#ELESNAO! A enxurrada de 40 milhões de não-votos mostram que uma grande parte população já entendeu que o problema maior não é um candidato ou outro: é o sistema! [6ª Parte]

Para muitos, a eleição, desde o primeiro turno, assumiu um tom maniqueísta e falsamente polarizado, de "PT x antiPT" ou, como a outra face da mesma moeda, "Bolsonaro x antiBolsonaro". No entanto, além de, politicamente, esta polarização ser uma ilusão, pois ambos são muito mais parecidos do que a maioria consegue compreender, sequer eleitoralmente esta polarização foi absoluta, embora tenha, de fato, existido. Sobre o conjunto dos mais de 147 milhões de eleitores, Bolsonaro fez pouco mais de um terço dos votos: 33,46%. Haddad fez pouco mais de um quinto, ou 21,26%.

Nacional - 16 de outubro de 2018

6ª Parte da série “Balanço das Eleições 2018” 

Outra vez, uma falsa polarização. Bolsonaro e Haddad se criticam, mas são farinhas do mesmo saco.

Para muitos, a eleição, desde o primeiro turno, assumiu um tom maniqueísta e falsamente polarizado, de “PT x antiPT” ou, como a outra face da mesma moeda, “Bolsonaro x antiBolsonaro”. No entanto, além de, politicamente, esta polarização ser uma ilusão, pois ambos são muito mais parecidos do que a maioria consegue compreender, sequer eleitoralmente esta polarização foi absoluta, embora tenha, de fato, existido. Sobre o conjunto dos mais de 147 milhões de eleitores, Bolsonaro fez pouco mais de um terço dos votos: 33,46%. Haddad  fez pouco mais de um quinto, ou 21,26%. Juntos, passaram por muito pouco da metade dos eleitores. Isso quer dizer que, apesar de toda a excitação de eleitores de Haddad e Bolsonaro, comparado à soma dos votos em ambos, houve uma quantidade quase tão grande de eleitores que disse “eles não!”.

 Se para cada eleitor do Bolsonaro, houve outros 2 que não o escolheram, o que o deixa longe de ter a maioria de apoio; e para cada eleitor de Haddad, houve outros 4 sem votar nele; Ciro Gomes teve 1 eleitor em cada 11 pessoas, com apenas 9,06% dos votos. O outrora poderoso PSDB saiu destroçado das urnas, com uma bancada de metade de deputados, tendo tomado uma surra nas eleições para o Senado e governos estaduais e pífios 3,46% em Alckmin a presidente. Quer dizer: houve um eleitor tucano a cada 29 pessoas! Meirelles, do MDB, o “maior partido do Brasil”, e com a máquina da presidência de Temer, precisaria reunir 83 pessoas para achar um eleitor seu, com 1,2%. Um índice de candidato nanico, como o de Marina Silva com 1% ou Álvaro Dias, com 0,8%, sendo ambas figuras conhecidíssimas. Por último, Guilherme Boulos, na candidatura com menos votos em toda a história de eleições presidenciais do PSOL, e seus 0,4%, que exigiram uma pequena multidão de 250 pessoas para se poder encontrar um eleitor seu.

Mas qual o significado destes números? Eles servem para demonstrar que a polarização absoluta que aparece nas redes sociais e outros ambientes de militantes pagos, perfis fakes e uma pequena burguesia ativista de computador, não é, necessariamente, a distribuição real de opiniões do conjunto da população. O “ativismo” virtual e o exagero conveniente de petistas e bolsonaristas em enxergarem apenas a si mesmos como as 2 opções possíveis, falsifica o fato deles juntos terem sido apenas metade dos eleitores no 1o turno. Não que qualquer outro candidato tenha rompido esta polarização, já que os votos de todos foram um fracasso retumbante. Mas é uma falsa polarização por ignorar que quase 30% da população se recusou a votar em qualquer um.

Ao invés de compreender este fenômeno do não-voto e tentar politizá-lo para uma saída combativa dos trabalhadores, contra os 50 tons de direita apresentados nesta campanha por todos os candidatos que tiveram ao menos 100 mil votos a presidente, a “esquerda” prefere mais uma vez desprezar aqueles que rompem com a ilusão democrático-burguesa. Prefere, ao contrário, chantagear, ameaçar, combater e tentar pintar o apocalipse como forma de convencer quem já não acredita nesta farsa que são as eleições a voltar a acreditar, a voltar a se iludir, a tentar provar que o voto pode sim fazer a diferença e que, mais do que isso, vai decidir entre a vida e a morte, e decidir nosso futuro.

Este alarmismo eleitoreiro é tão cínico como reacionário, e contaminou o debate a um ponto de se rebaixar muito mais baixo que o princípio da independência de classe poderia admitir. A situação chegou ao ponto de se implorar o apoio de FHC! Do PT oferecer ministérios ao PP, o ex-partido de Bolsonaro, onde ele passou 20 anos de sua vida política, e cujo presidente nacional, Ciro Nogueira, é cabo eleitoral do PT desde o 1o turno!

