#ELESNAO! A enxurrada de 40 milhões de não-votos mostram que uma grande parte população já entendeu que o problema maior não é um candidato ou outro: é o sistema! [14ª Parte]

Parte dos que votam em Fernando Haddad neste 2o turno, e votaram também nele, ou em Ciro, ou em Marina ou em Boulos no 1o turno, alegam que votar no PT é "defender a democracia", pois Bolsonaro instalaria uma ditadura no Brasil, no mínimo, e um regime fascista, no máximo. Ora, ninguém é fascista sozinho!

Nacional - 26 de outubro de 2018

14ª Parte da série “Balanço das Eleições 2018” 

Se Bolsonaro representa o fascismo, e vale votar em qualquer candidato pela “democracia”, é preciso votar também em Eduardo Paes, Anastasia, Barbalho e uma dúzia de burgueses.

Parte dos que votam em Fernando Haddad neste 2o turno, e votaram também nele, ou em Ciro, ou em Marina ou em Boulos no 1o turno, alegam que votar no PT é “defender a democracia”, pois Bolsonaro instalaria uma ditadura no Brasil, no mínimo, e um regime fascista, no máximo. Ora, ninguém é fascista sozinho! E os mesmo que difundem o discurso burguês pró-PT do terror fascista iminente que pode assolar o Brasil, têm que admitir que Bolsonaro está junto com os 52 deputados eleitos pelo PSL, e mais a bancada da bala, bíblia e do boi (deputados militares, pastores e ruralistas) como sendo a base parlamentar que vai impor o fascismo no país. Ao todo, seriam centenas de parlamentares fascistas ou inclinados a apoiar uma ditadura que Bolsonaro instalasse, e a luta contra Bolsonaro tem que se expressar também contra todos os demais.

Bom… seguindo este raciocínio antidialético e com o qual discordamos frontalmente, é preciso ser coerente e ter a mesma lógica nas disputas eleitorais dos 2o turnos nos estados! Afinal de contas, o golpe e a ditadura de 1964 iniciaram pelo governador de MG, Magalhães Pinto, e Bolsonaro precisaria de líderes locais para impor o fascismo que vai acabar com a vida como conhecemos, segundo ameaçam os petistas, colocando-se como a salvação contra todo este desastre. E, de fato, em quase todos os estados há candidatos diretamente ligados a Bolsonaro. Militares, gente com discurso pró-fascismo e que são a imagem espelhada do “líder fascista nacional”.

Então, para defender a democracia, não poderia haver fronteiras. Quem vota Haddad contra Bolsonaro precisa votar naqueles que enfrentam os candidatos de Bolsonaro nos estados, que serão os chefes das Polícias Militares que irão massacrar os trabalhadores. Das duas, uma: a) ou tem que admitir que estão votando em Haddad e no PT pelos méritos que veem neles e pela simpatia e apoio que lhes dão, e reconhecem que são petistas enrustidos; ou b) alegam que são oposição e críticos ao PT, mas que votam nele de nariz tapado, a contragosto, em nome da democracia, e que fariam isso da mesma forma com todos os democratas contra um fascista.

Quem quiser sustentar esta 2a hipótese, do “voto crítico contra os apoiadores do fascismo” é absolutamente obrigado a admitir que também votaria em Ciro/Kátia Abreu contra Bolsonaro, em Alckmin contra Bolsonaro, em Meirelles contra Bolsonaro; e até em FHC contra Bolsonaro e Renan Calheiros contra Bolsonaro, se isso fosse possível! São todos, afinal, “democratas” que estão no campo de Haddad, contra o fascismo e a volta da ditadura.

Mas além de admitir votar em bandidos e burgueses de todos os partidos, do PT ao PSDB e MDB, o eleitor de Haddad, para poder ser levado a sério, também precisa votar contra os mini-Bolsonaros estaduais, ou “bolsominions”, como tanto falam. E Bolsonaro é representado por candidatos que são sua imagem e semelhança.

