#ELESNAO! A enxurrada de 40 milhões de não-votos mostram que uma grande parte população já entendeu que o problema maior não é um candidato ou outro: é o sistema! [16ª Parte]

Quando nasceu, em 2004, o PSOL se apresentava como uma alternativa ao PT, de o de a maioria de seus militantes proveio. O chamado "movimento por um novo partido", iniciado pelos "radicais do PT" que votaram contra a Reforma da Previdência de Lula, foi inicialmente impulsionado pela senadora Heloísa Helena e pelos deputados Babá, João Fontes e Luciana Genro.

Nacional - 28 de outubro de 2018

16ª Parte da série “Balanço das Eleições 2018”

PSOL se consolida como uma corrente externa do PT.  E a crise terminal do PCdoB.

Quando nasceu, em 2004, o PSOL se apresentava como uma alternativa ao PT, de o de a maioria de seus militantes proveio. O chamado “movimento por um novo partido”, iniciado pelos “radicais do PT” que votaram contra a Reforma da Previdência de Lula, foi inicialmente impulsionado pela senadora Heloísa Helena e pelos deputados Babá, João Fontes e Luciana Genro.

 Os 4 “radicais” haviam sido parte do PT em mais de 10 anos de traições inaceitáveis deste partido, que governou estados e municípios agredindo grevistas e sem-terra, arrochando salários, privatizando empresas e governando para os ricos, como ocorreu no RS, ES, AC, Porto Alegre, São Paulo, Ribeirão Preto, etc. A corrupção, assassinatos políticos, alianças fisiológicas com oligarcas e bandidos de toda espécie já haviam sido feitas, e nada de qualquer ruptura dos 4. Lula foi eleito após prometer governar para os banqueiros, conforme confessou e fez questão de propagar ao mundo via “Carta ao Povo Brasileiro”, tendo José Alencar como seu vice, um burguês, dono de indústria, e líder do PL, o partido tomado pelos fundamentalistas religiosos da Igreja Universal.

 Mas, seja como for, depois de ser parte de tudo isso, se mantendo no PT e inclusive se beneficiando com o dinheiro dos bancos e empreiteiras, à medida que suas eleições como deputados e senadora foi ajudada pela estrutura geral da campanha do PT, os “radicais” agiram corretamente ao votar contra a reforma de Lula. Deveriam ter rompido imediatamente com um partido que se tornara burguês explicitamente, mas não o fizeram. O PT foi quem teve que expulsá-los, com eles lutando para permanecer. Mas não deixou de ser importante os 4 votarem contra o imenso ataque que o PT fazia, e levado isso até o final, mesmo sendo expulsos. Um gesto digno, que não foi repetido por outros deputados, como Chico Alencar, Ivan Valente, Lindbergh Farias e outros, que covardemente se abstiveram, permitindo que os aposentados e trabalhadores sofressem um dos ataques mais brutais a seus direitos.

 A Reforma da Previdência de 2003 foi um marco e consistiu num dos piores ataques a direitos históricos, e sinalizando a todos que o PT havia mudado sua natureza de classe, deixando de ser num partido operário-burguês (da classe operária, ainda que com um programa burguês) para se converter num partido burguês-operário (da classe burguesa, ainda que com uma base social operária). Mais adiante, ainda haveria uma nova conversão do PT, que perderia sua base operária e passaria a ser apenas mais um partido burguês clássico, alterando o conteúdo de seus governos também. Por alguns anos, os governos do PT, que já era burguês, ainda corresponderam a governos de Frente Popular (governos burgueses, mas atípicos, já que a classe trabalhadora o enxerga como seu, e a burguesia ainda desconfia dele). Mas, depois, passaram a ser governos abertamente burgueses, com a experiência com os governos do PT e a perda de sua base operária de apoio, sem mais nenhuma diferença significativa destes governos com qualquer outro.

 Analisar o PT é indispensável ao se analisar o PSOL, que saiu do PT e sempre foi sua sombra. Nas eleições de 2004, por exemplo, quando recém havia sido criado e não tinha ainda registro para concorrer, o PSOL apoiou em massa os candidatos do PT pelo Brasil afora. O mesmo partido burguês que acabara de os expulsar, que promovia reformas neoliberais e apresentava candidatos de direita e coligações pior ainda. Foi o caso de Porto Alegre, em que Luciana Genro e o PSOL do RS apoiaram Raul Pont do PT a prefeito. Uma candidatura não apenas burguesa como de situação, pois o PT já era governo há 16 anos na cidade. O PSOL saiu do PT mas o PT nunca saiu do PSOL.