PT e Bolsonaro estão juntos no amor ao PP de Maluf, Delfim Neto e centenas de bandidos egressos da ditadura (ARENA, depois PDS e agora PP) e envolvidos no maior número de escândalos de corrupção dentre todos os partidos. Bolsonaro e o PT se lambuzaram com o PP neste tempo todo. Bolsonaro recebeu repasses de verbas de propina nas suas campanhas, além de só ter se elegido na maioria das vezes graças ao somatório de seus votos e dos demais criminosos do PP. O PT negociou apoio e tempo na TV em troca de cargos, loteando a Petrobrás, a Caixa e dezenas de estatais e autarquias à quadrilha do PP. E agora Haddad acaba de prometer mais cargos e ministérios em troca de novo apoio. Justamente o mesmo PP que ajudou no impeachment de Dilma agora é cortejado novamente.

Bolsonaro e o PT não têm escrúpulos, e ambos já mudaram de aliados e inimigos conforme a conveniência. Bolsonaro, inclusive, já foi da base e apoio e sustentação de Lula ao longo de seus mandatos. Não apenas já foi da base de Lula, como Bolsonaro votou e chamou voto em Lula no 2o turno de 2002, depois de apoiar Ciro Gomes no 1o turno da mesma eleição. Vejam só que curioso: os votos de Bolsonaro em 2002 (Ciro no 1o turno e PT no 2o) são os mesmos de muitos ativistas nesta eleição de 2018, que justificam o voto em 2 patrões justamente para “derrotar” Bolsonaro.

A diferença é que o voto em Lula em 2002 era não apenas aceitável como progressivo, pois o PT ainda não tinha sido governo e nem era ainda um partido burguês. Votar em Lula em 2002 ainda era votar num partido operário oportunista e traidor, mas de esquerda. Hoje, para votar contra o deputado que fez parte do governo Lula, setores da “esquerda” defendem a candidatura conjunta do PP, de FHC e do PT de 16 anos e 4 mandatos depois, totalmente de direita, neoliberal, corrupto e burguês. É o mundo dando voltas…

Bolsonaro já havia feito campanha para Lula em 1994. Chamou Lula de “companheiro” e “nosso querido Lula”, além de ter dado nota 10 a um discurso do ex-presidente, hoje presidiário, e ter defendido José Genoíno para ser ministro da Defesa. Bolsonaro e o PT já foram governo juntos, fizeram campanhas do mesmo lado em inúmeras eleições e igualmente são expressões burguesas e neoliberais para o país!

Com um ou outro, a Caixa está ameaçada de ser privatizada, tendo seu capital aberto. Dilma acusava Aécio de querer vender o banco, ao mesmo tempo que dizia que não cortaria direitos “nem que a vaca tussa”. Pois a vaca tossiu, Dilma anunciou a privatização da Caixa e o desmonte do abono do PIS, do seguro-desemprego e uma mini-reforma da Previdência atacando em especial as viúvas pensionistas. Bolsonaro apoiou todas estas ações. Os trabalhadores, quando lutaram contra estes ataques, tiveram que enfrentar Bolsonaro, o PT e os demais partidos burgueses, que brigam por votos, mas estão de mãos dadas sempre que há um ataque mais grave.

Bolsonaro e o PT pagarão sem contestar os juros da dívida pública, que consome mais de 40% do orçamento público. Bolsonaro e o PT não retomarão o monopólio estatal do petróleo no Brasil, nem voltarão a uma Petrobrás ou BB 100% públicos. Ao contrário: ambos vão vender ainda mais ações de ambas empresas, fatias do BB (cartões, seguros, etc.) e entregarão ainda mais poços de petróleo e gás. Foi o que o PT aplicou em 14 anos! Foi o que Bolsonaro sempre apoiou. Da mesma forma, ambos vão propor novos ataques aos aposentados com uma Reforma da Previdência. Como a que Lula fez em 2003 (quando Bolsonaro votou contra), e como FHC e Dilma também fizeram.

Com Bolsonaro ou o PT, os recursos da saúde e da educação seguirão sendo cortados, a reforma agrária não vai existir e o agronegócio seguirá mandando no país junto com os banqueiros. Tanto o PT já teve o mesmo Henrique Meirelles de Temer comandando a economia, como Bolsonaro fala em manter o presidente do Banco Central de Temer, caso eleito. Ou seja, são os mesmos ataques, é a mesma política econômica… PT e Bolsonaro andaram muito mais juntos do que se imagina nestas últimas décadas e a recente hostilidade exacerbada entre ambos é um movimento calculado dos 2 lados: ambos crescem muito mais do que realmente teriam de apoiadores ao serem o “arquirrival” um do outro.

Uma polarização falsa e que esconde o quanto estiveram, estão e seguirão estando juntos na defesa do capitalismo, dos interesses dos grandes burgueses e contra as condições de vida da maioria da população. Uma polarização política de araque e que ainda esconde que, no campo do voto tampouco só há estes dois “polos”: houve a haverá um setor quase tão grande como o do 1o colocado e maior que o 2o colocado que é o daqueles que se recusam a votar em qualquer um. Que sabem que um trabalhador não pode votar em nenhum destes inimigos da nossa classe!