todo o Brasil, em média, em apenas 5 anos, os casos notificados entre 2011 e 2016, praticamente dobraram! Ou seja, durante o governo do PT, e mais ainda no governo Dilma, uma mulher, o número de estupros explodiu! Outro exemplo inquestionável de que as mulheres já vivem na barbárie diariamente, e que Bolsonaro e Haddad só irão agravar este cenário, cabendo aos trabalhadores impor a mudança desta triste e inaceitável situação.

No tocante às demais agressões às mulheres, os dados são igualmente impressionantes. o 12o Anuário de Segurança Pública publicado em agosto deste ano, quando começava a campanha eleitoral, mostra que o Brasil teve 221.238 casos de violência doméstica em 2017. Mais de 221 mil casos! São 606 por dia! Isso é mais do que o dobro do que poucos anos atrás. Mesmo que se alegue que parte deste aumento extraordinário se deva ao aumento das denúncias de agressões que já existiam, a maior notificação, por si só, não explica tudo e sequer a maior parte deste aumento. Os registros estão tão espantosamente maiores porque realmente há multo mais mulheres agredidas hoje em dia. A libertação sexual, a luta por mais independência e a crise econômica, por outro lado, colocam as mulheres na linha de agressão de machistas cada vez com mais frequência e ferocidade. Não é preciso um novo presidente em 1o de janeiro de 2019 para que o inferno já exista para as mulheres. Um inferno construído por todos os partidos, e que foi agravado absurdamente durante os governos Lula/Alencar e Dilma/Temer.

A não-legalização do aborto é outra violência inominável. Obrigar mulheres a que sejam mães contra a vontade, e que não tenham o direito de decidir sobre seu corpo e sua reprodução é uma violência enorme, que, além dos incontáveis danos físicos e psicológicos, também mata! Foram 211 mulheres mortas por abortos clandestinos em 2015 no Brasil, último ano do governo Dilma, e um dos anos com maior número de mortes registradas. É a 4a maior causa de morte materna no Brasil, e se estima que haja 25 mulheres que quase morrem para cada uma que morre. Ou seja, foram mais de 5000 mulheres que correram risco de morte, das quais inúmeras tiveram sequelas para toda a vida, apenas em 2015. Outra vez, os governos do PT não fizeram absolutamente nada para isso; ao contrário: apenas agravaram a situação.

Não custa lembrar que foi o PT quem assinou um acordo especial com o Vaticano para que haja ensino religioso católico nas escolas públicas do Brasil. Um soco no estômago de um Estado laico que muitos dos eleitores do PT pensam estar defendendo ao votar em Haddad. O compromisso de Dilma junto às igrejas evangélicas em 2006, prometendo nunca colocar em votação ou aprovar a legalização do direito ao aborto foi outra vergonha histórica, que o PT irá repetir caso Haddad conquiste um 5o mandato consecutivo.

As eleições nunca mudaram a vida dos trabalhadores, e as mulheres sofreram agressões em cada um dos anos dos governos do PSDB, do PT e do PMDB. Não há candidato feminista nem sequer aliado das mulheres neste 2o turno. Haddad e Bolsonaro irão agravar ainda mais a violência contra as mulheres, pois foi isso que os governos que sempre apoiaram já fizeram. Ambos irão pagar os juros da dívida externa, governar para banqueiros e se ajoelhar diante do machismo e dos fanáticos religiosos, jogando a crise principalmente para as mulheres mais pobres, negras e indígenas.

Outra vez, uma falsa polarização. Bolsonaro e Haddad se criticam, mas são farinhas do mesmo saco.

Para muitos, a eleição, desde o primeiro turno, assumiu um tom maniqueísta e falsamente polarizado, de “PT x antiPT” ou, como a outra face da mesma moeda, “Bolsonaro x antiBolsonaro”. No entanto, além de, politicamente, esta polarização ser uma ilusão, pois ambos são muito mais parecidos do que a maioria consegue compreender, sequer eleitoralmente esta polarização foi absoluta, embora tenha, de fato, existido. Sobre o conjunto dos mais de 147 milhões de eleitores, Bolsonaro fez pouco mais de um terço dos votos: 33,46%. Haddad  fez pouco mais de um quinto, ou 21,26%. Juntos, passaram por muito pouco da metade dos eleitores. Isso quer dizer que, apesar de toda a excitação de eleitores de Haddad e Bolsonaro, comparado à soma dos votos em ambos, houve uma quantidade quase tão grande de eleitores que disse “eles não!”.

 Se para cada eleitor do Bolsonaro, houve outros 2 que não o escolheram, o que o deixa longe de ter a maioria de apoio; e para cada eleitor de Haddad, houve outros 4 sem votar nele; Ciro Gomes teve 1 eleitor em cada 11 pessoas, com apenas 9,06% dos votos. O outrora poderoso PSDB saiu destroçado das urnas, com uma bancada de metade de deputados, tendo tomado uma surra nas eleições para o Senado e governos estaduais e pífios 3,46% em Alckmin a presidente. Quer dizer: houve um eleitor tucano a cada 29 pessoas! Meirelles, do MDB, o “maior partido do Brasil”, e com a máquina da presidência de Temer, precisaria reunir 83 pessoas para achar um eleitor seu, com 1,2%. Um índice de candidato nanico, como o de Marina Silva com 1% ou Álvaro Dias, com 0,8%, sendo ambas figuras conhecidíssimas. Por último, Guilherme Boulos, na candidatura com menos votos em toda a história de eleições presidenciais do PSOL, e seus 0,4%, que exigiram uma pequena multidão de 250 pessoas para se poder encontrar um eleitor seu.

Mas qual o significado destes números? Eles servem para demonstrar que a polarização absoluta que aparece nas redes sociais e outros ambientes de militantes pagos, perfis fakes e uma pequena burguesia ativista de computador, não é, necessariamente, a distribuição real de opiniões do conjunto da população. O “ativismo” virtual e o exagero conveniente de petistas e bolsonaristas em enxergarem apenas a si mesmos como as 2 opções possíveis, falsifica o fato deles juntos terem sido apenas metade dos eleitores no 1o turno. Não que qualquer outro candidato tenha rompido esta polarização, já que os votos de todos foram um fracasso retumbante. Mas é uma falsa polarização por ignorar que quase 30% da população se recusou a votar em qualquer um.

Ao invés de compreender este fenômeno do não-voto e tentar politizá-lo para uma saída combativa dos trabalhadores, contra os 50 tons de direita apresentados nesta campanha por todos os candidatos que tiveram ao menos 100 mil votos a presidente, a “esquerda” prefere mais uma vez desprezar aqueles que rompem com a ilusão democrático-burguesa. Prefere, ao contrário, chantagear, ameaçar, combater e tentar pintar o apocalipse como forma de convencer quem já não acredita nesta farsa que são as eleições a voltar a acreditar, a voltar a se iludir, a tentar provar que o voto pode sim fazer a diferença e que, mais do que isso, vai decidir entre a vida e a morte, e decidir nosso futuro.

Este alarmismo eleitoreiro é tão cínico como reacionário, e contaminou o debate a um ponto de se rebaixar muito mais baixo que o princípio da independência de classe poderia admitir. A situação chegou ao ponto de se implorar o apoio de FHC! Do PT oferecer ministérios ao PP, o ex-partido de Bolsonaro, onde ele passou 20 anos de sua vida política, e cujo presidente nacional, Ciro Nogueira, é cabo eleitoral do PT desde o 1o turno!

PT e Bolsonaro estão juntos no amor ao PP de Maluf, Delfim Neto e centenas de bandidos egressos da ditadura (ARENA, depois PDS e agora PP) e envolvidos no maior número de escândalos de corrupção dentre todos os partidos. Bolsonaro e o PT se lambuzaram com o PP neste tempo todo. Bolsonaro recebeu repasses de verbas de propina nas suas campanhas, além de só ter se elegido na maioria das vezes graças ao somatório de seus votos e dos demais criminosos do PP. O PT negociou apoio e tempo na TV em troca de cargos, loteando a Petrobrás, a Caixa e dezenas de estatais e autarquias à quadrilha do PP. E agora Haddad acaba de prometer mais cargos e ministérios em troca de novo apoio. Justamente o mesmo PP que ajudou no impeachment de Dilma agora é cortejado novamente.

Bolsonaro e o PT não têm escrúpulos, e ambos já mudaram de aliados e inimigos conforme a conveniência. Bolsonaro, inclusive, já foi da base e apoio e sustentação de Lula ao longo de seus mandatos. Não apenas já foi da base de Lula, como Bolsonaro votou e chamou voto em Lula no 2o turno de 2002, depois de apoiar Ciro Gomes no 1o turno da mesma eleição. Vejam só que curioso: os votos de Bolsonaro em 2002 (Ciro no 1o turno e PT no 2o) são os mesmos de muitos ativistas nesta eleição de 2018, que justificam o voto em 2 patrões justamente para “derrotar” Bolsonaro.

A diferença é que o voto em Lula em 2002 era não apenas aceitável como progressivo, pois o PT ainda não tinha sido governo e nem era ainda um partido burguês. Votar em Lula em 2002 ainda era votar num partido operário oportunista e traidor, mas de esquerda. Hoje, para votar contra o deputado que fez parte do governo Lula, setores da “esquerda” defendem a candidatura conjunta do PP, de FHC e do PT de 16 anos e 4 mandatos depois, totalmente de direita, neoliberal, corrupto e burguês. É o mundo dando voltas…

Bolsonaro já havia feito campanha para Lula em 1994. Chamou Lula de “companheiro” e “nosso querido Lula”, além de ter dado nota 10 a um discurso do ex-presidente, hoje presidiário, e ter defendido José Genoíno para ser ministro da Defesa. Bolsonaro e o PT já foram governo juntos, fizeram campanhas do mesmo lado em inúmeras eleições e igualmente são expressões burguesas e neoliberais para o país!

Com um ou outro, a Caixa está ameaçada de ser privatizada, tendo seu capital aberto. Dilma acusava Aécio de querer vender o banco, ao mesmo tempo que dizia que não cortaria direitos “nem que a vaca tussa”. Pois a vaca tossiu, Dilma anunciou a privatização da Caixa e o desmonte do abono do PIS, do seguro-desemprego e uma mini-reforma da Previdência atacando em especial as viúvas pensionistas. Bolsonaro apoiou todas estas ações. Os trabalhadores, quando lutaram contra estes ataques, tiveram que enfrentar Bolsonaro, o PT e os demais partidos burgueses, que brigam por votos, mas estão de mãos dadas sempre que há um ataque mais grave.

Bolsonaro e o PT pagarão sem contestar os juros da dívida pública, que consome mais de 40% do orçamento público. Bolsonaro e o PT não retomarão o monopólio estatal do petróleo no Brasil, nem voltarão a uma Petrobrás ou BB 100% públicos. Ao contrário: ambos vão vender ainda mais ações de ambas empresas, fatias do BB (cartões, seguros, etc.) e entregarão ainda mais poços de petróleo e gás. Foi o que o PT aplicou em 14 anos! Foi o que Bolsonaro sempre apoiou. Da mesma forma, ambos vão propor novos ataques aos aposentados com uma Reforma da Previdência. Como a que Lula fez em 2003 (quando Bolsonaro votou contra), e como FHC e Dilma também fizeram.

Com Bolsonaro ou o PT, os recursos da saúde e da educação seguirão sendo cortados, a reforma agrária não vai existir e o agronegócio seguirá mandando no país junto com os banqueiros. Tanto o PT já teve o mesmo Henrique Meirelles de Temer comandando a economia, como Bolsonaro fala em manter o presidente do Banco Central de Temer, caso eleito. Ou seja, são os mesmos ataques, é a mesma política econômica… PT e Bolsonaro andaram muito mais juntos do que se imagina nestas últimas décadas e a recente hostilidade exacerbada entre ambos é um movimento calculado dos 2 lados: ambos crescem muito mais do que realmente teriam de apoiadores ao serem o “arquirrival” um do outro.

Uma polarização falsa e que esconde o quanto estiveram, estão e seguirão estando juntos na defesa do capitalismo, dos interesses dos grandes burgueses e contra as condições de vida da maioria da população. Uma polarização política de araque e que ainda esconde que, no campo do voto tampouco só há estes dois “polos”: houve a haverá um setor quase tão grande como o do 1o colocado e maior que o 2o colocado que é o daqueles que se recusam a votar em qualquer um. Que sabem que um trabalhador não pode votar em nenhum destes inimigos da nossa classe!

A quem serve o discurso de “luta” contra o “fascismo”?

Sempre que está desgastado e desmoralizado, o PT cria um “inimigo externo” para unificar os setores que até então o criticavam, sob o medo e o risco do “mal maior”. Na década de 90, o PSDB era o mal maior, e o PT seria a salvação. Na vida real, o PSDB retirou direitos, privatizou e atacou aposentados, sendo derrotado em 2002 e dando lugar ao governo Lula, que retirou direitos, privatizou e atacou aposentados.

Mas o PSDB ainda era o partido da corrupção e da “privataria”. Até que estourou o escândalo do mensalão, do cuecão e do petrolão, e a bandeira da “ética na política” deixou definitivamente a propaganda do PT, que passou a chamar a luta contra a corrupção de “moralismo”, “reacionária”, “udenista”, “golpista”, etc. Cada vez mais o PT era o espelho do PSDB, e a cada eleição fazia malabarismos para seguir agradando ao mercado e aos banqueiros, empreiteiros e agroindustriais, para quem sempre governou, e de quem sempre recebeu as maiores verbas de campanha (mais até que o PSDB, desde 2002). Ao mesmo tempo, O PT tinha que manter a ilusão de parte de seus eleitores de que o neoliberalismo do PSDB era “mau” e o deles era “bom”.

A enganação deu certo em 2006, 2010 e 2014. A tática foi sempre a mesma: ameaçar com a volta das privatizações e medidas neoliberais. Mesmo que, como governo, aplicasse as mesmas medidas! Chegava outubro e o fantasma estava sempre à espreita: a volta do PSDB… Em 2014, o terrorismo midiático petista sobre o fim dos tempos que adviria da volta dos tucanos bradava que eles privatizarariam a Caixa e mexeriam nos direitos dos trabalhadores. Não adiantou Aécio dizer 100 vezes que não faria isso, pois se sabia que ele faria. Então, Dilma foi eleita para impedir ele de tomar estas medidas com o “voto crítico” de milhares de “ativistas de esquerda” que diziam que até não concordavam com o PT, mas era necessário votar contra o PSDB… E, com as urnas ainda quentes, foi Dilma quem anunciou exatamente todas as medidas que dizia que iria impedir…

Mas o PSDB só virou alvo do PT no 2 turno de 2014, No 1o, o grande alvo de fake news e uma campanha violenta foi Marina Silva, que poderia ir ao 2o turno e ganhar a eleição. O PT, então, poupava o PSDB (a quem queria no 2o turno, pois sabia que poderia fazer o jogo do “bom x mau” mais fácil), e colocava propagandas no ar que diziam que a comida sumiria da mesa no caso de Marina ganhar… Outra vez, a direção do PT conseguiu seu propósito…

Dilma, reeleita e à frente do governo pior avaliado de todos os tempos até então, e com o país afundado na maior recessão de sua História, entre outras coisas por estar faltando comida na mesa da população e direitos terem sido cortados, viu a imensa maioria da população querendo o fim de seu governo. O PT, então, fez uma autocrítica, ou mudou seu rumo? Não. Apenas reinventou sua narrativa e passou a ser o partido que resistiria ao “golpe”. Um novo fantasma foi criado…

O “golpismo”, aliás, passou a ser o grande mote petista desde então. A “esquerda” já cansada de todas as traições do PT e enganada vergonhosamente uma vez atrás da outra foi levada a escolher entre “a democracia e os golpistas”. Como uma novela barata, com uma trama péssima, atores canastrões e em que todos já sabem o fim da história, pela centésima vez, muitos dos que já haviam jurado que “agora, o PT passou dos limites e eu não voto nunca mais” voltaram às suas redes sociais e se engajaram na nova cruzada: não era pelo PT; era contra o golpe… Mas o repertório nunca acaba. Se já está manjado, muda-se o nome dos personagens e recomeça tudo outra vez. Agora, o fantasma é o fascismo…

O mais impressionante para os que, como nós, observam sem aderir à esta ópera-bufa, à esta comédia pastelão, que não tem graça nenhuma, pois arrasta milhões de pessoas à paralisia sem lutar, esperando uma salvação de quem os ataca, sempre com medo de um caos e um de um fim dos mundos artificialmente fabricado, é que, assim como nos piores roteiros, os personagens mudam de lado sem nenhuma explicação.

