#ELESNAO! A enxurrada de 40 milhões de não-votos mostram que uma grande parte população já entendeu que o problema maior não é um candidato ou outro: é o sistema! [17ª Parte]

Com a votação baixíssima que tiveram em 2018 e sem eleger um único parlamentar em nenhum estado, nem para as assembleias legislativas nem para o Congresso, PCB, PSTU e PCO não terão mais acesso à propaganda eleitoral em rádio e TV nem acesso ao fundo partidário e verba para as campanhas, que, mesmo sem estes partidos terem eleito ninguém nas demais eleições, foi superior a R$ 1 milhão para cada um. No entanto, a invisibilidade eleitoral que vai atingir ainda mais estes partidos daqui por diante é apenas um aspecto de uma invisibilidade que já existe e que foi gritante como nunca nestas eleições.

Nacional - 28 de outubro de 2018

17ª Parte da série “Balanço das Eleições 2018”

O fim eleitoral de PCB, PSTU e PCO

Com a votação baixíssima que tiveram em 2018 e sem eleger um único parlamentar em nenhum estado, nem para as assembleias legislativas nem para o Congresso, PCB, PSTU e PCO não terão mais acesso à propaganda eleitoral em rádio e TV nem acesso ao fundo partidário e verba para as campanhas, que, mesmo sem estes partidos terem eleito ninguém nas demais eleições, foi superior a R$ 1 milhão para cada um. No entanto, a invisibilidade eleitoral que vai atingir ainda mais estes partidos daqui por diante é apenas um aspecto de uma invisibilidade que já existe e que foi gritante como nunca nestas eleições.

O PSTU perdeu 78% dos seus votos de uma eleição para outra!

O PSTU surgiu como um partido revolucionário em 1994, mas antes já era uma corrente revolucionária com origens desde o final dos anos 70 no Brasil e há décadas existente na América Latina, carregando a herança de Marx, Lênin, Trotsky e Nahuel Moreno, fundador da LIT, da qual o PSTU é parte. Infelizmente, o PSTU abandonou seu programa e sua concepção revolucionária ao longo do tempo.

Notadamente em 2006, sob uma pressão eleitoral do recém surgido PSOL, da acomodação social e burocratização sindical cada vez maiores, e dos efeitos ainda que tardios do vendaval oportunista que varreu as organizações de esquerda e revolucionárias desde os anos 90, o PSTU muda de política, e assume uma postura reformista, que prioriza coligações eleitorais oportunistas, rebaixa seu programa, cassa parte significativa da democracia interna e converte o partido numa linha de transmissão da política do PSOL.

Ao invés disso obter os resultados esperados, de garantir mais votos, mandatos e crescimento, o saldo desta nova teoria e prática do PSTU foi o desaparecimento de seus votos, zero eleitos em todas as esferas, desde vereadores, e a ruptura de quase metade de seus militantes em 2016, que depois foram em peso para o PSOL.

Nos últimos anos, o PSTU formou chapas sindicais com todo tipo de gângster sindical, se coligou com partidos burgueses em eleição, como o PCdoB em 2012 em Belém, perseguiu dirigentes sindicais de quem discordavam, voltaram a fóruns da CUT em algumas categorias de trabalhadores e tiveram posições lamentáveis em muitas situações decisivas do país. Assistiram de fora às manifestações iniciais de 2013, depois participando delas emblocados com os governistas burgueses do PT e PCdoB, além de se acovardando diante da repressão policial e criminalizando parte dos que eram perseguidos, como os Black Blocs.  Igualmente, se recusaram a participar e disputar as manifestações de massa pelo Fora Dilma em 2015, sendo cúmplices do sequestro da parte final destas manifestações por parte da direita. E ainda declaram “abstenção” diante do impeachment de Dilma, jogando no lixo a postura exemplar do impeachment de Collor, quando o deputado Ernesto Gradela, da corrente que levou ao PSTU, votou “sim” pela derrubada do governo burguês, mesmo que de forma limitada e institucional via Congresso.

Mas a radicalização da luta de classes e a ruptura da metade mais oportunista do PSTU permitiu que o partido voltasse a ter uma postura mais próxima de seu antigo programa nos últimos 1 ou 2 anos. Assumiram praticamente todas as bandeiras levantadas pelos revolucionários e por nossa organização, e que eles sistematicamente enfrentavam até então. Aderiram ao chamado à Greve Geral, ao Fora Dilma, ao Fora Todos, à agitação por comitês populares, de que as eleições não mudam nada, que eles são todos iguais e que o Brasil precisa de uma revolução. Um giro à esquerda que, mesmo assim, não mudou parte de suas políticas práticas, que seguiram tendo coligações com partidos de direita, como até mesmo o Podemos, em Minas Gerais. De qualquer forma, foi uma inclinação à esquerda progressiva, mesmo que parcial e mais retórica, mas que não foi capaz de retomar o trabalho político que o partido já teve. O resultado eleitoral de 2018 foi o pior de toda a história do PSTU.