1) Wilson Witzel é do PSC no RJ, um ex-fuzileiro naval, que defende que bandido bom é bandido morto e é um filhote de Bolsonaro. 2) Wilson Lima é do PSC no AM, apresentador da Record, da Igreja Universal e Bispo Edir Macedo, um fascista da Amazônia, lugar em que sua PM pode exterminar índios. 3) Coronel Marcos Rocha é do PSL em RO, outro lugar em que ruralistas já massacram índios e trabalhadores rurais. 4) Antonio Denarium é do próprio partido de Bolsonaro, o PSL, além de grande empresário e ruralista – uma mistura de dono das lojas Havan, líder da UDR e Bolsonaro – é candidato justamente em Roraima, por onde entram os venezuelanos fugindo da fome e da repressão de Maduro, e que Bolsonaro quer criminalizar. Por fim, entre os casos mais explícitos, 5) o Comandante Moisés, também do “fascista PSL” de Bolsonaro, disputando o governo de Santa Catarina, um coronel truculento.

Ao menos nestes 5 estados, os candidatos de Bolsonaro são tão fascistas como ele. Se vale a “luta com quem quer que seja pela democracia”, não pode haver nenhuma dúvida em apoiar e fazer campanha para quem os enfrenta: 1) Eduardo Paes (DEM), 2) Amazonino Mendes (PDT), 3) Expedito Junior (PSDB), 4) Anchieta (PSDB) e 5) Gelson Merisio (PSD). Todos são burgueses, todos são de partidos de direita, todos são corruptos. Assim como Haddad… Mas são o “qualquer um” contra os “candidatos fascistas”.

Eduardo Paes é quadrilheiro, ladrão da turma de Pezão, Sérgio Cabral, mas também grande aliado de Lula e Lindhberg Farias e um democrata contra um possível ditador. Amazonino é um antigo corrupto e explorador, mas um “democrata do partido de Ciro Gomes”. Expedito é tucano e neoliberal,  cujo mandato de senador já foi até cassado por corrupção, mas é um professor contra um “coronel fascista do PSL” e a democracia está em risco… Anchieta também é tucano, também foi cassado como governador por corrupção, mas é um engenheiro e democrata perto do ruralista Denarium, do fascista PSL.  E Gelson Merisio é do PSD de Kassab, mas o que isso importa, não é mesmo, afinal, é contra o Comandante Moisés, mais um fascista de Bolsonaro e do PSL, justamente em SC, onde já houve grupos neonazistas detectados.

Assim, se quiserem ter um mínimo que seja de coerência, os eleitores de Haddad que se dizem críticos, e que alegam que não é um voto no PT, mas “contra Bolsonaro”, “contra a ditadura” e por aí vai, são obrigados a votar nestes 5 criminosos burgueses, “democratas” nas eleições no RJ, AM, RO, RR e SC. Pelo menos.

Se não há dúvidas da correlação da luta “democracia x ditadura” da disputa nacional com a destes 5 estados, tampouco podemos deixar de observar que Bolsonaro teria importantes aliados, totalmente fechados com ele e que sustentariam, certamente, a sua ditadura, em ao menos outros 6 estados. E, no nosso ponto de vista, se Bolsonaro vai implantar uma ditadura que acabará com a democracia, é secundário que alguns candidatos não sejam, eles mesmos, fascistas ou do partido de Bolsonaro, pois são parte do campo político que vai eleger Bolsonaro, sustentar sua ditadura nos estados e aplicar seu programa de violência através das PMs, que serão controladas por eles.

Assim, contra o bolsonarista Romeu Zema (MG), megaempresário, deveríamos ser obrigados a votar “criticamente” em Antônio Anastasia em Minas, mesmo sendo ele do PSDB e afilhado de Aécio Neves. No Pará, votar contra o bolsonarista Marcio Miranda (DEM), fazendo campanha para Helder Barbalho (MDB), da oligarquia de coronéis chefiada por Jader Barbalho, mas que são contra Bolsonaro. Neste caso, inclusive, o PT já está no palanque e totalmente engajado na campanha de Barbalho, que inclusive foi ministro de Dilma. Boa parte do PSOL também. Falta só o PSTU, que já se aliou ao PCdoB no estado…

Da mesma forma, no Mato Grosso do Sul, contra o ruralista Reinaldo Azambuja (da ala bolsonarista e não democrática do PSDB), se deveria fazer campanha para Odilon de Oliveira, mais um “bom burguês” do PDT de Ciro. Mesma coisa em SP, onde João Dória é um tucano bolsonarista, que estaria à frente da maior e mais armada PM do Brasil, apoiando a ditadura de Bolsonaro, contra o qual seria preciso apoiar Márcio França, do PSB, apesar de ele mesmo ser o atual governador, depois de ser vice de Alckmin. E situação também parecida à do RS, onde Eduardo Leite também é bolsonarista do PSDB, rei do antipetismo, e teria que ser derrotado pelo democrata José Ivo Sartori, que nunca pagou salário em dia aos funcionários, é corrupto, ameaça vender estatais o tempo todo, mas é um “democrata do MDB”… Por fim, o curioso caso do RN, em que Carlos Eduardo Alves é companheiro de PDT de Ciro Gomes, mas é um ferrenho bolsonarista, centrando toda sua campanha em atacar o PT e sua adversário Fátima Bezerra, a única que pode ser eleita pelo PT de Haddad no 2o turno, professora como Haddad.