A Globo era inimiga, mas por 14 anos ganhou bilhões e foi aliada, mas depois voltou a ser inimiga e golpista, para agora ser aliada de novo, pois ao menos é “democrata contra o fascismo”. O PMDB era inimigo, virou aliado, vice por 6 anos, e depois caiu em desgraça como golpista, mas agora é democrata e aliado de novo, como deixa claro o apoio do PT à família Barbalho no Pará. Democrata e aliado também voltou a ser FHC, que era golpista até algumas semanas atrás, e foi inimigo por 20 anos, mas, antes disso tudo era aliado, lá no início dos anos 80… Bolsonaro era da base de apoio e cabo eleitoral em 1994 e 2002, mas agora é a encarnação do diabo… O “coiso”…

George Orwell, autor de livros geniais como “A Revolução dos Bichos” e “1984”, mais que um escritor era um defensor do socialismo, mas profundo crítico do stalinismo, e ficaria espantado com tanta simetria de suas ficções com o que vemos hoje. Em “1984”, o mundo é dividido em três grandes blocos: Eurásia, Lestásia e Oceania que estão sempre em guerras e alianças, alternadamente. Na Oceania, bloco governado pelo Partido cujo chefe é o onisciente e infalível “Big Brother”, o “Ministério da Verdade” é o setor do governo encarregado de recontar a verdade milhares de vezes por dia, cada vez que o contexto político se altera. A Oceania estava em guerra com a Eurásia e era aliada da Lestásia, mas agora as coisas se inverteram, logo os jornais são reescritos e “nunca houve guerra contra a Eurásia”. “A guerra sempre foi com a Lestásia”. Assim, o Partido nunca se engana ou erra e os cidadãos não possuem memória. Qualquer semelhança com a realidade atual não é mera coincidência…

É tanta falta de coerência que poderia ser inacreditável que desse certo sempre… Mas esta tática é brilhante e consiste na velha lógica de estabelecer um inimigo maior e apelar ao “bom senso da escolha do mal menor”. Faz séculos que isso é aplicado e vem funcionando. O stalinismo foi um dos campeões da aplicação desta falácia. “Ruim comigo, pior com eles”…  “Quem critica nossas ações faz o jogo ou é agente do inimigo”… e assim por diante. Gerações de militantes valiosos foram ganhos para este raciocínio tão tacanho quanto eficiente, pois dialoga com o senso comum, com o medo, a inércia e a acomodação social que pressionam a imensa maioria das pessoas, inclusive dos trabalhadores, que só aderem à revolução em casos absolutamente extremos, desesperadores, e que estão quase sempre dispostos a encontrar uma solução mágica e de menor esforço, um mal menor confortável e que exige menos suor.

O PT sabe jogar com este atraso e este medo como ninguém. E o número de enganados pelo PT, mais uma vez, não é pequeno. O fantasma, agora vestido de fantasma do fascismo, enganou muita gente outra vez, Mas desta vez, parece que não será o suficiente. Suas traições foram longe demais. Abandonado pela classe trabalhadora gradativamente entre 2012 e 2016, passando pelo levante de 2013 e manifestações de massa contra a Copa em 2014, o PT foi derrubado com o apoio das massas, que vibraram pela queda de Dilma e não suportam mais as mentiras do PT, ao ponto de estarem por um fio de eleger um candidato truculento, com declarações desastrosas e inimigo dos trabalhadores cujo maior “mérito” aos olhos do eleitorado é ser anti-PT.

A verdade é que não existe fascismo nenhum nas ruas do Brasil, nem o governo Bolsonaro representará uma mudança de regime político. Não existirá uma ditadura no país e a democracia-burguesa, que é, sempre foi e continuará sendo uma das facetas da ditadura da burguesia contra os trabalhadores, seguirá usando a reação democrática e a ilusão eleitoral para manter a massa paralisada. A tática principal da burguesia mundial hoje é a de convencer a massa que se a vida está ruim, o voto é a principal arma, e as eleições são o grande momento para garantir avanços ou evitar retrocessos. Uma mentira que todos os candidatos repetem, incluindo Haddad, Bolsonaro, Guilherme Boulos, Ciro Gomes, etc.

O fascismo é um produto de uma inexistência de alternativas para uma burguesia ameaçada de perder tudo, que apela ao fascismo como um fenômeno histórico de violência brutal e generalizada, incluindo a liquidação física de milhões de trabalhadores, a destruição de suas organizações e do próprio conjunto de instituições burguesas tradicionais. Para ser implantado, exige um proletariado destruído e uma correlação de forças amplamente favorável à burguesia. Sob qualquer aspecto que se analise a realidade e a comparação histórica com os fascismos reais que tragicamente a luta de classes já presenciou, nossa situação atual não tem absolutamente nada a ver com isto. Marx disse que a História acontece como tragédia e depois se repete como farsa. Pois a farsa poucas vezes foi tão patética como agora.

Mesmo no auge da “luta contra o fascismo” e “pela civilização”, o PT segue dando declarações e construindo alianças cada vez mais à direita, sem realizar um único chamado à luta nas ruas ou a um programa de combate ao “fascismo” com medidas claras anticapitalistas, já que o fascismo só existiu na História para defender com armas na mão e banhos de sangue um capitalismo que estivesse ameaçado de ser derrubado pelos trabalhadores. Caso houvesse mesmo um movimento fascista concreto, votar no Haddad para impedir isso não seria cômico, nem seria só trágico. Seria vergonhoso mesmo…

Chamar tudo de fascismo é uma forma de exaltar a democracia-burguesa!

No Brasil, o PT e seus apoiadores mais exaltados e menos pensantes já chamaram incontáveis políticos de fascistas: FHC na repressão do aniversário dos 500 anos da invasão portuguesa ao Brasil em 2000, ou na repressão às greves, como a dos petroleiros em 95 ou das Universidades em 2001; chamou de fascista Beto Richa ao reprimir professores no PR; Alckmin ao mandar bater em manifestantes ou pelo simples fato de ser da Opus Dei; etc. E assim com vários e vários outros políticos burgueses, em geral do PSDB, sempre que ocorria alguma ação violenta por parte do Estado.

Adjetivar de fascismo toda ação de repressão aos trabalhadores ou qualquer frase ou ideologia opressora, como o machismo, o racismo e a LGBTQfobia é tão equivocado como reformista e oportunista. Exatamente porque os social-democratas e capitalistas “de esquerda” acreditam que a democracia-burguesa é um paraíso de liberdades civis e direitos sociais. Se tem agressão, violência e repressão, na cabeça do reformista, isso já não é mais a democracia-burguesa – é o fascismo. Não, caros sociais-democratas! A democracia-burguesa mata! Todo regime sob o Estado burguês é uma ditadura de classe, uma máquina de guerra da burguesia contra o proletariado.

A democracia-burguesa, antes de ser uma “democracia” para poucos, é uma ditadura da classe dominante, assentada na principal instituição do Estado burguês que são suas Forças Armadas. Ela se mantém através da ilusão eleitoral (reação democrática), da traição da direção do movimento operário, mas, sempre, tem as Forças Armadas como seu último resguardo. Nenhum governo democrático-burguês pode prescindir da violência contra os trabalhadores. Em maior ou menor grau, todos os governos burgueses são opressores, matam e reprimem os trabalhadores.

Imaginar que as Forças Armadas são uma entidade à parte, eternamente conspirando contra a democracia-burguesa, e que se enfrenta com os demais poderes, é uma ilusão reacionária. É concentrar na instituição que existe justamente para defender os interesses dos capitalistas, e que atua em conjunto com os governos, congressos, judiciário e imprensa, um caráter externo a todas as instituições “democráticas”, como se houvesse o capitalismo bom e democrático versus o capitalismo autoritário, golpista e agressivo, representado pelas Forças Armadas. Isto demonstra o desconhecimento histórico, teórico e lógico sobre tudo.

O Estado burguês é uma ditadura de classe, com a articulação de suas instituições no sentido de esmagar o proletariado, e as Forças Armadas são parte constante desta repressão, seja o regime que for. O PT já massacrou grevistas no país todo. Olívio Dutra mandou bater em sem-terras e professores no RS quando governador ainda nos anos 90. Jaques Wagner bateu em manifestantes na BA. Tião Viana fez isso no Acre; Humberto Costa em PE; Pimentel em MG; e assim por diante.

Lula e Dilma criaram a Força Nacional, um destacamento de repressão pura, em nível nacional, de elite, cuja função é unicamente garantir a ordem capitalista e agredir manifestantes. Com esta força, que deveria ser chamada de fascista pelos embriagados com a democracia-burguesa, e com a “lei antiterror”, igualmente fascista por este prisma, Dilma impôs toque de recolher, Estado de exceção e a maior militarização do país desde a ditadura. Tanques e pelotões do exército foram chamados às ruas um sem-número de vezes pelo PT: desde para reprimir atos durante a Copa; para “garantir a segurança” em vários estados, repetidas vezes; ou manter a ordem em eleições; e mais dezenas de vezes.

O PT recolocou os milicos nas ruas e atribuiu a eles o papel de segurança urbana que desde a ditadura ninguém tinha ousado fazer. A “intervenção militar” no RJ é a continuidade de Temer sobre tudo isso. Mas nada vai superar em termos de agressão militarista e “fascismo” a invasão ao Haiti. Lula, a mando dos Estados Unidos, invadiu o Haiti e manteve por mais de 10 anos, junto com Dilma, uma ocupação criminosa para massacrar a população mais pobre do continente. Depois desta década de agressão militar a serviço do imperialismo, o PT e as tropas de ocupação brasileiras deixaram o Haiti ainda mais pobre, tomado por doenças, casas em escombros e destruição geral. Fascismo, fascismo e fascismo, deveriam gritar os social-democratas.

Alguém, então, poderia dizer: mas Bolsonaro disse que não vai mais ter nenhum ativismo no governo dele. Em primeiro lugar, querer não é poder. A correlação de forças atual não permitiria que governo nenhum (de Bolsonaro ou de quem fosse) implantasse uma ditadura, e muito menos um regime como o do fascismo; e o ativismo e as lutas vão se manter. Em 2º lugar, declarações de ameaça aos trabalhadores não são exclusivas de Bolsonaro.

Nas eleições de 2006, a candidata do PSOL, Heloísa Helena, ameaçou a Bolívia e os trabalhadores bolivianos que paralisavam as atividades da Petrobrás no país, dizendo que, com ela, não haveria a leniência do governo Lula em tratar com a situação. Também afirmou que num governo dela não haveria mais nenhuma ocupação de terra. Como obviamente não seriam resolvidos todos os conflitos de terra, podemos imaginar de onde viria a garantia de não haver mais nenhuma ocupação.

Nestas eleições, o coronel oligarca Ciro Gomes, burguês que já espancou e reprimiu manifestantes de todos os tipos no Ceará, e que já fez parte de governos que reprimiram lutas desde Itamar, FHC e Lula, deu uma declaração ainda mais violenta. Afirmou que num governo dele, caminhão nenhum iria interromper estrada. E não deixou dúvidas de como reprimiria os trabalhadores: chamaria o exército! O “fascista” Ciro Gomes, com sua também fascista vice, Kátia Abreu, esta sim uma mandante de genocídio contra os índios e líderes camponeses; no entanto, foi apoiado com entusiasmo e quase sem crítica, por boa parte da esquerda… Uma chapa “fascista” completa, pelo viés dos reformistas, se tivessem alguma coerência.

O curioso é que todos os “antigos fascistas”, acusados disso durante mais de 20 anos, agora se tornaram “aliados da democracia”! Todo o PSDB, o PMDB, Ciro Gomes e quem mais for, são democratas na luta contra o fascista Bolsonaro. Até a Globo, Veja, Isto É, Infomoney e todas as demais fontes de imprensa burguesa, execradas até ontem, são citadas para provar que Bolsonaro vai começar o fascismo.

O fascismo não é nada disso! O PT não é fascista, Beto Richa não é fascista, Ciro Gomes e até a Katia Abreu não são fascistas, Alckmin e sua Opus Dei não são fascistas e um governo Bolsonaro não seria fascista. Por mais que haja repressão aos movimentos sociais e ações de opressão, o capitalismo não sobrevive sem repressão, sem racismo, sem machismo e sem LGBTQfobia. Ou até as lições mais básicas do classismo as pessoas jogaram no lixo? A violência não é uma exceção, algo externo e incompatível com a democracia-burguesa. Ao contrário: é parte fundamental dela. O regime democrático-burguês, é, antes de ser democrático (para os burgueses), uma versão menos dura, mas ainda assim parte, do terror de Estado da ditadura burguesa contra os trabalhadores.

O reformismo acredita em fascismo e socialismo pelas urnas.

O ponto chave que permeou a discussão da esquerda na 2ª metade desta campanha presidencial de 2018 foi se há fascismo ou não às portas do Brasil. Dizemos 2ª metade das eleições porque, curiosamente, na 1ª metade dela, quando convinha ao PT ir a um 2º turno contra Bolsonaro (imaginado como um radical, de um partido pequeno e mais fácil de ser derrotado), o “fascismo” mal era mencionado, e as principais críticas eram contra o PSDB ou a campanha era simplesmente para explicar que “Haddad é Lula”.

Deixando de lado a fase em que Bolsonaro era o adversário preferido num 2º turno, vamos à 2ª fase: quando, convenientemente a um partido desmoralizado, traidor do povo e burguês, que é o PT, o espectro do fascismo passou a rondar o Brasil… O que mudou no Brasil em tão pouco tempo para sairmos de uma Greve Geral em 2017, ondas de ocupações estudantis às escolas, milhões de mulheres lutando e greves de caminhoneiros, professores e dezenas de outros setores; para um cenário pré-fascista? O fascismo é um fenômeno eleitoral? Um candidato fascista vai lá, se candidata e, se ganhar, implanta o fascismo? Se é assim, um candidato comunista, se ganhar a eleição vai implantar o comunismo? Pelo voto?

Evidentemente que não! Para a pequena-burguesia e seus analistas políticos, inclusive muitos que se entendem como marxistas, mas cujas elaborações são completamente idealistas, os fenômenos são decididos, essencialmente, na superestrutura. Logo, se uma mulher é eleita, isso é o triunfo feminista; um negro é um triunfo anti-racista e um trabalhador é a prova de que “agora o governo é nosso”. Já se ouviram falar exatamente estas frases nas eleições de Dilma, Obama e Lula, dentre outros tantos. Sempre ilusões… Esta ideologia, como falsa consciência, faz parte da concepção eleitoreira, pacifista e completamente adaptada ao capitalismo, de que o Estado ou o regime são neutros e adquirem o conteúdo dos indivíduos que assumem sua chefia.

Mas na vida real não é assim. Independente de quem gerencie o governo, ele é a expressão dos interesses de uma classe, e seja o partido que for, sem uma revolução social e sem a destruição do Estado inteiro, de uma por uma de suas instituições, qualquer governo será machista, racista e dos patrões, não importa o gênero, a cor ou a origem de classe individual de quem seja eleito. Porque, muito mais do que os movimentos aparentes na superestrutura, são os movimentos na estrutura (entre as classes) os que determinam as mudanças reais.

Para haver uma mudança de Estado; para que o poder deixe de ser de uma minoria de burgueses e passe às mãos de outra classe, uma maioria de trabalhadores, será preciso uma revolução, uma enorme movimentação de classes e uma luta com a vitória da classe hoje explorada. Não vai ser eleição nenhuma que mudará o Estado. Da mesma forma, em muito menos escala, não será uma eleição que mudará os diferentes tipos de regime dentro dos Estados. Uma ditadura nem sempre é fascista. Mas nem sequer uma ditadura pode ser implantada meramente por uma votação eleitoral. Muito menos o fascismo, a forma mais violenta de ataque aos trabalhadores.

O fascismo é uma saída que surge dos bancos e empresas, não de quartéis.

Trotsky conceituava que o fascismo, que Marx, Engels e Lênin não viveram para analisar, era a expressão máxima da política burguesa de esmagamento do proletariado. Uma burguesia e uma economia altamente em crise, com uma agitação de massas ou ameaça real aos interesses capitalistas por parte dos trabalhadores, poderia levar a burguesia a uma militarização e repressão quase completas sobre a classe operária.

Tal regime, fascista, deveria contar com a radicalização e apoio da pequena-burguesia, e em geral a manipulação de setores do lumpen-proletariado, disposto a fazer o trabalho sujo, como destacamentos paramilitares de mercenários contra os trabalhadores. O proletariado precisaria estar derrotado para que houvesse o triunfo destas forças e a burguesia sem saída que não fosse abdicar ela mesma de parte de suas liberdades democráticas e livre exploração, para concentrar o poder nas mãos de uma camarilha truculenta, muitas vezes tendo que recorrer à estatização de boa parte das forças produtivas, e uma mobilização financeira e ideológica de perseguição aos comunistas e “agitadores sociais”, mas com a inevitável repressão e prejuízo também de alguns setores burgueses, em benefício de alguns outros setores principais.