 Em 2005, acontece uma entrada em massa no PSOL. Os oportunistas petistas, que haviam se abstido na Reforma da Previdência, lavando as mãos quando milhões de brasileiros tiveram seus direitos massacrados, se filiaram ao PSOL, supostamente apenas para “terem legenda para as eleições de 2006”. Ivan Valente, Chico Alencar, Geraldo Mesquita, Marcelo Freixo, Edmilson Rodrigues (ex-prefeito de Belém pelo PT e inimigo dos trabalhadores) e outras “celebridades” do PSOL entraram neste período, e a expectativa era de uma enorme votação “pela esquerda do PT” em 2006.

 Veio 2006, quando seria 1ª eleição em que o PSOL concorreria. Heloísa Helena foi a candidata a presidente, se anunciando como uma “troskista cristã” e com pérolas como ser contra o aborto, exigir que o Brasil usasse violência para defender as instalações da Petrobrás paralisadas por indígenas bolivianos, dizer que no seu governo não haveria ocupações do MST, que pagaria a dívida externa, etc., etc. Uma candidatura feira para ganhar votos. Seu slogan cantava “uma luz que surgiu, para mudar o Brasil”. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto, Heloísa aparecia com índices entre 15% e 20%, em 2º lugar, logo depois de Lula.

Sua ida para o 2º turno foi uma possibilidade real, o que levou até mesmo ao PSTU apoiar o PSOL, descumprindo a votação interna feita em conferência eleitoral, que condicionava o eventual apoio a que Heloísa tivesse um programa classista, o vice fosse do PSTU, houvesse a defesa do não pagamento da dívida, dos direitos das mulheres, que denunciasse a democracia-burguesa, etc. Nada disso aconteceu, a candidatura de Heloísa Helena teve um programa burguês e consistiu numa campanha de Frente Popular, formada por PSOL, PSTU e PCB, mas o PSTU rasgou a decisão de seus militantes e aderiu a esta Frente de programa burguês. Tudo porque Heloísa poderia até mesmo se eleger, ou ao menos fazer uma votação histórica, e elegeria uma enorme bancada parlamentar por tabela. O reformismo estava indo ao paraíso…

Então, veio a votação e a dura realidade, que, no final, foi um fracasso retumbante. Heloísa Helena ainda fez 6,85% dos votos, o que, em si mesmo, foi uma votação bastante boa, com 6.575.393 votos. Mas, para quem chegou a sonhar com a eleição e esteve próxima de ir ao 2o turno, foi um 3o lugar amargo, muitíssimo longe dos principais candidatos. O PSOL não conseguiu ser uma 3a via, e sua bancada parlamentar eleita também foi pequena, com míseros 3 deputados.

Após a eleição, a ala do partido formada pela entrada dos parlamentares que ajudaram a aprovar a Reforma da Previdência não saiu do partido, e ainda se tornou a direção majoritária dele. Foi o fim do projeto de ser uma alternativa ao PT, que já desde o início era precário, mas neste momento foi enterrado em definitivo. De lá em diante, o PSOL já se envolveu em escândalos como o do mensalinho do senador Geraldo Mesquita (AC), que empregava uma dúzia de parentes como funcionários-fantasma e cobrava até 40% de propina dos salários dos seus funcionários reais. Elias Vaz, vereador e dirigente do PSOL em GO, protagonizou outro escândalo, sendo parte da lista de corrupção e de pagamentos do criminoso Carlinhos Cachoeira. Martiniano Cavalcante, presidente do PSOL de Goiás, também fez parte do esquema, e recebeu R$ 200 mil de Carlinhos Cachoeira. Na época, disse que o presidente nacional do PSOL, Ivan Valente, os apoiava e estava tranquilo.