Se o PSOL nunca foi tão mal votado como agora, com os 0,4% de Guilherme Boulos, que tinha que encher um auditório de 250 pessoas para encontrar um eleitor; o PSTU, com a candidatura de Vera, teve 0,03% de votos entre o total de eleitores cadastrados, tendo que reunir uma pequena multidão de 3000 pessoas para que se encontrasse um eleitor seu. É a imagem da inexpressividade de um partido que, com as candidaturas de Zé Maria, já teve mais de 200 mil votos em 1998 e mais de 400 mil votos a presidente em 2002.

A eleição de 2002, aliás, foi um exemplo de como os revolucionários podem participar de uma eleição, denunciando-a por dentro, quando, além de um percentual equivalente ao de Guilherme Boulos na atual eleição, de quase meio milhão de eleitores, o PSTU chamou a atenção do país para a proposta de Bush e de FHC de implantar a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que representaria a transformação do Brasil em uma colônia.

Lamentavelmente, esta campanha nunca mais se repetiu, o PSTU compôs a Frente Popular com o PSOL de Heloísa Helena em 2006 e voltou a concorrer em 2010 e 2014, quando fez 84 mil e 91 mil votos, votações minúsculas que já corresponderam à crise política profunda que o partido vive desde sua mudança de rumo em 2005/2006. Agora, em 2018, foram somente 55 mil votos, menos do que boa parte dos vereadores eleitos em muitas cidades há 2 anos e do que inúmeros deputados em seus estados agora.

Mas talvez ainda pior que a votação para presidente foi a votação nos candidatos a deputado pelo PSTU, que mede ainda mais nitidamente o trabalho de base do partido e seu peso nas categorias de trabalhadores em que atua. Nas eleições de 2014, os candidatos do PSTU tiveram 188.473 votos, mais do que o dobro da votação que teve para presidente. Em 2018, foi o contrário. Mesmo com uma votação minúscula para presidente, a soma dos votos para deputados foi ainda mais baixa: 41.296. Isto representa uma queda de 78%! Ou seja, eleitoralmente, o PSTU desapareceu.

Este resultado eleitoral terrível é parte do encolhimento político geral do PSTU, que pode tanto afundar num rumo que levará ao desaparecimento prático do partido, ou pode servir para uma ruptura profunda com os rumos que o partido assumiu na última década, revisando o marxismo e adotando uma posição reformista. Ainda há centenas de revolucionários no PSTU e é o único partido com registro eleitoral que ainda pode assumir um papel combativo, de impulsionar a ação direta e a luta nas ruas dos trabalhadores. A encruzilhada por que passa vai exigir que se decidam pelo rumo que terão daqui para a frente.

O PCB sumiu

O PCB, que foi um partido de massas por décadas, e depois foi extinto no início dos anos 90, quando foi transformado em PPS na onda de traição de classe ocorrida depois da queda do muro de Berlim e do fim da União Soviética, voltou a ser refundado por um punhado de velhos militantes descontentes com o fim do partido. Desde então, sempre foi um partido minúsculo eleitoralmente e com pouca expressividade também nas lutas e sindicatos. Além de nanico, o “novo PCB” manteve boa parte do oportunismo e reformismo que caracterizou a história do velho “partidão”. O mais grave foi ter apoiado e feito parte do governo burguês de Lula, em 2003.

Nesta trajetória de capitulações, o PCB ainda deu um suspiro ideológico em 2014, quando lançou Mauro Iasi a presidente. Fez apenas 47 mil votos, mas conseguiu ser ouvido e fazer uma campanha ideológica, que defendia o socialismo e a luta, tendo conseguido um bom espaço no debate eleitoral das últimas eleições. Em 2018, o PCB voltou para a órbita do PSOL, partido que herdou o papel do PT como reformismo ao qual se colar. Resultado: Boulos teve a pior votação da História do PSOL, o PCB sumiu politicamente do mapa, e não se ouviu nenhuma de suas propostas. Mais do que isso, o PCB baixou sua votação para deputados de cerca de 67 mil votos para 61.341.

O PCO acabou!

Diferente do PSTU, que já teve um papel revolucionário e ainda é um partido de esquerda e combativo, apesar de tudo; e do PCB, que é um partido ainda no campo da oposição aos principais blocos burgueses do país até esta eleição, liderados pelo PT e PSDB; o PCO é um partido que nunca foi sério. O PCO é um partido que sobreviveu por décadas através do imposto sindical e do fundo partidário. À frente de sindicatos dirigidos por meio de fraudes eleitorais, agressões à oposição e conciliação de classe com a patronal, o PCO, que nunca saiu da CUT, ultimamente aderiu de vez ao PT, e foi um fanático defensor do governo burguês de Dilma e aderiu desde o início à campanha de Haddad.

Já era um partido cartorial, cujo registro serve para arrecadar fundos e cuja legenda já foi alugada inúmeras vezes, inclusive para candidatos reacionários, empresários e corruptos de todo tipo. Mas esta eleição foi a pá de cal do PCO, que além de perder o tempo de rádio e TV e o dinheiro público que recebia, viu seus irrisórios 12.969 votos em seus deputados em 2014 baixarem para inacreditáveis 2.785 votos. Para um partido com quase 30 anos de existência, rios de dinheiro público para a campanha e tempo no rádio e TV, ter 2 mil e poucos votos é patético. O PCO acabou e não vai deixar saudades.