Ainda segundo Trotsky, o fascismo é um fenômeno de exacerbação do capitalismo e, portanto, corresponde aos países de capitalismo desenvolvido, como foram a Alemanha ou Itália. Em países semicolônias como o Brasil, o máximo que poderia existir é o que ele chamou de semi-fascismo. Não por ser mais ameno ou menos violento, mas por, socialmente, expressar um fenômeno sem a capacidade destrutiva deste mesmo regime dentro de países imperialistas.

Neste sentido, quem “dispara” o fascismo são os capitalistas. Os burgueses como classe, ou um setor desta classe, como normalmente ocorre. De toda forma, a burguesia principal precisa estar decidida ao fascismo. Sua imprensa, seus bancos, suas grandes indústrias são os defensores do fascismo ou da ditadura, e os militares são seus instrumentos. As Forças Armadas são os agentes armados usados pela burguesia para implantar, pela força extrema, um regime de ataques agressivos à classe trabalhadora, que pelos mecanismos normais da democracia-burguesa não seriam possíveis.

Os militares não são uma classe social própria! Eles não têm interesses como classe, nem um projeto de Estado ou autonomia política para fazer o que querem. O fascismo e as ditaduras têm conteúdo de classe e são capitalistas! Quem instaurou o nazismo não foi Hitler. Nem foi Mussolini quem criou o fascismo ou Pinochet quem deu o golpe no Chile. Nem foram “os militares” que deram o golpe em 1964 sozinhos no Brasil. Foram todos movimentos da burguesia enquanto classe, e os indivíduos que assumiram a chefia das quarteladas eram empregados destes burgueses.

A Alemanha estava totalmente destruída na década de 20, pela derrota na 1a Guerra Mundial, que havia destroçado o país, suas terras, fábricas, infraestrutura e mão-de-obra, com milhões de mortos. Mais que isso, os países vencedores impuseram taxas para cobrir seus gastos de guerra aos países derrotados, e, além da pobreza e desmantelamento do país, o sentimento era de humilhação geral, tendo que reconstruir o país e os recursos sendo saqueados pelas demais potências europeias. No meio disso tudo, os comunistas alemães tentaram tomar o poder junto de revoluções populares em 1919 e 1923. Foram violentamente derrotados, com o assassinato de Rosa Luxemburgo e milhares de militantes por parte do governo democrático-burguês alemão, que não era nenhuma ditadura… A economia estava em frangalhos, com uma hiperinflação recorde, que fazia famílias terem que carregar dinheiro em carros de supermercado para comprar alguma comida (o filme o Ovo da Serpente de Ingmar Bergman é um clássico que retrata esta época pré-nazismo). A fome, o desemprego, a miséria e a humilhação, junto da tentativa de revoluções dos trabalhadores, foram os gatilhos para que a burguesia tivesse que optar por uma saída extrema, e o nazismo foi fabricado. Hitler foi o indivíduo que assumiu o posto de chefe deste movimento, mas os verdadeiros impulsionadores do nazismo foram outros: Bayer, Siemens, Basf, Volkswagen, BMW, as indústrias Krupp, Daimler-Benz, Dr. Oetker e inúmeras empresas inclusive de outros países, que vieram a ser adversários dos alemães na 2a Guerra, como a IBM (que organizou todo o método de execução em massa dos judeus), Coca-Cola,  Ford, Esso, Texaco, etc., etc. Todos os bancos, grandes empresas e setores da mídia principais mais do que apoiaram o nazismo: o montaram. Os nazistas não eram “estatizantes” anti-liberais. Estatizaram setores necessários para ter mais poder de fogo contra os trabalhadores e o Estado operário na ex-URSS, mas mantiveram todas as grandes empresas intactas. Siemens, Basf e Bayer chegaram a montar fábricas dentro de campos e concentração com mão-de-obra escrava de judeus… Foi para eles que foi feito o nazismo. Eles o criaram. Hitler era apenas seu administrador.

O mesmo na Itália de Mussolini, na Espanha de Franco e assim por diante. São as classes ou setores expressivos delas que mudam regimes e Estados! Não indivíduos, e muito menos eleições. No Brasil de 1964, foram as empresas que deram o golpe. Hoje até já se trata como um “golpe civil-militar”, porque é evidente que não foram os milicos quem tomaram o poder sozinhos. Eles foram o instrumento da burguesia financeira e industrial, principalmente. Um dos principais líderes da organização do golpe foi o banqueiro e governador de Minas, Magalhães Pinto, dono do Banco Nacional, que, é claro, depois seguiu enriquecendo na ditadura e se tornou famoso na década de 80 por estampar o boné sempre presente na cabeça do piloto Ayrton Senna.

O golpe de 1964 foi financiado por ao menos 95 empresas e 125 empresários como “doadores físicos”, e tinha órgãos conspiradores como o Ipes, que promovia massiva propaganda contra o governo por meio de cursos, palestras, propaganda em revistas e superproduções televisivas pelo golpe. O Banco Mercantil de São Paulo, o Itaú, a Scania, Pinheiros Produtos Farmacêuticos, Ultragaz, Ford, Volkswagen, Chrysler, Supergel e outras empresas bancaram a infraestrutura do golpe em si, fornecendo de carros blindados e caminhões até refeições pré-cozidas, segundo apurou a Comissão da Verdade. As Listas Telefônicas Brasileiras, Light, Cruzeiro do Sul, Refinaria e Exploração de Petróleo União e Icomi eram outras empresas que lideraram o financiamento do golpe.

Mas não era só o conjunto das empresas; era a imprensa. 13 veículos de TV (todas que existiam) e quase todas as rádios e jornais apoiaram o golpe, incluindo a Globo e a Folha de São Paulo. O apoio burguês era hegemônico e a saída da ditadura era apontada para frear as lutas sociais crescentes, assim como uma resposta à revolução cubana ocorrida poucos anos antes, em 1959. Como o nazismo foi uma saída violenta para defender os interesses dos capitalistas contra os movimentos comunistas que cresciam na Europa.

Agora perguntamos depois desta longa explanação: o que isso tem a ver com o Brasil de 2018? Onde estão os grandes industriais, bancos e empresas apoiando a ditadura? O que falam a Globo, a Folha de São Paulo e os principais porta-vozes da burguesia brasileira? Quase todos eles são críticos de Bolsonaro. Mas o PT não era a 1a opção destes setores, e se tornou a partir de 2002, então também pode ser que Bolsonaro venha a ser apoiado por eles, que sempre preferiram o PSDB. Eles se adaptam…, Mas Bolsonaro vai ter que cumprir o programa deles! Como Lula e Dilma cumpriram! Não vai ser o programa de Bolsonaro, que mal tem um.

Lula não queria e nem poderia enfrentar estes grupos dentro do capitalismo. Bolsonaro não quer, não pode e não vai enfrentá-los, do mesmo jeito. O governo de Bolsonaro vai ser um governo burguês e neoliberal, de muitos ataques contra os trabalhadores. Seguindo as ordens dos grandes burgueses e mantendo todo seu funcionamento normal. Como qualquer um seria: Haddad seria, Ciro seria. Pode haver um ritmo diferente nestes ataques, como houve distinções entre o próprio Lula e Dilma, ou entre os dois mandatos de FHC; mais por diferentes situações econômicas e de correlação de forças, e não pelos partidos no governo.

Mas não haverá nenhuma ditadura no Brasil e muito menos um governo fascista. O fascismo é uma medida da burguesia, que precisa de condições políticas para isso e interesse econômico nesta opção, que, apesar das vantagens que lhes traz, gera custos imensos e um desgaste internacional e crise política e social interna totalmente indesejáveis hoje.

Assim como a esquerda reformista perdeu o referencial da revolução e acha que o socialismo pode vir das urnas, perdeu qualquer noção do que é o fascismo de verdade, que transformou numa caricatura eleitoral. Esta versão eleitoreira é ainda mais grave, pois não apenas serve para justificar sua capitulação e colaboração de classes ao projeto burguês do PT, como desarma os trabalhadores para a luta real, armada, contra um fascismo real, também armado, que pode estar no futuro.

Fascismo se combate com comitês armados de autodefesa do proletariado

Dentro do equívoco colossal de considerar que o Brasil possa estar às portas de ingressar num regime fascista, a “esquerda” reformista comete um crime político imenso, que pode gerar graves consequências e custar caro aos trabalhadores diante de uma ameaça real de fascismo que venha a nos atingir – o que sempre será possível, ao menos como hipótese teórica, enquanto o capitalismo não for destruído e substituído por um Estado dos trabalhadores.

Este crime político é deseducar os ativistas de que o fascismo se combate com voto e discurso pacifista. Isto é preparar o campo para o massacre do proletariado, que seria destroçado por um fascismo que realmente viesse a existir, pois ao invés de resistência, ele se depararia com pacifistas pregando voto, flores e educação como forma de defesa da democracia, sob rajadas de metralhadoras, bombas e tanques esmagando o que estivesse pela frente.

O fascismo ou mesmo uma ditadura que não chegasse ao ponto do fascismo, mas que impusesse a perseguição em massa dos militantes, cassação de liberdades civis, censura, fechamento de instituições da democracia burguesa, etc., seria responsável por milhares de execuções e outras dezenas de milhares de prisões e torturas; no mínimo.

O que dizem PT, PSOL, PCdoB, PCB, parte do PSTU, inúmeros anarquistas (os anarquistas nunca votaram tanto como nesta eleição… sempre nos patrões e burgueses, como Haddad, Marina e Ciro/Katia Abreu)?  Dizem que há fascismo iminente, e que a “resistência” é votar 13-Haddad. Isto é tão oportunista e fora da realidade hoje em dia, significando uma rendição e capitulação extremas ao bloco burguês da quadrilha do PT; como é um desserviço à conscientização de classe e “ensina” que o fascismo é combate com “paz e amor”. É a pavimentação para um fascismo futuro, hoje inexistente e fantasmagórico, mas que um dia pode vir, e encontrará covardes e militantes virtuais e inúteis, se este discurso prevalecer.

Também é o mesmo risco contido na fábula de Esopo chamada “O Menino e o Lobo”, onde o menino, de tanto gritar “lobo” sem haver lobo nenhum, quando precisou gritar de verdade não foi levado a sério.

Já demonstramos que não existe a mínima condição de que passemos a um regime fascista ou que entremos numa ditadura no próximo período, e que a eleição de Bolsonaro é incapaz, por si mesma, de mudar o regime político do país. Igualmente, provamos que já existe uma carnificina contra negros, mulheres, indígenas e LGBTQs, e que esta matança e agressões em massa são intrínsecas ao capitalismo, vêm tragicamente aumentando em todos os governos (inclusive nos do PT) e vão seguir terríveis com Haddad ou Bolsonaro, sem que uma das opções seja menos burguesa, ou mais capaz de frear ou de fazer aumentar estes indicadores.

Mas, por um instante, apesar da falta de base em fatos concretos, de precedente histórico e de condições materiais atuais para isso, vamos imaginar que estamos prestes a cair no fascismo ou numa ditadura… Perguntamos aos frenéticos “combatentes antifascistas”, que “dão suas vidas para conseguir mais alguns votos”, vamos aos comitês armados de autodefesa?

Sim, porque não há combate sério a bandos militares e paramilitares, que se recusam a intervir através da democracia-burguesa (que já é assassina, genocida e truculenta, mas tem limites legais), sem uma resposta tão ou ainda mais violenta como auto-defesa! O fascismo existe para acabar com qualquer resistência à exploração capitalista e para poder trucidar qualquer oposição dos trabalhadores – é uma saída de violência total contra nossa classe. Os trabalhadores, portanto, só têm um modo de enfrentar o fascismo: com seu próprio armamento e enfrentando e derrotando fisicamente os fascistas!

Poderíamos explicar infinitamente isso, desenhar e passar horas tratando do que é evidente. Mas é melhor deixar que Trotsky, o grande revolucionário russo, explique. N “O Programa de Transição”, ele dedica um capítulo inteiro à tática para enfrentar o fascismo, que na época era real.

Diz Trotsky: “Os reformistas incutem sistematicamente nos operários a idéia de que a sacrossanta democracia está assegurada da melhor maneira quando a burguesia está armada até os dentes e os operários desarmados.

O dever da IV Internacional é acabar, de uma vez por todas, com esta política servil. Os democratas pequeno-burgueses – inclusive os sociais-democratas, os stalinistas e os anarquistas – tão mais fortemente gritam a respeito da luta contra o fascismo quanto mais covardemente capitulam diante dele. Aos bandos do fascismo somente podem opor-se com sucesso destacamentos de operários armados que sintam atrás de si o apoio de dezenas de milhões de trabalhadores. A luta contra o fascismo começa não na redação de um jornal liberal, mas na fábrica e termina na rua. Os pelegos e os guardas particulares nas fábricas são as células fundamentais do exército do fascismo. Os PIQUETES DE GREVE são as células fundamentais do exército do proletariado. É de lá que é necessário partir. Por ocasião de cada greve e de cada manifestação de rua, é necessário propagar a idéia da necessidade da criação de DESTACAMENTOS OPERÁRIOS DE AUTO DEFESA. É necessário inscrever esta palavra-de-ordem no programa da ala revolucionária dos sindicatos. É necessário formar praticamente os destacamentos de auto defesa em todo o lugar onde for possível a começar pela organizações de jovens e conduzi-los ao manejo das armas.

A nova onda do movimento de massas deve servir não somente para aumentar o número de destacamentos, mas ainda para unificá-los por bairros, cidades, regiões. É necessário dar uma expressão organizada ao ódio legítimo dos operários pelos pelegos e bandos de gangsters e de fascistas. É necessário lançar a palavra-de-ordem de MILICIA OPERÁRIA como única garantia séria para a inviolabilidade das organizações, reuniões e imprensa operárias.

É somente graças a um trabalho sistemático, constante, infatigável e corajoso na agitação e propaganda, sempre em relação com a experiência das próprias massas, que se podem extirpar de sua consciência as tradições de docilidade e passividade; educar destacamentos de combates heróicos, capazes de dar o exemplo a todos os trabalhadores; infringir uma série de derrotas táticas aos bandos da contra-revolução; aumentar a confiança em si mesmos dos explorados e oprimidos; desacreditar o fascismo aos olhos da pequena burguesia e abrir o caminho da conquista do poder pelo proletariado.

Engels definia o Estado como “destacamentos de pessoas armadas”. O ARMAMENTO DO PROLETARIADO é o elemento constituinte indispensável de sua luta emancipadora. Quando o proletariado o quiser, encontrará os caminhos e os meios de armar-se. A direção, também neste domínio, incumbe, naturalmente, às seções da IV Internacional.” Os negritos são nossos.

Pronto. Assim, considerando que todas as análises marxistas que fazemos estejam erradas, e que o espectro do fascismo seja realmente a representação de um fascismo real que em poucas semanas se abaterá sobre nossa classe, fazemos um chamado: construamos nossos comitês de auto-defesa armados! Quem mais estará conosco?

O pacifismo como expressão social-democrata. Contra o estatuto do desarmamento!

Uma das discussões mais descabidas e de direita promovidas pelos setores que são parte da campanha burguesa de Haddad, sejam eles defensores dos crimes da quadrilha do PT, ou sejam eles “apoiadores críticos”, cuja imensa maioria dá 99% de voto e apoio e, no máximo, 1% de crítica; é a defesa do Estatuto do desarmamento existente hoje no Brasil e do desarmamento em geral da população.

Isto é o cúmulo da adaptação à democracia-burguesa e o ajoelhamento ao Estado burguês! Repetindo parte da citação anterior de Trotsky em O Programa de Transição, porque nunca é demais repetir, para ver se alguns refletem: “Os reformistas incutem sistematicamente nos operários a idéia de que a sacrossanta democracia está assegurada da melhor maneira quando a burguesia está armada até os dentes e os operários desarmados.“.

Para Marx e todos os revolucionários comunistas que o seguiram, o Estado é uma máquina de violência e de guerra da classe dominante contra os explorados. Neste sentido, é parte fundamental da dominação da classe dominante, a burguesia no nosso caso, concentrar a violência em uma ou poucas instituições, todas elas sobre o seu comando. É absolutamente perigoso e ameaçador à burguesia que haja qualquer armamento dos trabalhadores, e o capitalismo depende de que haja um “monopólio da violência” por parte do Estado, de suas instituições e das Forças Armadas e policiais.