Carlinhos Cachoeira, para quem não lembra, era o agente financeiro da corrupção envolvendo a construtora Delta, que multiplicou seu patrimônio de maneira absurda durante o governo do PT, sendo a maior beneficiária de obras superfaturadas e da roubalheira nacional do PT, que também envolveu a Odebrecht, OAS, Camargo Correia, Andrade Gutierrez, etc. O triplex de Lula, o sítio em Atibaia e os 300 milhões da Odebrecht para Dilma, que Palocci negociou são decorrência da investigação original sobre a Delta. Um detalhe: Martiniano também já era um dono de construtora nesta época… O PDSOL aliado ao PT também na corrupção, e não apenas nas eleições. O impressionante é que Martiniano ainda foi pré-candidato a presidente nas eleições de 2010 pelo PSOL. E quase foi o escolhido nas prévias do PSOL, tendo sido apoiado até mesmo por Heloísa Helena, quando acabou sendo escolhido Plinio de Arruda Sampaio.

Plínio, então, concorreu contra um PT sem Lula, com o primeiro “poste” de Lula, como ele mesmo descreveu os candidatos que nunca haviam concorrido antes e escolhidos pessoalmente por ele. Dilma não tinha nem 1% do carisma de Lula, e o desgaste de 8 anos de governos do PT deram novamente uma esperança de grande votação do PSOL. Foi outra candidatura com um programa burguês, embora um pouco mais à esquerda que fora Heloísa Helena. Curiosamente, por não ter chances de ir a um 2 turno e nem haver mais a “febre” eleitoral que levou à crença de eleger uma grande bancada parlamentar na esteira de Heloísa, o PSTU voltou a lançar candidato próprio, apesar de Plínio estar um pouco mais à esquerda de Heloísa.

Ao fim, a votação do PSOL desabou a cerca de 1/8 dos votos de 4 anos antes. Plínio fez 886.800 votos, um fracasso completo para as pretensões do partido, e um encolhimento eleitoral impressionante. Outra vez, foram apenas 3 deputados eleitos, se mantendo entre as bancadas nanicas.

As votações decepcionantes e o ingresso em massa de oportunistas, de donos de construtoras, grandes empresários, gente de direita de todos os tipos, o PSOL acabou se tornando um “saco de gatos”. Dirigentes nacionais como Luciana Genro fizeram de tudo para filiar ao partido a vereadora Juliana Brizola do PDT do RS, por exemplo. Neta de Brizola, um burguês que era e ainda é ídolo de dirigentes do PSOL como Pedro Ruas, Juliana sempre foi parte das máfias estudantis do PDT que, entre outras coisas, controlava o DCE da PUC e outras entidades com métodos de gangue, fraudes em eleições, corrupção generalizada e até assassinatos imputados a seus membros. Pelo sobrenome famoso, tudo deixado de lado e teve as portas abertas, pelas quais só não passou por ter recusado, sabendo dos poucos votos do PSOL. Personagens folclóricos, com discurso religioso e inimigos dos trabalhadores: todos entravam e seguem entrando. Na eleição de 2014, um dos poucos eleitos pelo PSOL foi o Cabo Daciolo, hoje humoristicamente famoso, por seu bordão de “Glória a Deus” e por ter sido um fã de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados e um candidato da extrema direita teocrática nas eleições atuais.

A trajetória do PSOL foi o tempo todo formada pela falta de princípios, repetindo em pouco tempo os crimes e absurdos que o próprio PT levou muito tempo para fazer. Em poucos anos, o PSOL já era sustentado por dinheiro da burguesia, com Luciano Genro recebendo vultosos recursos da multinacional Gerdau (um dos símbolos da burguesia corrupta, sanguessuga e ultra-exploradora dos trabalhadores) e da rede de supermercados Zaffari, uma das famílias burguesas mais importantes do RS.

 Em poucas eleições, o PSOL já se coligou com PMDB, PP, PTB, PSB, PV e uma infinidade de partidos burgueses em diferentes cidades e estados… Com o PT e o PCdoB, então, mesmo com estes partidos estando à frente de governos que atacaram a classe trabalhadora, roubaram sem parar, venderam estatais, aprovaram a destruição do meio ambiente, assassinaram militantes, indígenas e líderes sociais, o PSOL nunca desgrudou. Entre tantas coligações vergonhosas, não é possível sequer citar todas, mas, emblematicamente, uma das mais escandalosas foi a ocorrida no Amapá, onde o PSOL era dirigido por Randolfe Rodrigues.