Como votar Haddad contra Bolsonaro, mas não votar em Fátima contra um bolsonarista, mesmo que do PDT de Ciro? Como justificar fazer campanha para o PT nacional e não fazer o mesmo contra os representantes de Bolsonaro no MS, SP, MG, PA; onde a futura ditadura teria governadores alinhados com a repressão em massa que pode nos atingir? Por isso, quem vota no PT para presidente, no mínimo, é obrigado a defender o voto em 5 burgueses regionais, mas, levando ao pé da letra, teria que votar no “campo burguês progressivo” em 11 estados, ao todo.

É o triste fim de quem aderiu ao bloco burguês petista: ter que apoiar tucanos, ladrões cassados e a escória política, como Eduardo Paes, Barbalhos, o vice de Alckmin, e Sartori; caso queiram levar a sério o discurso deles mesmos.

Nós repudiamos esta concepção, que não passa da reedição da famigerada política inicialmente menchevique e social-democrata, e depois assumida com toda força pelo stalinismo, de renunciar à independência de classe e estar sempre disposto a dar apoio ou ser parte de um “campo burguês progressivo” contra um suposto “campo burguês regressivo”.

A “teoria dos campos”, denominada assim por Stálin e seus asseclas, fez com que se abrisse mão e abortassem revoluções em nome do “mal menor”. Uma política desastrosa que levou milhões de trabalhadores à morte, às prisões e à vida sob a exploração e a violência burguesa, renunciando à luta pela revolução socialista e se prestando ao papel de linha auxiliar de algum setor burguês, ora descrito como nacionalista contra o imperialismo, democrata contra o fascismo, progressivo contra os reacionários, e por aí vai. Esta farsa montada pelo PT no Brasil não é nova, e, embora sempre conquiste muitos adeptos, não pode nunca confundir ou fazer capitular os revolucionários coerentes.

Mas o PT, mesmo nunca tendo sido revolucionário, quando ainda era um partido de esquerda e da classe trabalhadora, mostrou o inverso disso tudo que hoje ele fala nos anos 80. O Brasil ainda vivia uma ditadura (!!!) e o regime militar tinha um candidato nas eleições indiretas de 1985: Paulo Maluf, um representante do governo que matou milhares de trabalhadores, torturou mulheres e cometeu atrocidades sem fim. Maluf, que depois viria a ser o xodó de Lula e Haddad na eleição deste para prefeito de SP, na época era do PDS, nome que a ARENA semi-fascista assumiu nos anos 80, e enfrentava o democrata Tancredo Neves.

Segundo a lógica de hoje, não poderia ter dúvida alguma em votar em Tancredo! Maluf não era um saudosista da ditadura, como Bolsonaro; ele era muito pior: havia sido líder dela! Aliás, o Brasil ainda vivia na ditadura! Mas o PT fez o contrário do que hoje fazem PSOL, PSTU e outros partidos oportunistas de esquerda, que estão em campanha por Haddad. O PT chamou voto nulo! Não apenas disse que Maluf e Tancredo eram burgueses e patrões, e que nenhum merecia o voto dos explorados, como expulsou os 5 deputados que tinha que resolveram votar em Tancredo contra a decisão partidária. Os expulsou como traidores da classe!

Naquela época, mesmo reformista, o PT agiu com independência de classe! Seu slogan era que “trabalhador vota em trabalhador” e, muito antes da rima do “contra burguês, vote 16”, do PSTU, o PT foi quem criou esta rima nos anos 80, dizendo “contra burguês, vote 3”, o número com que concorreu nas primeiras eleições. Chega a dar saudades do reformismo do PT dos anos 80, muito mais combativo, de luta e classista que o PSOL e o PSTU nesta e na maioria das últimas eleições.