Os revolucionários, ao contrário, sabem, ou deveriam saber, que é absolutamente imprescindível que haja armas e meios de combate para os trabalhadores enfrentarem seus inimigos de classe. Não é apenas um ponto relevante; ele é fundamental e prioritário, à medida que a luta de classes se radicaliza. É de vida ou morte que haja o máximo de armamento disponível entre o conjunto dos trabalhadores, e não apenas daqueles que são militantes, e que as organizações revolucionárias defendam o direito ao armamento como um direito democrático fundamental, mesmo dentro do capitalismo. Nós defendemos que o Estado garanta o direito a mais ampla educação escolar aos trabalhadores e seus filhos, seja para que saibam ler e escrever, matemática, física, geografia, sociologia, etc., e também defendemos que o povo tenha instrução militar. Defendemos, independentemente da polêmica sobre o serviço militar ser obrigatório, que, ao menos, ela seja disponível a todos os jovens, homens e mulheres, que queiram se alistar. Mais do que isso, defendemos o livre direito de portar arma como meio de defesa própria e de sua família a todas as mulheres e homens, agredidos por máfias, gangues, e policiais corruptos e criminosos. Queremos o fim da polícia, mais do que tudo a polícia militar, mas também a polícia civil, e que sejam os trabalhadores, por meio de comitês de auto-defesa e milícias operárias, a defenderem a si mesmos, a seus bairros e suas cidades.

As armas são livremente compradas até mesmo em países burgueses, quando este direito se deu por conta de processos que decorreram de revoluções democráticas anti-monarquia ou pela luta armada de seus cidadãos, em geral no período das revoluções burguesas. Países como Noruega, Suécia e Finlândia, além dos excelentes índices de desenvolvimento humano, comparando a outros países capitalistas, também são países fortemente armados, com cerca de 30% de sua população tendo armas! Na igualmente desenvolvida Suíça, 29% das pessoas têm registro de arma. No Canadá, mais de 23%. Nos Estados Unidos, não há necessidade de registrar a arma, mas a estimativa é que 43% das pessoas tenham armas. Em todos estes países, os índices de violência são baixíssimos, com exceção parcial dos EUA.

Mesmo nos EUA, que parecem ser um país de psicopatas e massacres, a realidade não é nada disso. Com uma população de 325 milhões de pessoas, com quase metade delas armadas, houve 17.250 homicídios em 2016. No Brasil, com 210 milhões de habitantes, quase todos desarmados, houve 60 mil homicídios por ano. Isso significa que a população desarmada e “pacífica” do Brasil é morta 5,4 vezes mais do que a população armada e “agressiva” dos EUA. Qual a explicação? Simples! Mais da metade das mortes no Brasil são de mortos pelas polícias ou por seus agentes em suas atividades “particulares”, como traficantes, seguranças e pistoleiros a serviço de burgueses. Há um extermínio de pobres, negros e índios no Brasil! E o que eles todos têm em comum: estão desarmados!

Não defendemos o armamento para defender suas terras e propriedades como pregam os reacionários. Mas a verdade é que estes setores já estão armados. Os grandes empresários e políticos já andam em carros blindados, com seguranças e todo aparato de repressão a seu dispor. Para eles, nunca houve desarmamento. Fazendeiros têm seus jagunços, patrões têm seus capangas, e só o trabalhador apanha e morre sem poder reagir. Não temos a ilusão que a liberdade de se armar não seria acessível à maioria dos trabalhadores, que não teriam recursos para comprar armas. Mas, gradativamente, um número cada vz maior de trabalhadores conseguiu comprar seus carros, suas televisões, suas geladeiras, seus celulares – muitas vezes caros. Com as armas não seria diferente, e bastariam alguns anos, para que milhões de trabalhadores também tivessem suas armas.

É possível que aumentasse algumas mortes banais e lamentáveis, como em discussões de trânsito ou entre vizinhos, como os pacifistas assustados alardeiam. Mas também aumentaram as mortes por acidente de trânsito quando mais operários compraram seus carros, e nem por isso se defende que eles devam ser proibidos de terem carros, que, afinal “são armas” e que só poderiam ser transportados em veículos coletivos. Por outro lado, quantas mortes de trabalhadores mortos sem direito à reação por criminosos ou policias não deixariam de ocorrer, quando se soubesse que a vítima poderia estar armada? De qualquer forma, não é sobre o cotidiano que o armamento de boa parte das famílias de trabalhadores teria reflexo. Seria sobre os inevitáveis choques sociais e políticos que ocorrem e ocorrerão cada vez mais.

Em Cuba, uma das vantagens do processo revolucionário de 1959 foi haver um grande número de famílias armadas dispostas a enfrentar a repressão capitalista. É evidente que não se derrotarão tanques e aviões com revólveres e pistolas, mas são os revólveres e pistolas que enfrentam os pelotões de atiradores contra manifestações, que podem reagir às emboscadas para executar ativistas, e serão as armas pessoais, nas mãos de milhares e de milhões, que permitirão, com a correta disputa das Forças Armadas também por dentro, tomar delegacias, quarteis, paióis e depósitos de armas. As revoluções sempre tiveram estes processos. Mas, em todas elas, foi preciso haver armamento dos trabalhadores.

Por isso, somos absolutamente contra o Estatuto do Desarmamento do Brasil. É uma grande farsa feita pelos burgueses do PSDB, com o apoio entusiasmados dos pelegos e futuramente burgueses do PT, ambos irmanados no medo que uma população armada poderia significar contra eles mesmos, seus privilégios e instituições burguesas. Já fomos pelo “voto não” ao endurecimento ainda maior das restrições ao direto democrático de comprar e portar arma, na votação no referendo do desarmamento feito em 2005, quando o PT tentava garantir que as armas ficassem ainda mais sob a exclusiva posse dos burgueses e de suas Forças Armadas e seguranças privados. Na época, PT, PCdoB e outros grupos oportunistas e pacifistas como o PSOL foram a favor, pelo “sim”, a mais desarmamento do proletariado, mas setores como o PSTU e pequenos grupos agiram corretamente em lutar pelo “não”.

Felizmente, a maioria da população rejeitou esta medida reacionária, e o não venceu por uma lavada de 63% dos votos. PT, PSDB, PP, PMDB, Rede Globo e a imensa maioria dos partidos e burgueses foram derrotados, mas mantiveram o restante do Estatuto, que desde sua criação impede os trabalhadores de terem suas armas contra as armas do que sempre as tiveram.

Hoje, a “esquerda” pacifista está ainda mais pacifista e menos de esquerda, e faz um carnaval contra a possibilidade de fim do estatuto do desarmamento. Acusam Bolsonaro de querer permitir a venda de armas e fazem desta acusação um dos mais vergonhosos e ridículos pretextos para chamar voto em Haddad e “provar” que Bolsonaro instalará o fascismo. Santa ignorância, já que o fascismo treme diante da possibilidade de haver trabalhadores armados em massa. Nós, ao contrário, seguimos a tradição histórica da esquerda de luta, de verdade, combativa, e defendemos a mais ampla liberdade de compra e porte de armas. Assim como a produção estatal e com preços acessíveis a todos, e instrução militar e de manuseio de armas gratuita, fornecida pelos governos. Sabemos que parte deste programa democrático pelo armamento dos trabalhadores não ocorrerá, e duvidamos até mesmo da capacidade de Bolsonaro realmente garantir o direito à compra de armas e da revogação do Estatuto. Mas esta é uma bandeira que defendemos sob todos os governos e deve ser empunhada por nós, sem nenhuma hesitação: pelo fim do Estatuto do Desarmamento e pela liberdade de armamento para os trabalhadores.

Por trás desta discussão sobre as armas, existe uma profunda adaptação social da pseudo-esquerda pacifista, que, na prática, abandonou qualquer perspectiva revolucionária. Para eles, a revolução é impossível, ou indesejada. A última coisa que um burocrata sindical, funcionário de gabinete parlamentar ou pequeno-burguês reformista querem é ter que se imaginar num conflito pela tomada do poder. Para eles, o capitalismo é eterno e a luta de classes deve se resumir a disputar espaços e pautas dentro deste sistema. Mal sabem eles, no entanto, que, até mesmo os que se ajoelham diante do Estado burguês e suas regras e eles, são perseguidos. Como mostrou a morte da vereadora Mariele, do PSOL, que ficou por isso mesmo, e talvez nunca tenha punição alguma!

Para os reformistas, a democracia é um valor universal. O que é uma falácia. A democracia, assim como a Justiça, a moral, a ética, a violência e tantos outros conceitos ou ações são derivados de uma classe social específica, e a democracia-burguesa que vivemos é uma democracia apenas para os burgueses, diferente da democracia-operária que defendemos. Mesmo esta democracia operária, como governo da maioria dos trabalhadores, é provisória, pois só existirá enquanto ainda precisarem existir também o Estado operário, o partido operário e a luta de classes em si. Com o fim do capitalismo em nível mundial e a gradual extinção de todas as formas de Estado e das classes, já no comunismo, a própria democracia, como conceito de qualquer forma, desaparecerá, pois todos viverão sob uma sociedade livre e comum, auto-organizada.

Defender que as pessoas não possam se armar, e que apenas os policiais e seguranças o façam, é apenas um dos lados mais reacionários e criminosos da defesa do Estado burguês por parte dos reformistas. Eles hoje dizem ter medo das armas que Bolsonaro pode liberar, mas os comparsas de Bolsonaro já estão armados! Os assassinos da nossa classe são os policias, que já estão armados. Contra isso, os reformistas não falam – ao contrário, defendem ainda mais que só eles possam ter armas. Não confiamos em polícias nem nas Forças Armadas burguesas. Não acreditamos que o Estado seja neutro e que possamos viver em paz dentro dele. Vivemos numa guerra, e desarmar os que lutam e precisarão lutar mais ainda é ser cúmplice dos que nos matam.

Frente Única militar e não Frente Popular ou apoio eleitoral a burguês

Contra o fascismo, a saída da classe trabalhadora passa, necessariamente, por uma resposta armada; militar, no sentido do povo em armas, com a força da classe sendo posta em movimento através da ação direta, com greves, manifestações e auto-defesa. A unidade que é possível e inclusive correta, contra um fascismo real, é a Frente Única militar antifascista, com o engajamento armado de todos os setores dispostos a combater os assassinos e o terror fascista, mesmo que em comum com setores burgueses democráticos. Foi a unidade militar havida na 2a Guerra Mundial, por exemplo, e que os trotskistas foram os impulsionadores, quando o stalinismo se recusava a enfrentar o nazi-fascismo de verdade, e ainda fazia o tristemente famoso acordo Hitler-Stálin, ou Ribbentrop-Molotov.

Então, somos aqueles que mais sabem e aplicam a unidade, quando ela é útil e adequada aos interesses da classe trabalhadora. Acordos pontuais e unidades de ação, para derrubar um governo corrupto e burguês como o de Dilma, por exemplo, quase sempre não se restringirão aos marcos da classe trabalhadora. A luta pelo Fora FHC teve setores burgueses junto, como a presença do então Partido Liberal na marcha dos 100 mil pelo Fora FHC em 1999. da mesma maneira, a luta pelo Fora Collor, pelo Fora Sarney e pelo Fora Temer, quando o próprio PT já é um partido burguês.

Podemos e estivemos com setores burgueses em todos estes momentos, e foi corretíssimo; como foi uma unidade de ação entre inúmeros setores proletários, mas ainda mais organizações burguesas a luta pelas Diretas Já nos anos 80, onde a direção da luta era claramente burguesa. Unidades de ação sempre foram corretas e seguem sendo, desde que mantenhamos nossa independência política e, junto da unidade pontual no terreno da luta direta, nas ruas, mantenhamos, também, as críticas aos que estarão do nosso próprio lado, a chamada unidade-enfrentamento, obrigatória e ainda mais importante quanto mais em unidade estivermos. Neste mesmo sentido, estivemos nos atos de repúdio às declarações fascistóides de Bolsonaro, por exemplo, os atos do #elenao, ao mesmo tempo em que fizemos críticas ainda maiores ao PT e acrescentemos “#nemosoutros”.

Unidade pontual e no campo da luta direta, entretanto, é completamente oposto de fazer Frente Única com setores burgueses ou, mesmo que sem burgueses, em nome de um programa burguês. Estivemos na luta militar conjunta contra Kadafi na Lìbia e estamos junto das barricadas para derrubar a ditadura de Maduro na Venezuela. Estivemos na luta das ruas para derrubar Dilma e igualmente para derrubar Temer. Mas, sob hipótese alguma, poderíamos estar numa frente política, eleitoral, com Caprilles na Venezuela, com o PSDB numa eleição anti-PT, ou com o PT contra Bolsonaro.  Isto é um escândalo!

Ou seja, em relação a setores que são da burguesia, nosso programa é destrui-los! Porém, circunstancialmente, e desde que mantendo e até aprofundando nossa independência de classe e o enfrentamento a eles, a classe trabalhadora pode e deve ter algumas unidades. Quais são elas? No campo da luta política, podemos ter acordos e unidades de ação, pontuais e no terreno da ação direta. No campo da luta antifascista, que é essencialmente militar, frente única militar! Entretanto, em nenhum caso, sob nenhuma hipótese, frente única política com qualquer setor burguês. Aliar-se a setores burgueses politicamente é o caminho para a desmoralização da classe trabalhadora e o caminho mais rápido para a vitória de burgueses ainda mais à direita ou até mesmo de fascistas.

A frente anti-Bolsonaro que existe hoje cumpre este papel nefasto, pois não é uma frente de luta, e sim uma frente policlassista, oportunista e de conciliação de classes, política e eleitoral, subordinada a um partido burguês, neoliberal e corrupto, que é o PT. O fascismo não está colocado na atual realidade brasileira, mas, se vier a se desenvolver, será derivado deste tipo de traição por parte da esquerda, que se abstém de enfrentar aos diferentes blocos burgueses e resolveu aderir de mala e cuia a um destes blocos dos inimigos da nossa classe.

Mais uma vez, leiamos o que escreveu Trotsky em O Programa de Transição: “Não há a menor razão para ver a causa dessas derrotas no poderio da ideologia fascista. Mussolini, na verdade, nunca teve a menor ideologia. A ideologia” de Hitler nunca influenciou seriamente os operários. As camadas da população que o fascismo, em certo momento ganhou, antes de mais nada as classes médias, já tiveram tempo de perder as ilusões a seu respeito. Se, apesar de tudo, uma oposição, mesmo que pouco notável, se limita aos meios clericais, protestantes e católicos, a causa não se encontra na força das teorias semi-delirantes, semi-charlatanescas da “raça” e do “sangue””, mas a falência estarrecedora das ideologias da democracia, da social-democracia e da Internacional Comunista. (nota nossa: a Internacional Comunista, apesar do nome, era internacional dos stalinistas, já completamente traidora e que havia conciliado com Hitler antes da 2a Guerra Mundial).

Depois do esmagamento da Comuna de Paris, uma reação sufocante durou cerca de oito anos. Após a derrota da Revolução Russa de 1905, as massas operárias mantiveram-se presas de estupor por quase o mesmo período de tempo. Entretanto, nesses dois casos, tratava-se apenas de derrotas físicas, determinadas pela relação de forças. Na Rússia tratava-se, além disso, de um proletariado quase virgem. A fração dos bolcheviques contava, então, com apenas 3 anos de idade. A situação era completamente diferente da Alemanha, onde a direção pertencia a poderosos partidos, contando um deles com 70 anos de existência e o outro com cerca de 15. Esses dois partidos, que possuíam milhões de eleitores, encontraram-se moralmente paralisados antes da luta e renderam-se sem combater. Jamais houve na História semelhante catástrofe. O proletariado alemão não foi derrotado pelo inimigo em um combate: foi abatido pela covardia, abjeção e traição de seus próprios partidos. Não é de espantar que tenha perdido a fé em tudo o que estava habituado a crer há quase três gerações. A vitória de Hitler, por sua vez, reforçou Mussolini.

O insucesso real do trabalho revolucionário na Itália e na Alemanha é apenas o resultado da política criminosa da social-democracia e da I. C.. (…) Os chefes emigrados são na maioria agentes do Kremlin e da GPU desmoralizados até a medula dos ossos, ou antigos ministros sociais-democratas da burguesia que esperam, por algum milagre, que os operários Ihes devolvam seus postos perdidos. Pode-se imaginar, um só instante, esses senhores no papel de chefes da futura revolução “antifascista”?

(…) Tanto desse ponto de vista, como de outros, Stálin é apenas um auxiliar de Goebbels!

(…) A “Frente Popular” na emigração é uma das variedades mais nefastas e mais traidoras de todas as frentes populares possíveis. Significa, no fundo, a nostalgia impotente de uma coalizão com uma burguesia liberal inexistente. Se ela tivesse algum sucesso, apenas prepararia uma série de novas derrotas do proletariado à maneira espanhola. É por isso que a impiedosa crítica da teoria e da prática da “Frente Popular” é a primeira condição de uma luta revolucionária contra o fascismo.