Único senador do partido em todo o país, Randolfe chegou a ser eleito pré-candidato a presidente pelo partido às eleições de 2014, e só não foi o candidato por que não quis, renunciando em nome de Luciana Genro, que acabou concorrendo. Pois Randolfe não concorreu a presidente para dirigir a campanha do PSOL no Amapá, onde montou uma coligação burguesa junto com a extrema-direita. DEM (ex- Arena da ditadura, partido de ACM, José Agripino, Rodrigo Maia, etc.), PSB e PSOL concorreram juntos e o PSOL deu mais um passo rumo ao fundo do poço.

Mas este crime oportunista sequer foi inédito. A capital do Amapá, Macapá, dois anos antes, já tinha eleito o primeiro prefeito do PSOL de uma capital: Clécio Luís. Clécio e Randolfe montaram uma coligação com o PPS (um dos partidos mais corruptos e de direita no Brasil), PV (do Sarney Filho), PRTB (de Levy Fidelix, ex-tropa de choque de Collor, e cuja candidatura a presidente em 2014 foi ainda mais grotesca que a de Bolsonaro, num tom apelativo anticomunista e homofóbico recordes, tendo falado a célebre frase que casais homossexuais não podem ser considerados uma família, porque “aparelho excretor não reproduz”), PMN (partido de aluguem repleto de corruptos), PCB e PTC, um partido cristão de ultradireita. Não bastando toda esta lista de absurdos, no 2o turno vieram os apoios de DEM, PSDB e PTB, que seguiram sendo base do governo do PSOL depois de eleito.

Logo depois, Randolfe Rodrigues foi denunciado como corrupto, estando na famosa lista de pagamentos da Odebrecht, tendo recebido 450 mil da empreiteira que também comprava parlamentares do PT, PCdoB, PMDB, etc. Um coroamento de sua trajetória e também do caminho trilhado pelo PSOL. O partido, aliás, não fez absolutamente nada sobre o escândalo, e Randolfe ainda seguiu sendo principal político do PSOL até que resolveu se desfiliar por conta própria, e ir formar a Rede, com a também saída do PSOL Heloísa Helena. A ruptura do principal nome do PSOL junto da antiga maior líder da sigla e de dezenas de outros nomes foi a consequência da confirmação de que o PSOL não era nem seria um grande partido eleitoral, e que seu projeto parlamentar não ultrapassaria os limites de um partido muito pequeno.

Para quem saiu do PT em 2003 contra os ataques à Previdência ou em 2005 diante do escândalo do mensalão, construir um partido aliado ao DEM, envolvido em escândalos e ainda por cima sem votos, é uma decepção completa.

Eram 2014, o PSOL teve 1.609.982 votos com Luciana Genro, que manteve o 4o lugar na eleição presidencial de Plínio de Arruda 4 anos antes, mas já não passou de um apêndice da candidatura de Dilma Roussef, sendo uma linha auxiliar do PT do início ao fim. No papel quase de candidatura laranja do PT em 2014 fez, Luciana Genro chegou a se irritar em um debate em que outra vez ajudava a candidatura de Dilma, dizendo “linha auxiliar do PT, uma ova”, mas a realidade é que realmente não passou disso. Na sequência, o PSOL atuou praticamente como parte do bloco parlamentar do PT de 2015 a 2018.

O auge desta política que faz do PSOL uma organização equivalente a uma corrente do PT, só que com registro eleitoral próprio, foi o processo do Fora Dilma. O PSOL já havia passado à margem do levante popular de 2013, que começou contra o aumento dos 20 centavos nas passagens, mas terminou questionando tudo e todos, com o PSOL sendo parte daqueles que iniciaram esnobando as lutas e ainda as considerando de direita. Depois, o PSOL também não lutou contra a violência do PT contra os manifestantes que protestavam contra a corrupção para as obras da Copa do Mundo. O PSOL sempre media suas ações, na lógica de não desestabilizar Dilma e apoiar o PT em sua disputa “contra a direita”, como se o PT mesmo não fosse também de direita.