Isto não significa, evidentemente, que a IV Internacional rejeite as palavras de ordem democráticas. Ao contrário, elas podem em certos momentos ter um enorme papel. Mas as fórmulas da democracia (liberdade de reunião, de associação, de imprensa etc.) são, para nós, palavras-de-ordem passageiras ou episódicas no movimento independente do proletariado e não um laço corrediço democrático passado em torno do pescoço do proletariado pelos agentes da burguesia (Espanha). A partir do momento em que o movimento tomar qualquer caráter de massas, as palavras-de-ordem transitórias misturar-se-ão às palavras-de-ordem democráticas: os comitês de fábrica aparecerão, e é preciso ver isso antes que os velhos pelegos se tenham lançado, de seus escritórios, à edificação de sindicatos; os conselhos cobrirão a Alemanha antes que se tenha reunido em Weimar uma nova Assembleia Constituinte. O mesmo se dará na Itália e em outros países totalitários ou semitotalitários.

 

O fascismo lançou esses países no campo da barbárie política. Mas não modificou seu caráter social. O fascismo é um instrumento do capital financeiro e não da propriedade latifundiária feudal. O programa revolucionário deve apoiar-se sobre a dialética da luta de classes, que é válida também para os países fascistas e não sobre a psicologia dos falidos amedrontados. A IV Internacional rejeita com asco os métodos de mascarada política aos quais recorrem os stalinistas, antigos heróis do “terceiro período”, para aparecer ora com máscaras de católicos, de protestantes, ora de judeus, de nacionalistas alemães, de liberais unicamente com o fim de esconder seu próprio rosto pouco atraente.

A IV Internacional aparece sempre e em todos os lugares sob sua própria bandeira. Ela propõe abertamente seu programa ao proletariado dos países fascistas. Desde agora os operários avançados do mundo inteiro estão firmemente convencidos de que a derrubada de Mussolini, de Hitler, de seus agentes e imitadores produzir-se-á sob a direção da IV Internacional.”

As palavras de Trotsky escritas em 1938 ainda ecoam, 80 anos depois! Quantos novos stalinistas e social-democratas hoje não escondem seu programa, suas bandeiras e suas cores, não se transformam em católicos, evangélicos e liberais para ganhar votos e esconder seu próprio rosto pouco atraente? Nós, ao contrário, não deixamos de lutar pelas bandeiras democráticas, mas as combinamos com as bandeiras transitórias ao socialismo, as palavras-de-ordem da revolução dos trabalhadores. Sem qualquer frente ou capitulação eleitoral aos burgueses que estiveram à frente do país nos últimos 20 anos, entre PSDB e PT, hoje juntos “pela democracia”, com o apoio de FHC, Alberto Goldman e outros líderes tucanos à campanha de Haddad.

Stalin foi um auxiliar de Goebbels e Haddad é um auxiliar de Bolsonaro, cuja candidatura e possível eleição se deverão à covardia, abjeção e traição dos próprios partidos que se dizem de esquerda, incluindo o PT, PCdoB e PSOL.

Aderir à campanha de Haddad, assim como ter aderido à campanhas de Ciro Gomes, ambas burguesas, neoliberais e de projetos que massacraram a classe trabalhadora por onde passaram, é fazer o jogo da burguesia, desarmar os trabalhadores e, esta posição sim, pode abrir o caminho para um risco fascista no futuro.

Se Bolsonaro representa o fascismo, e vale votar em qualquer candidato pela “democracia”, é preciso votar também em Eduardo Paes, Anastasia, Barbalho e uma dúzia de burgueses.

Parte dos que votam em Fernando Haddad neste 2o turno, e votaram também nele, ou em Ciro, ou em Marina ou em Boulos no 1o turno, alegam que votar no PT é “defender a democracia”, pois Bolsonaro instalaria uma ditadura no Brasil, no mínimo, e um regime fascista, no máximo. Ora, ninguém é fascista sozinho! E os mesmo que difundem o discurso burguês pró-PT do terror fascista iminente que pode assolar o Brasil, têm que admitir que Bolsonaro está junto com os 52 deputados eleitos pelo PSL, e mais a bancada da bala, bíblia e do boi (deputados militares, pastores e ruralistas) como sendo a base parlamentar que vai impor o fascismo no país. Ao todo, seriam centenas de parlamentares fascistas ou inclinados a apoiar uma ditadura que Bolsonaro instalasse, e a luta contra Bolsonaro tem que se expressar também contra todos os demais.

Bom… seguindo este raciocínio antidialético e com o qual discordamos frontalmente, é preciso ser coerente e ter a mesma lógica nas disputas eleitorais dos 2o turnos nos estados! Afinal de contas, o golpe e a ditadura de 1964 iniciaram pelo governador de MG, Magalhães Pinto, e Bolsonaro precisaria de líderes locais para impor o fascismo que vai acabar com a vida como conhecemos, segundo ameaçam os petistas, colocando-se como a salvação contra todo este desastre. E, de fato, em quase todos os estados há candidatos diretamente ligados a Bolsonaro. Militares, gente com discurso pró-fascismo e que são a imagem espelhada do “líder fascista nacional”.

Então, para defender a democracia, não poderia haver fronteiras. Quem vota Haddad contra Bolsonaro precisa votar naqueles que enfrentam os candidatos de Bolsonaro nos estados, que serão os chefes das Polícias Militares que irão massacrar os trabalhadores. Das duas, uma: a) ou tem que admitir que estão votando em Haddad e no PT pelos méritos que veem neles e pela simpatia e apoio que lhes dão, e reconhecem que são petistas enrustidos; ou b) alegam que são oposição e críticos ao PT, mas que votam nele de nariz tapado, a contragosto, em nome da democracia, e que fariam isso da mesma forma com todos os democratas contra um fascista.

Quem quiser sustentar esta 2a hipótese, do “voto crítico contra os apoiadores do fascismo” é absolutamente obrigado a admitir que também votaria em Ciro/Kátia Abreu contra Bolsonaro, em Alckmin contra Bolsonaro, em Meirelles contra Bolsonaro; e até em FHC contra Bolsonaro e Renan Calheiros contra Bolsonaro, se isso fosse possível! São todos, afinal, “democratas” que estão no campo de Haddad, contra o fascismo e a volta da ditadura.

Mas além de admitir votar em bandidos e burgueses de todos os partidos, do PT ao PSDB e MDB, o eleitor de Haddad, para poder ser levado a sério, também precisa votar contra os mini-Bolsonaros estaduais, ou “bolsominions”, como tanto falam. E Bolsonaro é representado por candidatos que são sua imagem e semelhança.

1) Wilson Witzel é do PSC no RJ, um ex-fuzileiro naval, que defende que bandido bom é bandido morto e é um filhote de Bolsonaro. 2) Wilson Lima é do PSC no AM, apresentador da Record, da Igreja Universal e Bispo Edir Macedo, um fascista da Amazônia, lugar em que sua PM pode exterminar índios. 3) Coronel Marcos Rocha é do PSL em RO, outro lugar em que ruralistas já massacram índios e trabalhadores rurais. 4) Antonio Denarium é do próprio partido de Bolsonaro, o PSL, além de grande empresário e ruralista – uma mistura de dono das lojas Havan, líder da UDR e Bolsonaro – é candidato justamente em Roraima, por onde entram os venezuelanos fugindo da fome e da repressão de Maduro, e que Bolsonaro quer criminalizar. Por fim, entre os casos mais explícitos, 5) o Comandante Moisés, também do “fascista PSL” de Bolsonaro, disputando o governo de Santa Catarina, um coronel truculento.

Ao menos nestes 5 estados, os candidatos de Bolsonaro são tão fascistas como ele. Se vale a “luta com quem quer que seja pela democracia”, não pode haver nenhuma dúvida em apoiar e fazer campanha para quem os enfrenta: 1) Eduardo Paes (DEM), 2) Amazonino Mendes (PDT), 3) Expedito Junior (PSDB), 4) Anchieta (PSDB) e 5) Gelson Merisio (PSD). Todos são burgueses, todos são de partidos de direita, todos são corruptos. Assim como Haddad… Mas são o “qualquer um” contra os “candidatos fascistas”.

Eduardo Paes é quadrilheiro, ladrão da turma de Pezão, Sérgio Cabral, mas também grande aliado de Lula e Lindhberg Farias e um democrata contra um possível ditador. Amazonino é um antigo corrupto e explorador, mas um “democrata do partido de Ciro Gomes”. Expedito é tucano e neoliberal,  cujo mandato de senador já foi até cassado por corrupção, mas é um professor contra um “coronel fascista do PSL” e a democracia está em risco… Anchieta também é tucano, também foi cassado como governador por corrupção, mas é um engenheiro e democrata perto do ruralista Denarium, do fascista PSL.  E Gelson Merisio é do PSD de Kassab, mas o que isso importa, não é mesmo, afinal, é contra o Comandante Moisés, mais um fascista de Bolsonaro e do PSL, justamente em SC, onde já houve grupos neonazistas detectados.

Assim, se quiserem ter um mínimo que seja de coerência, os eleitores de Haddad que se dizem críticos, e que alegam que não é um voto no PT, mas “contra Bolsonaro”, “contra a ditadura” e por aí vai, são obrigados a votar nestes 5 criminosos burgueses, “democratas” nas eleições no RJ, AM, RO, RR e SC. Pelo menos.

Se não há dúvidas da correlação da luta “democracia x ditadura” da disputa nacional com a destes 5 estados, tampouco podemos deixar de observar que Bolsonaro teria importantes aliados, totalmente fechados com ele e que sustentariam, certamente, a sua ditadura, em ao menos outros 6 estados. E, no nosso ponto de vista, se Bolsonaro vai implantar uma ditadura que acabará com a democracia, é secundário que alguns candidatos não sejam, eles mesmos, fascistas ou do partido de Bolsonaro, pois são parte do campo político que vai eleger Bolsonaro, sustentar sua ditadura nos estados e aplicar seu programa de violência através das PMs, que serão controladas por eles.

Assim, contra o bolsonarista Romeu Zema (MG), megaempresário, deveríamos ser obrigados a votar “criticamente” em Antônio Anastasia em Minas, mesmo sendo ele do PSDB e afilhado de Aécio Neves. No Pará, votar contra o bolsonarista Marcio Miranda (DEM), fazendo campanha para Helder Barbalho (MDB), da oligarquia de coronéis chefiada por Jader Barbalho, mas que são contra Bolsonaro. Neste caso, inclusive, o PT já está no palanque e totalmente engajado na campanha de Barbalho, que inclusive foi ministro de Dilma. Boa parte do PSOL também. Falta só o PSTU, que já se aliou ao PCdoB no estado…

Da mesma forma, no Mato Grosso do Sul, contra o ruralista Reinaldo Azambuja (da ala bolsonarista e não democrática do PSDB), se deveria fazer campanha para Odilon de Oliveira, mais um “bom burguês” do PDT de Ciro. Mesma coisa em SP, onde João Dória é um tucano bolsonarista, que estaria à frente da maior e mais armada PM do Brasil, apoiando a ditadura de Bolsonaro, contra o qual seria preciso apoiar Márcio França, do PSB, apesar de ele mesmo ser o atual governador, depois de ser vice de Alckmin. E situação também parecida à do RS, onde Eduardo Leite também é bolsonarista do PSDB, rei do antipetismo, e teria que ser derrotado pelo democrata José Ivo Sartori, que nunca pagou salário em dia aos funcionários, é corrupto, ameaça vender estatais o tempo todo, mas é um “democrata do MDB”… Por fim, o curioso caso do RN, em que Carlos Eduardo Alves é companheiro de PDT de Ciro Gomes, mas é um ferrenho bolsonarista, centrando toda sua campanha em atacar o PT e sua adversário Fátima Bezerra, a única que pode ser eleita pelo PT de Haddad no 2o turno, professora como Haddad.

Como votar Haddad contra Bolsonaro, mas não votar em Fátima contra um bolsonarista, mesmo que do PDT de Ciro? Como justificar fazer campanha para o PT nacional e não fazer o mesmo contra os representantes de Bolsonaro no MS, SP, MG, PA; onde a futura ditadura teria governadores alinhados com a repressão em massa que pode nos atingir? Por isso, quem vota no PT para presidente, no mínimo, é obrigado a defender o voto em 5 burgueses regionais, mas, levando ao pé da letra, teria que votar no “campo burguês progressivo” em 11 estados, ao todo.

É o triste fim de quem aderiu ao bloco burguês petista: ter que apoiar tucanos, ladrões cassados e a escória política, como Eduardo Paes, Barbalhos, o vice de Alckmin, e Sartori; caso queiram levar a sério o discurso deles mesmos.

Nós repudiamos esta concepção, que não passa da reedição da famigerada política inicialmente menchevique e social-democrata, e depois assumida com toda força pelo stalinismo, de renunciar à independência de classe e estar sempre disposto a dar apoio ou ser parte de um “campo burguês progressivo” contra um suposto “campo burguês regressivo”.

A “teoria dos campos”, denominada assim por Stálin e seus asseclas, fez com que se abrisse mão e abortassem revoluções em nome do “mal menor”. Uma política desastrosa que levou milhões de trabalhadores à morte, às prisões e à vida sob a exploração e a violência burguesa, renunciando à luta pela revolução socialista e se prestando ao papel de linha auxiliar de algum setor burguês, ora descrito como nacionalista contra o imperialismo, democrata contra o fascismo, progressivo contra os reacionários, e por aí vai. Esta farsa montada pelo PT no Brasil não é nova, e, embora sempre conquiste muitos adeptos, não pode nunca confundir ou fazer capitular os revolucionários coerentes.

Mas o PT, mesmo nunca tendo sido revolucionário, quando ainda era um partido de esquerda e da classe trabalhadora, mostrou o inverso disso tudo que hoje ele fala nos anos 80. O Brasil ainda vivia uma ditadura (!!!) e o regime militar tinha um candidato nas eleições indiretas de 1985: Paulo Maluf, um representante do governo que matou milhares de trabalhadores, torturou mulheres e cometeu atrocidades sem fim. Maluf, que depois viria a ser o xodó de Lula e Haddad na eleição deste para prefeito de SP, na época era do PDS, nome que a ARENA semi-fascista assumiu nos anos 80, e enfrentava o democrata Tancredo Neves.

Segundo a lógica de hoje, não poderia ter dúvida alguma em votar em Tancredo! Maluf não era um saudosista da ditadura, como Bolsonaro; ele era muito pior: havia sido líder dela! Aliás, o Brasil ainda vivia na ditadura! Mas o PT fez o contrário do que hoje fazem PSOL, PSTU e outros partidos oportunistas de esquerda, que estão em campanha por Haddad. O PT chamou voto nulo! Não apenas disse que Maluf e Tancredo eram burgueses e patrões, e que nenhum merecia o voto dos explorados, como expulsou os 5 deputados que tinha que resolveram votar em Tancredo contra a decisão partidária. Os expulsou como traidores da classe!

Naquela época, mesmo reformista, o PT agiu com independência de classe! Seu slogan era que “trabalhador vota em trabalhador” e, muito antes da rima do “contra burguês, vote 16”, do PSTU, o PT foi quem criou esta rima nos anos 80, dizendo “contra burguês, vote 3”, o número com que concorreu nas primeiras eleições. Chega a dar saudades do reformismo do PT dos anos 80, muito mais combativo, de luta e classista que o PSOL e o PSTU nesta e na maioria das últimas eleições.

A tragédia da reação democrática

O capitalismo, apesar de sua colossal crise econômica estrutural, em que as forças produtivas há décadas já pararam de crescer, sobrevive e muitas vezes de forma aparentemente tão tranquila, por uma série de fatores, mas, sem dúvida, uma das maiores razões de sua força é a ilusão que desperta em grandes massas de que a vida, por pior que seja, sempre poderá ser mudada pelo voto.

Esta crença é completamente falsa e infundada, pois nunca, em nenhum lugar do planeta, nem em âmbito nacional, nem estadual, nem municipal, algum governo eleito acabou com a exploração aos trabalhadores, com a discriminação aos setores oprimidos ou qualquer outra grande conquista. Há governos menos piores do que outros, é claro, mas todos são parte da manutenção do estado de coisas atual. Todos os partidos e setores da classe burguesa já estiveram no poder, em diferentes ocasiões, assim como a quase totalidade dos partidos que surgiram como partidos da classe trabalhadora, e nada de significativo foi feito pelos trabalhadores. Ao contrário, a vida em geral só se deteriora, com menos direitos, mais exploração, mais pobreza, mais destruição ambiental…

Nacionalistas, privatistas, social-democratas, neoliberais, intervencionistas, Frentes Populares; todas versões diferentes da mesma coisa: governos capitalistas, em que bancos e grandes empresários ganham muito, e a imensa maioria da população sempre perde. E isso não é por acaso: as regras do jogo eleitoral, dentro do capitalismo, foram feitas para impedir que o sistema seja mudado. Assim, podem mudar os nomes e as siglas, mas o sistema de exploração se mantém intacto.

No Brasil, para poder concorrer a algum cargo eletivo, é preciso estar filiado a um partido legalizado junto ao TSE e ser aprovado pela cúpula deste partido como um candidato. Por isso, quase todos os que são registrados para concorrer já estão comprometidos com a manutenção do atual sistema, no máximo querendo melhorá-lo por dentro. Entre os candidatos aos cargos executivos, com alguma chance de ser eleitos, mesmo que remota, 100% são variantes da mesma exploração e corrupção que já castigam a classe trabalhadora há muito tempo.

Mas, hipoteticamente, se um candidato revolucionário ganhasse as eleições para presidente ou para governador em algum estado, o que é absolutamente impossível com as regras do jogo feitas pelos próprios burgueses, este eleito não conseguiria mudar quase nada. O parlamento seguiria burguês e não aprovaria leis que fossem contra seu próprio sistema; o Judiciário, caso estas leis fossem aprovadas, as declararia ilegais e perseguiria quem agisse “fora da lei” deles mesmos; e as Forças Armadas, no caso de tudo sair do controle, viriam com a violência direta, reprimindo, destituindo mandatos e impondo a dominação capitalista na marra.

Por isso, não há nenhuma hipótese de mudar de verdade po dentro do capitalismo. Todos os que diziam que fariam isso já governaram e nada fizeram ou puderam fazer. Allende foi derrubado por um golpe militar em 1973 no Chile. Todos os partidos “socialistas” europeus, o PT no Brasil, os “socialistas” no restante da América Latina  e outros continentes já governaram; e foram dezenas de experiências, sem que nenhuma tenha mudado nada de importante.

Lech Valesa na Polônia dos anos 80, Miterrand na mesma época na França, Tony Blair no Reino Unido dos anos 90 e o chavismo e seus aliados latino-americanos (Evo Morales, Rafael Correa, Daniel Ortega, etc.) nos anos 2000 foram outros exemplos de enormes multidões iludidas com uma mudança popular por meio das urnas, que só virou decepção, ataque aos trabalhadores e manutenção da burguesia no seu mesmo lugar. Outro ponto comum nestes casos, foi a traição de setores que se diziam revolucionários e apoiaram todas estas experiências fracassadas e capitalistas, travestidas de “socialismo, 3a via, socialismo do século XXI, etc.”.

Neste exato momento, partidos ainda “mais radicais e mais de esquerda” governam a Grécia – o Syriza –  e regiões da Espanha – o Podemos. E são estrondosos fracassos! Já atacaram trabalhadores, foram incapazes de defender seriamente os imigrantes, privatizaram incontáveis empresas, promoveram reformas neoliberais na Previdência e outras áreas, e sistematicamente desmobilizaram as lutas para canalizar a energia popular para as urnas. No México, acaba de assumir o governo do PRD, do “esquerdista” Lopez Obrador, e também já podemos assegurar que será outro governo burguês que não mudará coisa alguma.

Ou seja, as eleições são um jogo de cartas marcadas em que, ganhe quem ganhar, a vida não vai mudar. Há 50 tons de capitalismo, uns até disfarçados de comunismo, mas todos acabam sendo farinhas do mesmo saco. No entanto, apesar das eleições nunca terem levado a lugar nenhum e cada vez mais serem desacreditadas, como indicam fenômenos como os “indignados” na Espanha, grupos de luta em outros locais e o não-voto massivo de dezenas de milhões de pessoas no Brasil, o capitalismo ainda se sustenta em pé por causa desta ilusão eleitoral. Chamada de reação democrática, ela permanece paralisando multidões, que não rompem com o sistema e estão sempre realimentando a fantasia de uma nova salvação, que nunca vem.

As organizações majoritárias entre a esquerda, profundamente oportunistas e pró-capitalistas, são parte da reação democrática, sempre se esforçando para voltar a fazer os trabalhadores acreditarem nas instituições capitalistas, mesmo quando eles estão rompendo com elas. Um revolucionário deveria utilizar as eleições para desmascarar o sistema e chamar à luta. O reformista faz o oposto: utiliza as lutas para promover seus candidatos e apontar a saída eleitoral como a da mudança.

Mas a conciliação de classes dos reformistas não se resume a alimentar ilusões institucionais em si mesmos e em seus candidatos “socialistas”. Para terem mais chances de serem eleitos, ainda tentam convencer os trabalhadores de que é preciso se aliar ou apoiar setores burgueses. É o que fazem hoje os setores que apoiam Haddad, ou que apoiaram Ciro Gomes/Kátia Abreu no 1o turno. Enganam, mentem e traem os trabalhadores dizendo que um burguês é a alternativa para defender seus diretos ou a democracia. E esta vergonha não é uma novidade.

No Brasil, esta tática eleitoreira e oportunista, de alternar a apresentação de candidaturas próprias com um programa de reformas dentro do capitalismo, com o apoio a setores burgueses “progressistas”, sempre foi característica dos partidos stalinistas, notadamente o PCB. De 1937 a 1945, Getúlio Vargas governou ditatorialmente, tendo prendido, torturado e matado militantes comunistas em seu governo. Num dos episódios mais emblemáticos, Vargas deportou para a Alemanha nazista a militante do PCB Olga Benário, esposa de Luís Carlos Prestes, o principal dirigente do partido. Olga era de origem judia e estava grávida. Hitler a prendeu num campo de concentração, até ela ter sua filha, e a assassinou logo depois. Pois depois de tudo isso, o PCB e Prestes ainda defenderam a candidatura de Getúlio Vargas em 45. Voltaram a fazê-lo na década de 50. Depois, apoiaram o sucessor de Getúlio como burguês “nacionalista e progressivo”, Jango, que, assim, como Getúlio, não apenas aprofundou as medidas capitalistas no Brasil, como pavimentou passivamente o caminho para os que conspiravam contra seus governos. No caso de Jango, isto levou ao golpe militar de 1964.

Na ditadura, o PCB foi uma linha auxiliar, covarde e oportunista, do MDB, sucessor de parte do PTB de Vargas e Jango, mas ainda mais à direita e legitimador da ditadura. Veio a redemocratização nos anos 80, mas o PCB e sua dissidência, o PCdoB, seguiram dentro do PMDB até 1985, quando ainda apoiaram Tancredo, enquanto o único com uma postura classista foi o PT, votando nulo. De lá para cá, os PCs e o PT, que nasceu classista e à esquerda de ambos, passaram ao outro lado da trincheira e fizeram mil e uma coligações com todos os tipos de burgueses, oligarcas, reacionários e corruptos…  Sempre tratando de desviar as lutas para dentro da democracia-burguesa.

Mesmo quando Collor foi derrubado, em 1992, o PT e seus satélites stalinistas trataram de frear as massas (que num primeiro momento saíram às ruas pelo Fora Collor contra a posição deles, que criticavam a derrubada do governo). A política do PT era “Feliz 1994”, esperando a eleição de Lula. Mas, no meio do caminho, veio o Plano Real, que o PT foi contra, para depois se render a ele, e o PSDB de FHC governaria até 2002.

Aí então, neste ano, a famosa “Carta ao Povo Brasileiro” selou a passagem de vez do PT para o campo da burguesia, aliado ao burguês José Alencar, e seu PL, o partido da reacionária Igreja Universal. PCB, PCdoB e os setores que depois deram origem ao PSOL estavam todos juntos nesta campanha desde o início, e todos fizeram parte do governo burguês de Lula, ao menos no seu início, quando aprovou a Reforma da Previdência, que foi um dos maiores ataques já desferidos contra os trabalhadores.

Ainda vimos 2006, com Lula ainda mais à direita e o recente PSOL e o PSTU com uma candidatura de Frente Popular de Heloísa Helena, burguesa dos pés à cabeça por seu conteúdo. 2010 e 2014 foram repetições do mesmo cenário, com pequenas variações. Em nenhum momento, as eleições foram pontos de partida para a luta. Ao contrário, toda luta que ocorria, em geral por fora dos partidos traidores, era desmontada para virar voto na próxima eleição. Até mesmo o levante popular de 2013, que abriu a possibilidade de uma situação revolucionária no Brasil, foi desmoralizado pelos partidos reformistas, que foram pegos de surpresa e só aderiram aos atos, ainda assim para tentar domesticá-los, na segunda metade das manifestações.

Esta constante opção de conciliação de classe não é um erro ou uma ingenuidade. Militantes de base acabam cometendo estes erros e são ingênuos; mas as direções destas organizações conscientemente aplicam uma política contrarrevolucionária, de desmonte do processo insurrecional. Por quê? Porque estão adaptadas ao capitalismo. Parlamentares, burocratas sindicais e uma infinidade de outros beneficiados por seu quinhão capitalista, já se adaptaram socialmente e temem a revolução mais do que qualquer outra coisa. Diferente do que Marx disse dos trabalhadores, que “não têm nada a perder, a não ser suas próprias correntes” ao lutar pela revolução, os reformistas têm muito a perder e não querem colocar seu conforto, cargos e acomodação a perder.

Mesmo quando fazem “oposição” aos governos frente-populistas que estão sempre tendo seu apoio explícito ou disfarçado “contra a direita”, é uma oposição de araque, que não se dispõe a seriamente ameaçá-los. É a oposição em dias de festa!

Quando vão bem os governos de Frente Popular, ou diretamente burgueses, ainda que com aparência de esquerda, como os do PT se tornaram no Brasil, esta oposição fajuta se sente à vontade para fazer críticas. Mas basta que algo ameace a estabilidade destes governos, para que seus “críticos” reformistas pulem para dentro do bolso dos governos burgueses de plantão, e se alinhem ao discurso “contra a direita, contra o fascismo, contra o golpe”…

Bastou Dilma correr o risco de perder a eleição para Aécio em 2014, para que grande parte da esquerda abrisse mão de suas posições e aderisse ao PT. Bastou multidões saírem às ruas para derrubar Dilma em 2015, culminando no impeachment controlado de 2016, para os mesmos setores gritarem “golpe” em defesa do governo burguês de plantão. Por isso, mesmo que queiram alegar que o apoio a Haddad desta vez é diferente de todas as outras vezes, o fato é que mudam as desculpas, mas a capitulação ao PT é uma constante para a esquerda reformista.

Bolsonaro é só o atual bode expiatório para a capitulação. Como foi Aécio há 4 anos e Temer há 2… Como escreveu Cazuza, “eu vejo o futuro repetir o passado” e a traição dos reformistas “é um museu de grandes novidades”…

PSOL se consolida como uma corrente externa do PT.  E a crise terminal do PCdoB.

Quando nasceu, em 2004, o PSOL se apresentava como uma alternativa ao PT, de o de a maioria de seus militantes proveio. O chamado “movimento por um novo partido”, iniciado pelos “radicais do PT” que votaram contra a Reforma da Previdência de Lula, foi inicialmente impulsionado pela senadora Heloísa Helena e pelos deputados Babá, João Fontes e Luciana Genro.

Os 4 “radicais” haviam sido parte do PT em mais de 10 anos de traições inaceitáveis deste partido, que governou estados e municípios agredindo grevistas e sem-terra, arrochando salários, privatizando empresas e governando para os ricos, como ocorreu no RS, ES, AC, Porto Alegre, São Paulo, Ribeirão Preto, etc. A corrupção, assassinatos políticos, alianças fisiológicas com oligarcas e bandidos de toda espécie já haviam sido feitas, e nada de qualquer ruptura dos 4. Lula foi eleito após prometer governar para os banqueiros, conforme confessou e fez questão de propagar ao mundo via “Carta ao Povo Brasileiro”, tendo José Alencar como seu vice, um burguês, dono de indústria, e líder do PL, o partido tomado pelos fundamentalistas religiosos da Igreja Universal.

Mas, seja como for, depois de ser parte de tudo isso, se mantendo no PT e inclusive se beneficiando com o dinheiro dos bancos e empreiteiras, à medida que suas eleições como deputados e senadora foi ajudada pela estrutura geral da campanha do PT, os “radicais” agiram corretamente ao votar contra a reforma de Lula. Deveriam ter rompido imediatamente com um partido que se tornara burguês explicitamente, mas não o fizeram. O PT foi quem teve que expulsá-los, com eles lutando para permanecer. Mas não deixou de ser importante os 4 votarem contra o imenso ataque que o PT fazia, e levado isso até o final, mesmo sendo expulsos. Um gesto digno, que não foi repetido por outros deputados, como Chico Alencar, Ivan Valente, Lindbergh Farias e outros, que covardemente se abstiveram, permitindo que os aposentados e trabalhadores sofressem um dos ataques mais brutais a seus direitos.

A Reforma da Previdência de 2003 foi um marco e consistiu num dos piores ataques a direitos históricos, e sinalizando a todos que o PT havia mudado sua natureza de classe, deixando de ser num partido operário-burguês (da classe operária, ainda que com um programa burguês) para se converter num partido burguês-operário (da classe burguesa, ainda que com uma base social operária). Mais adiante, ainda haveria uma nova conversão do PT, que perderia sua base operária e passaria a ser apenas mais um partido burguês clássico, alterando o conteúdo de seus governos também. Por alguns anos, os governos do PT, que já era burguês, ainda corresponderam a governos de Frente Popular (governos burgueses, mas atípicos, já que a classe trabalhadora o enxerga como seu, e a burguesia ainda desconfia dele). Mas, depois, passaram a ser governos abertamente burgueses, com a experiência com os governos do PT e a perda de sua base operária de apoio, sem mais nenhuma diferença significativa destes governos com qualquer outro.

Analisar o PT é indispensável ao se analisar o PSOL, que saiu do PT e sempre foi sua sombra. Nas eleições de 2004, por exemplo, quando recém havia sido criado e não tinha ainda registro para concorrer, o PSOL apoiou em massa os candidatos do PT pelo Brasil afora. O mesmo partido burguês que acabara de os expulsar, que promovia reformas neoliberais e apresentava candidatos de direita e coligações pior ainda. Foi o caso de Porto Alegre, em que Luciana Genro e o PSOL do RS apoiaram Raul Pont do PT a prefeito. Uma candidatura não apenas burguesa como de situação, pois o PT já era governo há 16 anos na cidade. O PSOL saiu do PT mas o PT nunca saiu do PSOL.

 Em 2005, acontece uma entrada em massa no PSOL. Os oportunistas petistas, que haviam se abstido na Reforma da Previdência, lavando as mãos quando milhões de brasileiros tiveram seus direitos massacrados, se filiaram ao PSOL, supostamente apenas para “terem legenda para as eleições de 2006”. Ivan Valente, Chico Alencar, Geraldo Mesquita, Marcelo Freixo, Edmilson Rodrigues (ex-prefeito de Belém pelo PT e inimigo dos trabalhadores) e outras “celebridades” do PSOL entraram neste período, e a expectativa era de uma enorme votação “pela esquerda do PT” em 2006.

 Veio 2006, quando seria 1ª eleição em que o PSOL concorreria. Heloísa Helena foi a candidata a presidente, se anunciando como uma “troskista cristã” e com pérolas como ser contra o aborto, exigir que o Brasil usasse violência para defender as instalações da Petrobrás paralisadas por indígenas bolivianos, dizer que no seu governo não haveria ocupações do MST, que pagaria a dívida externa, etc., etc. Uma candidatura feira para ganhar votos. Seu slogan cantava “uma luz que surgiu, para mudar o Brasil”. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto, Heloísa aparecia com índices entre 15% e 20%, em 2º lugar, logo depois de Lula.

Sua ida para o 2º turno foi uma possibilidade real, o que levou até mesmo ao PSTU apoiar o PSOL, descumprindo a votação interna feita em conferência eleitoral, que condicionava o eventual apoio a que Heloísa tivesse um programa classista, o vice fosse do PSTU, houvesse a defesa do não pagamento da dívida, dos direitos das mulheres, que denunciasse a democracia-burguesa, etc. Nada disso aconteceu, a candidatura de Heloísa Helena teve um programa burguês e consistiu numa campanha de Frente Popular, formada por PSOL, PSTU e PCB, mas o PSTU rasgou a decisão de seus militantes e aderiu a esta Frente de programa burguês. Tudo porque Heloísa poderia até mesmo se eleger, ou ao menos fazer uma votação histórica, e elegeria uma enorme bancada parlamentar por tabela. O reformismo estava indo ao paraíso…

Então, veio a votação e a dura realidade, que, no final, foi um fracasso retumbante. Heloísa Helena ainda fez 6,85% dos votos, o que, em si mesmo, foi uma votação bastante boa, com 6.575.393 votos. Mas, para quem chegou a sonhar com a eleição e esteve próxima de ir ao 2o turno, foi um 3o lugar amargo, muitíssimo longe dos principais candidatos. O PSOL não conseguiu ser uma 3a via, e sua bancada parlamentar eleita também foi pequena, com míseros 3 deputados.