Até que veio 2015, com milhões de trabalhadores saindo novamente às ruas e levando a um processo que obrigou partidos que até então sustentavam o mandato de Dilma a ter que assumir uma proposta de impeachment de Dilma, para que o governo caísse de maneira controlada, mantendo os direitos políticos de Dilma e deixando assumir seu vice, ao invés de um processo das massas que pudesse derrubar todos. O PSOL, antes, durante e depois da derrubada de Dilma foi mais petista que o próprio PT. O partido embarcou na onda da denúncia do “golpe” e foi a tropa de choque do governo burguês e neoliberal de Dilma, assumindo o papel de apêndice do PT de forma explícita e irreversível. Depois disso, sob Temer, mantiveram o alinhamento completo ao PT, não construindo coerentemente a Greve Geral de 2017 e caluniando a greve histórica dos caminhoneiros em 2018. Assim, como um PT pequeno, a eleição de 2018 foi apenas o triste fim deste período ainda mais à direita do PSOL.

O papel do PSOL como satélite petista foi completado com a candidatura de Guilherme Boulos. Boulos sequer era filiado ao PSOL, e já havia declarado inúmeras vezes seu apoio ao ex-presidente Lula. À frente do MTST, que já cumpriu uma função admirável e extremamente combativa, Boulos conduziu o movimento para se tornar mais um grupo governista, usado para defender um governo burguês e sustentado por verbas do Estado. Desta posição, Boulos foi convidado a ser candidato pelo PSOL, como uma “estrela”, um “novo Lula”, um “líder de multidões”, que poderia voltar a repetir Heloísa Helena e conquistar milhões de votos de ex-petistas, descrentes no partido-mãe e dispostos a abraçar um “novo PT”, mais moderado que o início do original, mas sem tantas manchas da corrupção e sem o desgaste obtido em 13 anos de governo neoliberal.

Houve muita resistência interna dos militantes mais de esquerda no PSOL, indignados com a filiação e candidatura relâmpago de alguém que nunca fora do partido e era claramente lulista. Mas o pragmatismo e eleitoralismo venceram, como sempre ocorre no PSOL, e Boulos foi lançado rumo a uma das maiores votações já vistas do PSOL. Outra vez, contudo, a expectativa se transformou em decepção, e Boulos teve um fracasso inédito, com a pior votação de todas as eleições do PSOL. Depois de ser 3o colocado em 2006 e 4o em 2010 e 2014, o PSOL ficou em 10o lugar em 2018. Atrás de candidatos inexpressivos e até mesmo do seu ex-filiado, o caricato Cabo Daciolo, que teve mais que o dobro dos pífios 617.122 votos de Boulos.

Apesar de ter eleito 10 deputados federais (após festejar equivocadamente ter eleito 12), o PSOL sai menor desta eleição. 8 dos 10 deputados são do RJ e de SP, onde o PT está ainda mais desmoralizado e o PSOL ocupa uma pequena parte deste espaço. Mas, tanto nestes 2 estados como no restante, em que as votações foram frustrantes, o PSOL deixou de ser uma alternativa. O partido perdeu a influência política que já teve e, se nunca teve peso de massas, deixou de ser referência para uma boa parte da vanguarda, que apoiou Ciro Gomes ou voltou ao ninho petista. De tanto ser linha auxiliar e apêndice do PT, na hora em que o PT precisou, os seus eleitores deixaram de lado o intermediário e foram direto ao PT. A próxima legislatura terá 3 deputados a mais do PSOL, mas o partido deixou de ter bancada no Senado, já não governa mais nenhuma capital e encolheu politicamente, deixando de aparecer como algo independente.

Além de todas as traições e repetição de práticas fisiológicas e corruptas, o PSOL sequer é uma garantia de defesa democrática para a esquerda. O partido votou a favor da cláusula de barreira que impôs limites à participação dos partidos que não obtiveram um número mínimo de votos e deputados eleitos, praticamente cassando o direito de existência de partidos como o PSTU, PCB e PCO, que supostamente deveriam estar entre seus aliados de esquerda. Ao contrário, o PSOL votou junto com a direita para restringir a democracia.