Após a eleição, a ala do partido formada pela entrada dos parlamentares que ajudaram a aprovar a Reforma da Previdência não saiu do partido, e ainda se tornou a direção majoritária dele. Foi o fim do projeto de ser uma alternativa ao PT, que já desde o início era precário, mas neste momento foi enterrado em definitivo. De lá em diante, o PSOL já se envolveu em escândalos como o do mensalinho do senador Geraldo Mesquita (AC), que empregava uma dúzia de parentes como funcionários-fantasma e cobrava até 40% de propina dos salários dos seus funcionários reais. Elias Vaz, vereador e dirigente do PSOL em GO, protagonizou outro escândalo, sendo parte da lista de corrupção e de pagamentos do criminoso Carlinhos Cachoeira. Martiniano Cavalcante, presidente do PSOL de Goiás, também fez parte do esquema, e recebeu R$ 200 mil de Carlinhos Cachoeira. Na época, disse que o presidente nacional do PSOL, Ivan Valente, os apoiava e estava tranquilo.

Carlinhos Cachoeira, para quem não lembra, era o agente financeiro da corrupção envolvendo a construtora Delta, que multiplicou seu patrimônio de maneira absurda durante o governo do PT, sendo a maior beneficiária de obras superfaturadas e da roubalheira nacional do PT, que também envolveu a Odebrecht, OAS, Camargo Correia, Andrade Gutierrez, etc. O triplex de Lula, o sítio em Atibaia e os 300 milhões da Odebrecht para Dilma, que Palocci negociou são decorrência da investigação original sobre a Delta. Um detalhe: Martiniano também já era um dono de construtora nesta época… O PDSOL aliado ao PT também na corrupção, e não apenas nas eleições. O impressionante é que Martiniano ainda foi pré-candidato a presidente nas eleições de 2010 pelo PSOL. E quase foi o escolhido nas prévias do PSOL, tendo sido apoiado até mesmo por Heloísa Helena, quando acabou sendo escolhido Plinio de Arruda Sampaio.

Plínio, então, concorreu contra um PT sem Lula, com o primeiro “poste” de Lula, como ele mesmo descreveu os candidatos que nunca haviam concorrido antes e escolhidos pessoalmente por ele. Dilma não tinha nem 1% do carisma de Lula, e o desgaste de 8 anos de governos do PT deram novamente uma esperança de grande votação do PSOL. Foi outra candidatura com um programa burguês, embora um pouco mais à esquerda que fora Heloísa Helena. Curiosamente, por não ter chances de ir a um 2 turno e nem haver mais a “febre” eleitoral que levou à crença de eleger uma grande bancada parlamentar na esteira de Heloísa, o PSTU voltou a lançar candidato próprio, apesar de Plínio estar um pouco mais à esquerda de Heloísa.

Ao fim, a votação do PSOL desabou a cerca de 1/8 dos votos de 4 anos antes. Plínio fez 886.800 votos, um fracasso completo para as pretensões do partido, e um encolhimento eleitoral impressionante. Outra vez, foram apenas 3 deputados eleitos, se mantendo entre as bancadas nanicas.

As votações decepcionantes e o ingresso em massa de oportunistas, de donos de construtoras, grandes empresários, gente de direita de todos os tipos, o PSOL acabou se tornando um “saco de gatos”. Dirigentes nacionais como Luciana Genro fizeram de tudo para filiar ao partido a vereadora Juliana Brizola do PDT do RS, por exemplo. Neta de Brizola, um burguês que era e ainda é ídolo de dirigentes do PSOL como Pedro Ruas, Juliana sempre foi parte das máfias estudantis do PDT que, entre outras coisas, controlava o DCE da PUC e outras entidades com métodos de gangue, fraudes em eleições, corrupção generalizada e até assassinatos imputados a seus membros. Pelo sobrenome famoso, tudo deixado de lado e teve as portas abertas, pelas quais só não passou por ter recusado, sabendo dos poucos votos do PSOL. Personagens folclóricos, com discurso religioso e inimigos dos trabalhadores: todos entravam e seguem entrando. Na eleição de 2014, um dos poucos eleitos pelo PSOL foi o Cabo Daciolo, hoje humoristicamente famoso, por seu bordão de “Glória a Deus” e por ter sido um fã de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados e um candidato da extrema direita teocrática nas eleições atuais.

A trajetória do PSOL foi o tempo todo formada pela falta de princípios, repetindo em pouco tempo os crimes e absurdos que o próprio PT levou muito tempo para fazer. Em poucos anos, o PSOL já era sustentado por dinheiro da burguesia, com Luciano Genro recebendo vultosos recursos da multinacional Gerdau (um dos símbolos da burguesia corrupta, sanguessuga e ultra-exploradora dos trabalhadores) e da rede de supermercados Zaffari, uma das famílias burguesas mais importantes do RS.

Em poucas eleições, o PSOL já se coligou com PMDB, PP, PTB, PSB, PV e uma infinidade de partidos burgueses em diferentes cidades e estados… Com o PT e o PCdoB, então, mesmo com estes partidos estando à frente de governos que atacaram a classe trabalhadora, roubaram sem parar, venderam estatais, aprovaram a destruição do meio ambiente, assassinaram militantes, indígenas e líderes sociais, o PSOL nunca desgrudou. Entre tantas coligações vergonhosas, não é possível sequer citar todas, mas, emblematicamente, uma das mais escandalosas foi a ocorrida no Amapá, onde o PSOL era dirigido por Randolfe Rodrigues.

Único senador do partido em todo o país, Randolfe chegou a ser eleito pré-candidato a presidente pelo partido às eleições de 2014, e só não foi o candidato por que não quis, renunciando em nome de Luciana Genro, que acabou concorrendo. Pois Randolfe não concorreu a presidente para dirigir a campanha do PSOL no Amapá, onde montou uma coligação burguesa junto com a extrema-direita. DEM (ex- Arena da ditadura, partido de ACM, José Agripino, Rodrigo Maia, etc.), PSB e PSOL concorreram juntos e o PSOL deu mais um passo rumo ao fundo do poço.

Mas este crime oportunista sequer foi inédito. A capital do Amapá, Macapá, dois anos antes, já tinha eleito o primeiro prefeito do PSOL de uma capital: Clécio Luís. Clécio e Randolfe montaram uma coligação com o PPS (um dos partidos mais corruptos e de direita no Brasil), PV (do Sarney Filho), PRTB (de Levy Fidelix, ex-tropa de choque de Collor, e cuja candidatura a presidente em 2014 foi ainda mais grotesca que a de Bolsonaro, num tom apelativo anticomunista e homofóbico recordes, tendo falado a célebre frase que casais homossexuais não podem ser considerados uma família, porque “aparelho excretor não reproduz”), PMN (partido de aluguem repleto de corruptos), PCB e PTC, um partido cristão de ultradireita. Não bastando toda esta lista de absurdos, no 2o turno vieram os apoios de DEM, PSDB e PTB, que seguiram sendo base do governo do PSOL depois de eleito.

Logo depois, Randolfe Rodrigues foi denunciado como corrupto, estando na famosa lista de pagamentos da Odebrecht, tendo recebido 450 mil da empreiteira que também comprava parlamentares do PT, PCdoB, PMDB, etc. Um coroamento de sua trajetória e também do caminho trilhado pelo PSOL. O partido, aliás, não fez absolutamente nada sobre o escândalo, e Randolfe ainda seguiu sendo principal político do PSOL até que resolveu se desfiliar por conta própria, e ir formar a Rede, com a também saída do PSOL Heloísa Helena. A ruptura do principal nome do PSOL junto da antiga maior líder da sigla e de dezenas de outros nomes foi a consequência da confirmação de que o PSOL não era nem seria um grande partido eleitoral, e que seu projeto parlamentar não ultrapassaria os limites de um partido muito pequeno.

Para quem saiu do PT em 2003 contra os ataques à Previdência ou em 2005 diante do escândalo do mensalão, construir um partido aliado ao DEM, envolvido em escândalos e ainda por cima sem votos, é uma decepção completa.

Eram 2014, o PSOL teve 1.609.982 votos com Luciana Genro, que manteve o 4o lugar na eleição presidencial de Plínio de Arruda 4 anos antes, mas já não passou de um apêndice da candidatura de Dilma Roussef, sendo uma linha auxiliar do PT do início ao fim. No papel quase de candidatura laranja do PT em 2014 fez, Luciana Genro chegou a se irritar em um debate em que outra vez ajudava a candidatura de Dilma, dizendo “linha auxiliar do PT, uma ova”, mas a realidade é que realmente não passou disso. Na sequência, o PSOL atuou praticamente como parte do bloco parlamentar do PT de 2015 a 2018.

O auge desta política que faz do PSOL uma organização equivalente a uma corrente do PT, só que com registro eleitoral próprio, foi o processo do Fora Dilma. O PSOL já havia passado à margem do levante popular de 2013, que começou contra o aumento dos 20 centavos nas passagens, mas terminou questionando tudo e todos, com o PSOL sendo parte daqueles que iniciaram esnobando as lutas e ainda as considerando de direita. Depois, o PSOL também não lutou contra a violência do PT contra os manifestantes que protestavam contra a corrupção para as obras da Copa do Mundo. O PSOL sempre media suas ações, na lógica de não desestabilizar Dilma e apoiar o PT em sua disputa “contra a direita”, como se o PT mesmo não fosse também de direita.

Até que veio 2015, com milhões de trabalhadores saindo novamente às ruas e levando a um processo que obrigou partidos que até então sustentavam o mandato de Dilma a ter que assumir uma proposta de impeachment de Dilma, para que o governo caísse de maneira controlada, mantendo os direitos políticos de Dilma e deixando assumir seu vice, ao invés de um processo das massas que pudesse derrubar todos. O PSOL, antes, durante e depois da derrubada de Dilma foi mais petista que o próprio PT. O partido embarcou na onda da denúncia do “golpe” e foi a tropa de choque do governo burguês e neoliberal de Dilma, assumindo o papel de apêndice do PT de forma explícita e irreversível. Depois disso, sob Temer, mantiveram o alinhamento completo ao PT, não construindo coerentemente a Greve Geral de 2017 e caluniando a greve histórica dos caminhoneiros em 2018. Assim, como um PT pequeno, a eleição de 2018 foi apenas o triste fim deste período ainda mais à direita do PSOL.

O papel do PSOL como satélite petista foi completado com a candidatura de Guilherme Boulos. Boulos sequer era filiado ao PSOL, e já havia declarado inúmeras vezes seu apoio ao ex-presidente Lula. À frente do MTST, que já cumpriu uma função admirável e extremamente combativa, Boulos conduziu o movimento para se tornar mais um grupo governista, usado para defender um governo burguês e sustentado por verbas do Estado. Desta posição, Boulos foi convidado a ser candidato pelo PSOL, como uma “estrela”, um “novo Lula”, um “líder de multidões”, que poderia voltar a repetir Heloísa Helena e conquistar milhões de votos de ex-petistas, descrentes no partido-mãe e dispostos a abraçar um “novo PT”, mais moderado que o início do original, mas sem tantas manchas da corrupção e sem o desgaste obtido em 13 anos de governo neoliberal.

Houve muita resistência interna dos militantes mais de esquerda no PSOL, indignados com a filiação e candidatura relâmpago de alguém que nunca fora do partido e era claramente lulista. Mas o pragmatismo e eleitoralismo venceram, como sempre ocorre no PSOL, e Boulos foi lançado rumo a uma das maiores votações já vistas do PSOL. Outra vez, contudo, a expectativa se transformou em decepção, e Boulos teve um fracasso inédito, com a pior votação de todas as eleições do PSOL. Depois de ser 3o colocado em 2006 e 4o em 2010 e 2014, o PSOL ficou em 10o lugar em 2018. Atrás de candidatos inexpressivos e até mesmo do seu ex-filiado, o caricato Cabo Daciolo, que teve mais que o dobro dos pífios 617.122 votos de Boulos.

Apesar de ter eleito 10 deputados federais (após festejar equivocadamente ter eleito 12), o PSOL sai menor desta eleição. 8 dos 10 deputados são do RJ e de SP, onde o PT está ainda mais desmoralizado e o PSOL ocupa uma pequena parte deste espaço. Mas, tanto nestes 2 estados como no restante, em que as votações foram frustrantes, o PSOL deixou de ser uma alternativa. O partido perdeu a influência política que já teve e, se nunca teve peso de massas, deixou de ser referência para uma boa parte da vanguarda, que apoiou Ciro Gomes ou voltou ao ninho petista. De tanto ser linha auxiliar e apêndice do PT, na hora em que o PT precisou, os seus eleitores deixaram de lado o intermediário e foram direto ao PT. A próxima legislatura terá 3 deputados a mais do PSOL, mas o partido deixou de ter bancada no Senado, já não governa mais nenhuma capital e encolheu politicamente, deixando de aparecer como algo independente.

Além de todas as traições e repetição de práticas fisiológicas e corruptas, o PSOL sequer é uma garantia de defesa democrática para a esquerda. O partido votou a favor da cláusula de barreira que impôs limites à participação dos partidos que não obtiveram um número mínimo de votos e deputados eleitos, praticamente cassando o direito de existência de partidos como o PSTU, PCB e PCO, que supostamente deveriam estar entre seus aliados de esquerda. Ao contrário, o PSOL votou junto com a direita para restringir a democracia.

Tendo recebido mais de R$ 20 milhões do dinheiro público apenas para sua campanha em 2018, o PSOL passou a ser mais um partido do sistema, que cumpre um papel nefasto e de ataque aos trabalhadores. Ainda é um partido de esquerda, no sentido amplo e genérico deste conceito, e possui milhares de militantes e apoiadores honestos, mas seu programa, suas candidaturas e suas práticas e métodos já são completamente burgueses. Um PT dos anos 90 piorado, e sem votos…

PCdoB não atinge a cláusula de barreira e paga caro por suas traições

O PCdoB, que já foi um partido muito influente no país, tendo herdado a maioria dos militantes e do espaço político do stalinismo e da esquerda com ilusões na burocracia soviética, já tinha sofrido grandes perdas nos anos 90. Apesar de seguir dirigindo a União Nacional dos Estudantes, que não mobiliza nem influencia mais coisa nenhuma, sendo uma central de arrecadação de recursos, e de seguir à frente da central sindical CTB e de algumas dezenas de sindicatos, o PCdoB hoje é uma sombra do que já foi.

A saída de Aldo Rebelo do partido no ano passado foi o símbolo de um partido destroçado. Rebelo foi o principal dirigente do PCdoB, onde esteve por 40 anos. Foi presidente da UNE, ministro de Lula, ministro de Dilma e presidente da Câmara de Deputados. Nunca outro filiado do PCdoB chegou tão longe. E Rebelo saiu do partido para entrar no PSB, um partido burguês, cuja bancada, apenas dois anos antes, votou a favor do impeachment de Dilma, chamado de golpe por ele mesmo e pelo PCdoB. Mas o que já era um desastre, ficou ainda pior: rebelo passou apenas alguns meses no burguês PSB e já foi para o Solidariedade, partido ainda muito mais à direita, e controlado pelo mafioso sindical Paulinho da Força. O Solidariedade apoiou Geraldo Alckmin a presidente, na primeira eleição de Rebelo no partido.

Rebelo é a síntese do que aconteceu com o PCdoB, pois estas posições já eram similares às que tomava quando era o líder do partido. À frente do ministério da Defesa do PT, manteve a estrutura das Forças Armadas intactas, e foi elogiado por Bolsonaro. Como parlamentar, redigiu e propôs o novo Código Florestal, que anistiou fazendeiros criminosos e liberou a destruição da Amazônia. O PCdoB é o responsável por estas medidas, assim como é responsável de modo complementar por todos os ataques, corrupção e desmonte da soberania nacional promovidos pelo PT em 13 anos em que estiveram juntos em 4 governos.

O PCdoB acabou de ter um resultado eleitoral tão baixo, com apenas 9 deputados eleitos, que até mesmo seu registro eleitoral está ameaçado. Depois renunciar à candidatura própria a presidente, que teria com Manuela Dávila, o PCdoB aceitou tê-la como uma vice fantasma de Haddad, que passou 80% da campanha fingindo ser ele mesmo o vice de uma candidatura imaginária de Lula, que está preso e inelegível. No fim, o PCdoB desapareceu e seus 9 deputados ficaram abaixo do mínimo exigido pela cláusula de barreira, que ele mesmo e o PSOL votaram a favor. A partir de agora, o partido não terá mais acesso aos recursos públicos do fundo partidário e para as campanhas eleitorais, que lhes garantiam dezenas de milhões de reais. E tampouco terá acesso ao tempo de rádio e TV. Na política brasileira, um partido sem dinheiro e sem tempo de campanha não serve nem como aliado nem atrai políticos que queiram se eleger ou reeleger, o que torna muito provável que existam outros Aldo Rebelos saindo do partido.

Tão ruim como a derrota eleitoral histórica do PCdoB foi a única vitória do partido, a reeleição de Flávio Dino como governador do MA. Foi a chamada “vitória de Pirro”, onde o vencedor sai como perdedor. O PCdoB se elegeu em 2014 com um vice do PSDB, e novamente está com os tucanos e parte do que existe de pior na bandidagem política do MA. O estado segue sendo um dos mais pobres e violentos do país e as oligarquias mandam e desmandam.

O “comunismo” do PCdoB só resiste no nome, e ele é mais um partido de direita, burguês como o PT, que administra o capitalismo e, assim como o PSOL, sobrevive na órbita do PT. Estes partidos precisam ser superados pelos trabalhadores para que possa surgir, de verdade, um partido de esquerda, socialista e combativo no Brasil.

O fim eleitoral de PCB, PSTU e PCO

Com a votação baixíssima que tiveram em 2018 e sem eleger um único parlamentar em nenhum estado, nem para as assembleias legislativas nem para o Congresso, PCB, PSTU e PCO não terão mais acesso à propaganda eleitoral em rádio e TV nem acesso ao fundo partidário e verba para as campanhas, que, mesmo sem estes partidos terem eleito ninguém nas demais eleições, foi superior a R$ 1 milhão para cada um. No entanto, a invisibilidade eleitoral que vai atingir ainda mais estes partidos daqui por diante é apenas um aspecto de uma invisibilidade que já existe e que foi gritante como nunca nestas eleições.

O PSTU perdeu 78% dos seus votos de uma eleição para outra!

O PSTU surgiu como um partido revolucionário em 1994, mas antes já era uma corrente revolucionária com origens desde o final dos anos 70 no Brasil e há décadas existente na América Latina, carregando a herança de Marx, Lênin, Trotsky e Nahuel Moreno, fundador da LIT, da qual o PSTU é parte. Infelizmente, o PSTU abandonou seu programa e sua concepção revolucionária ao longo do tempo.

Notadamente em 2006, sob uma pressão eleitoral do recém surgido PSOL, da acomodação social e burocratização sindical cada vez maiores, e dos efeitos ainda que tardios do vendaval oportunista que varreu as organizações de esquerda e revolucionárias desde os anos 90, o PSTU muda de política, e assume uma postura reformista, que prioriza coligações eleitorais oportunistas, rebaixa seu programa, cassa parte significativa da democracia interna e converte o partido numa linha de transmissão da política do PSOL.

Ao invés disso obter os resultados esperados, de garantir mais votos, mandatos e crescimento, o saldo desta nova teoria e prática do PSTU foi o desaparecimento de seus votos, zero eleitos em todas as esferas, desde vereadores, e a ruptura de quase metade de seus militantes em 2016, que depois foram em peso para o PSOL.

Nos últimos anos, o PSTU formou chapas sindicais com todo tipo de gângster sindical, se coligou com partidos burgueses em eleição, como o PCdoB em 2012 em Belém, perseguiu dirigentes sindicais de quem discordavam, voltaram a fóruns da CUT em algumas categorias de trabalhadores e tiveram posições lamentáveis em muitas situações decisivas do país. Assistiram de fora às manifestações iniciais de 2013, depois participando delas emblocados com os governistas burgueses do PT e PCdoB, além de se acovardando diante da repressão policial e criminalizando parte dos que eram perseguidos, como os Black Blocs.  Igualmente, se recusaram a participar e disputar as manifestações de massa pelo Fora Dilma em 2015, sendo cúmplices do sequestro da parte final destas manifestações por parte da direita. E ainda declaram “abstenção” diante do impeachment de Dilma, jogando no lixo a postura exemplar do impeachment de Collor, quando o deputado Ernesto Gradela, da corrente que levou ao PSTU, votou “sim” pela derrubada do governo burguês, mesmo que de forma limitada e institucional via Congresso.

Mas a radicalização da luta de classes e a ruptura da metade mais oportunista do PSTU permitiu que o partido voltasse a ter uma postura mais próxima de seu antigo programa nos últimos 1 ou 2 anos. Assumiram praticamente todas as bandeiras levantadas pelos revolucionários e por nossa organização, e que eles sistematicamente enfrentavam até então. Aderiram ao chamado à Greve Geral, ao Fora Dilma, ao Fora Todos, à agitação por comitês populares, de que as eleições não mudam nada, que eles são todos iguais e que o Brasil precisa de uma revolução. Um giro à esquerda que, mesmo assim, não mudou parte de suas políticas práticas, que seguiram tendo coligações com partidos de direita, como até mesmo o Podemos, em Minas Gerais. De qualquer forma, foi uma inclinação à esquerda progressiva, mesmo que parcial e mais retórica, mas que não foi capaz de retomar o trabalho político que o partido já teve. O resultado eleitoral de 2018 foi o pior de toda a história do PSTU.

Se o PSOL nunca foi tão mal votado como agora, com os 0,4% de Guilherme Boulos, que tinha que encher um auditório de 250 pessoas para encontrar um eleitor; o PSTU, com a candidatura de Vera, teve 0,03% de votos entre o total de eleitores cadastrados, tendo que reunir uma pequena multidão de 3000 pessoas para que se encontrasse um eleitor seu. É a imagem da inexpressividade de um partido que, com as candidaturas de Zé Maria, já teve mais de 200 mil votos em 1998 e mais de 400 mil votos a presidente em 2002.

A eleição de 2002, aliás, foi um exemplo de como os revolucionários podem participar de uma eleição, denunciando-a por dentro, quando, além de um percentual equivalente ao de Guilherme Boulos na atual eleição, de quase meio milhão de eleitores, o PSTU chamou a atenção do país para a proposta de Bush e de FHC de implantar a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que representaria a transformação do Brasil em uma colônia.

Lamentavelmente, esta campanha nunca mais se repetiu, o PSTU compôs a Frente Popular com o PSOL de Heloísa Helena em 2006 e voltou a concorrer em 2010 e 2014, quando fez 84 mil e 91 mil votos, votações minúsculas que já corresponderam à crise política profunda que o partido vive desde sua mudança de rumo em 2005/2006. Agora, em 2018, foram somente 55 mil votos, menos do que boa parte dos vereadores eleitos em muitas cidades há 2 anos e do que inúmeros deputados em seus estados agora.

Mas talvez ainda pior que a votação para presidente foi a votação nos candidatos a deputado pelo PSTU, que mede ainda mais nitidamente o trabalho de base do partido e seu peso nas categorias de trabalhadores em que atua. Nas eleições de 2014, os candidatos do PSTU tiveram 188.473 votos, mais do que o dobro da votação que teve para presidente. Em 2018, foi o contrário. Mesmo com uma votação minúscula para presidente, a soma dos votos para deputados foi ainda mais baixa: 41.296. Isto representa uma queda de 78%! Ou seja, eleitoralmente, o PSTU desapareceu.

Este resultado eleitoral terrível é parte do encolhimento político geral do PSTU, que pode tanto afundar num rumo que levará ao desaparecimento prático do partido, ou pode servir para uma ruptura profunda com os rumos que o partido assumiu na última década, revisando o marxismo e adotando uma posição reformista. Ainda há centenas de revolucionários no PSTU e é o único partido com registro eleitoral que ainda pode assumir um papel combativo, de impulsionar a ação direta e a luta nas ruas dos trabalhadores. A encruzilhada por que passa vai exigir que se decidam pelo rumo que terão daqui para a frente.

O PCB sumiu

O PCB, que foi um partido de massas por décadas, e depois foi extinto no início dos anos 90, quando foi transformado em PPS na onda de traição de classe ocorrida depois da queda do muro de Berlim e do fim da União Soviética, voltou a ser refundado por um punhado de velhos militantes descontentes com o fim do partido. Desde então, sempre foi um partido minúsculo eleitoralmente e com pouca expressividade também nas lutas e sindicatos. Além de nanico, o “novo PCB” manteve boa parte do oportunismo e reformismo que caracterizou a história do velho “partidão”. O mais grave foi ter apoiado e feito parte do governo burguês de Lula, em 2003.

Nesta trajetória de capitulações, o PCB ainda deu um suspiro ideológico em 2014, quando lançou Mauro Iasi a presidente. Fez apenas 47 mil votos, mas conseguiu ser ouvido e fazer uma campanha ideológica, que defendia o socialismo e a luta, tendo conseguido um bom espaço no debate eleitoral das últimas eleições. Em 2018, o PCB voltou para a órbita do PSOL, partido que herdou o papel do PT como reformismo ao qual se colar. Resultado: Boulos teve a pior votação da História do PSOL, o PCB sumiu politicamente do mapa, e não se ouviu nenhuma de suas propostas. Mais do que isso, o PCB baixou sua votação para deputados de cerca de 67 mil votos para 61.341.

O PCO acabou!

Diferente do PSTU, que já teve um papel revolucionário e ainda é um partido de esquerda e combativo, apesar de tudo; e do PCB, que é um partido ainda no campo da oposição aos principais blocos burgueses do país até esta eleição, liderados pelo PT e PSDB; o PCO é um partido que nunca foi sério. O PCO é um partido que sobreviveu por décadas através do imposto sindical e do fundo partidário. À frente de sindicatos dirigidos por meio de fraudes eleitorais, agressões à oposição e conciliação de classe com a patronal, o PCO, que nunca saiu da CUT, ultimamente aderiu de vez ao PT, e foi um fanático defensor do governo burguês de Dilma e aderiu desde o início à campanha de Haddad.

Já era um partido cartorial, cujo registro serve para arrecadar fundos e cuja legenda já foi alugada inúmeras vezes, inclusive para candidatos reacionários, empresários e corruptos de todo tipo. Mas esta eleição foi a pá de cal do PCO, que além de perder o tempo de rádio e TV e o dinheiro público que recebia, viu seus irrisórios 12.969 votos em seus deputados em 2014 baixarem para inacreditáveis 2.785 votos. Para um partido com quase 30 anos de existência, rios de dinheiro público para a campanha e tempo no rádio e TV, ter 2 mil e poucos votos é patético. O PCO acabou e não vai deixar saudades.

Bolsonaro Eleito! É Hora de Lutar! Nem rir, nem chorar. Compreender e lutar!

Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos válidos. São 57 milhões de pessoas, na imensa maioria trabalhadores, que votaram em uma saída machista, racista, homofóbica e neoliberal. Mas que fizeram isso não por apoiar estas ideias, mas pensando estar votando contra a corrupção e a violência, que assolam a classe trabalhadora e se refletem na morte dos jovens, na insegurança das mulheres e na falta de verbas para a saúde e educação. As eleições são um campo propício para a mentira, pois o papel e o microfone aceitam tudo. Infelizmente, mais uma vez, os trabalhadores foram enganados e teremos um governo inimigo dos trabalhadores em 1º de janeiro.

No entanto, estes trabalhadores que elegeram Bolsonaro em massa não são nossos inimigos. Inimigos são Bolsonaro, seu vice, Mourão, e os líderes políticos e empresariais da sua campanha. Como são inimigos os líderes das candidaturas de Haddad, Ciro Gomes, Alckmin, etc. À imensa maioria dos eleitores de Bolsonaro, temos que propor lutar juntos conosco, pois a sociedade é dividida em classes e não em dois blocos partidários e submissos ao capitalismo, como querem fazer crer os dirigentes do PT. A partir de agora, a guerra não é PT e eleitores de Haddad x Bolsonaro e seus eleitores. A guerra é de classes: trabalhadores x banqueiros, empreiteiros, latifundiários e grandes empresários.

Quase todos os eleitores de Bolsonaro foram vítimas do neoliberalismo e da corrupção dos governos do PSDB e do PT, e votaram nele por exclusão. Discordamos desta escolha eleitoral, mas eles também são explorados e voltarão a sofrer nas mãos de Bolsonaro. Não adianta nada agirmos com arrogância ou agressão contra outros explorados como nós, que votaram num inimigo de classe como tantas outras vezes e tantos outros partidos já foram eleitos por quem agora será oposição.

A luta é de classes! Nós, os 99%, contra eles, o 1% que governa o Brasil desde sempre e que mandou em absolutamente todos os governos que existiram, de todos os partidos. São as professoras, os pedreiros, os agricultores, as bancárias, os metalúrgicos, as comerciárias, a juventude pobre e todos os explorados e oprimidos, que votaram em Haddad, Bolsonaro ou fizeram parte da multidão de não-votos (que bateu recorde novamente, com 42,5 milhões de pessoas), que deverão, juntos, combater todos os patrões: o governo de Bolsonaro em 1º lugar, mas também a oposição que ajudou a criar Bolsonaro quando esteve no poder.

O momento é de unir os trabalhadores contra todos eles; contra Bolsonaro, o PSL, o MDB, o PSDB, o PT, o PDT e todos os que há décadas assaltam os cofres públicos, retiram nossos direitos, vendem nosso patrimônio e empobrecem cada vez mais nosso país. Devemos estar juntos contra a Reforma da Previdência, as privatizações, o arrocho fiscal e os ataques a direitos civis que serão propostos!

O filósofo Espinoza disse “nem rir nem chorar, mas compreender”. Tantas outras vezes, os revolucionários e trabalhadores combativos foram postos a esta prova: não sucumbir ao desânimo e à paralisia, tão equivocados e inúteis para quem quer mudar a vida e o mundo, quanto a falsa sensação de alegria e entusiasmo que muitos outros estão sentido.

A esperança de mudança e de um governo honesto com Bolsonaro vai se dissipar muito cedo, diante de um governo que, desde o 1º dia, será repleto de corruptos e que atacará os direitos de 99% dos brasileiros (eleitores de Bolsonaro, inclusive). Da mesma forma, aqueles que estão desiludidos e frustrados devem vir conosco para a luta! Só a luta muda a vida e não são, nem nunca foram, as eleições o momento de mudança.

Estamos juntos com todos aqueles que temem uma escalada de preconceito e violência dos opressores, e que por isso votaram em Haddad. Infelizmente, esta já é a realidade e a violência contra mulheres, negros e LGBTQs só aumentou nos governos FHC, Lula, Dilma e Temer. Nem um nem outro candidato estaria do nosso lado nesta questão. Mas Bolsonaro deu declarações que exigem nosso enfrentamento desde já, e chamamos especialmente os oprimidos a estarem na linha de frente contra este governo neoliberal. Somos solidários e fazemos parte desta resistência, mas não é em eleições de cartas marcadas, e sim na ação direta e com nossa auto defesa podemos acabar com este massacre que já nos atinge e só tende a piorar dentro do capitalismo, seja o governo que for.

O PT e o PSDB também governaram para banqueiros e empreiteiros, e atacaram profundamente os trabalhadores; Bolsonaro vai tentar manter e aprofundar este caminho. Mas os trabalhadores reagiram e derrotaram iniciativas que os atacavam nos governos FHC, Lula, Dilma e Temer. Juntos, somos muito fortes, e as lutas têm sido cada vez mais frequentes no país. É possível derrotar Bolsonaro e o Congresso!

Nem Bolsonaro nem o PT! Unir os trabalhadores para lutar contra todos os ataques!

Somos oposição a este governo desde já, mas também não confiamos nem estaremos em qualquer frente com aqueles que também mataram, roubaram e atacaram direitos dos trabalhadores. PSL, PT, PSDB, PMDB e etc. são, apesar de todas suas diferenças, partidos dos patrões, dos banqueiros e inimigos dos trabalhadores. Estaremos nas ruas em unidade de ação com quem for, como estivemos nas ruas com quem fosse contra a ditadura, contra Sarney, contra Collor, contra FHC, contra Itamar, contra Lula, contra Dilma e contra Temer!

Mas uma coisa é a unidade de ação na rua, onde devem estar todos que querem lutar por um ponto em comum: derrotar os ataques de Bolsonaro, atualmente. Outra coisa seria submeter nossa independência de classe e nosso programa para emancipar a classe trabalhadora e libertar os oprimidos da opressão a qualquer programa burguês ou projeto eleitoreiro.

Esta não é a nossa luta. Nossa luta não é para escolher quem vai gerenciar os negócios da burguesia contra o povo; é para derrubar todo este sistema, onde eles são todos iguais, e que sejam os explorados a governar por si mesmos. Uma revolução é o que precisamos! Chega de a cada 4 anos mudar a cor do chicote, pois as costas são sempre as mesmas a apanhar: as nossas.

Os trabalhadores devem estar unidos! Paz entre nós e guerra aos senhores! O mundo não vai se acabar a partir de 1o de janeiro, mas tampouco vai melhorar. Nem rir nem chorar. Temos que compreender corretamente e aprender com os erros já cometidos. A saída vira apenas dos próprios trabalhadores, e devemos lutar! Porque só a luta muda a vida!