Tendo recebido mais de R$ 20 milhões do dinheiro público apenas para sua campanha em 2018, o PSOL passou a ser mais um partido do sistema, que cumpre um papel nefasto e de ataque aos trabalhadores. Ainda é um partido de esquerda, no sentido amplo e genérico deste conceito, e possui milhares de militantes e apoiadores honestos, mas seu programa, suas candidaturas e suas práticas e métodos já são completamente burgueses. Um PT dos anos 90 piorado, e sem votos…

PCdoB não atinge a cláusula de barreira e paga caro por suas traições 

O PCdoB, que já foi um partido muito influente no país, tendo herdado a maioria dos militantes e do espaço político do stalinismo e da esquerda com ilusões na burocracia soviética, já tinha sofrido grandes perdas nos anos 90. Apesar de seguir dirigindo a União Nacional dos Estudantes, que não mobiliza nem influencia mais coisa nenhuma, sendo uma central de arrecadação de recursos, e de seguir à frente da central sindical CTB e de algumas dezenas de sindicatos, o PCdoB hoje é uma sombra do que já foi.

A saída de Aldo Rebelo do partido no ano passado foi o símbolo de um partido destroçado. Rebelo foi o principal dirigente do PCdoB, onde esteve por 40 anos. Foi presidente da UNE, ministro de Lula, ministro de Dilma e presidente da Câmara de Deputados. Nunca outro filiado do PCdoB chegou tão longe. E Rebelo saiu do partido para entrar no PSB, um partido burguês, cuja bancada, apenas dois anos antes, votou a favor do impeachment de Dilma, chamado de golpe por ele mesmo e pelo PCdoB. Mas o que já era um desastre, ficou ainda pior: rebelo passou apenas alguns meses no burguês PSB e já foi para o Solidariedade, partido ainda muito mais à direita, e controlado pelo mafioso sindical Paulinho da Força. O Solidariedade apoiou Geraldo Alckmin a presidente, na primeira eleição de Rebelo no partido.

Rebelo é a síntese do que aconteceu com o PCdoB, pois estas posições já eram similares às que tomava quando era o líder do partido. À frente do ministério da Defesa do PT, manteve a estrutura das Forças Armadas intactas, e foi elogiado por Bolsonaro. Como parlamentar, redigiu e propôs o novo Código Florestal, que anistiou fazendeiros criminosos e liberou a destruição da Amazônia. O PCdoB é o responsável por estas medidas, assim como é responsável de modo complementar por todos os ataques, corrupção e desmonte da soberania nacional promovidos pelo PT em 13 anos em que estiveram juntos em 4 governos.

O PCdoB acabou de ter um resultado eleitoral tão baixo, com apenas 9 deputados eleitos, que até mesmo seu registro eleitoral está ameaçado. Depois renunciar à candidatura própria a presidente, que teria com Manuela Dávila, o PCdoB aceitou tê-la como uma vice fantasma de Haddad, que passou 80% da campanha fingindo ser ele mesmo o vice de uma candidatura imaginária de Lula, que está preso e inelegível. No fim, o PCdoB desapareceu e seus 9 deputados ficaram abaixo do mínimo exigido pela cláusula de barreira, que ele mesmo e o PSOL votaram a favor. A partir de agora, o partido não terá mais acesso aos recursos públicos do fundo partidário e para as campanhas eleitorais, que lhes garantiam dezenas de milhões de reais. E tampouco terá acesso ao tempo de rádio e TV. Na política brasileira, um partido sem dinheiro e sem tempo de campanha não serve nem como aliado nem atrai políticos que queiram se eleger ou reeleger, o que torna muito provável que existam outros Aldo Rebelos saindo do partido.

Tão ruim como a derrota eleitoral histórica do PCdoB foi a única vitória do partido, a reeleição de Flávio Dino como governador do MA. Foi a chamada “vitória de Pirro”, onde o vencedor sai como perdedor. O PCdoB se elegeu em 2014 com um vice do PSDB, e novamente está com os tucanos e parte do que existe de pior na bandidagem política do MA. O estado segue sendo um dos mais pobres e violentos do país e as oligarquias mandam e desmandam.

O “comunismo” do PCdoB só resiste no nome, e ele é mais um partido de direita, burguês como o PT, que administra o capitalismo e, assim como o PSOL, sobrevive na órbita do PT. Estes partidos precisam ser superados pelos trabalhadores para que possa surgir, de verdade, um partido de esquerda, socialista e combativo no Brasil.