#ELESNAO! A enxurrada de 40 milhões de não-votos mostram que uma grande parte população já entendeu que o problema maior não é um candidato ou outro: é o sistema! [10ª Parte]

Trotsky conceituava que o fascismo, que Marx, Engels e Lênin não viveram para analisar, era a expressão máxima da política burguesa de esmagamento do proletariado. Uma burguesia e uma economia altamente em crise, com uma agitação de massas ou ameaça real aos interesses capitalistas por parte dos trabalhadores, poderia levar a burguesia a uma militarização e repressão quase completas sobre a classe operária.

Nacional - 21 de outubro de 2018

10ª Parte da série “Balanço das Eleições 2018” 

O fascismo é uma saída que surge dos bancos e empresas, não de quartéis.

Trotsky conceituava que o fascismo, que Marx, Engels e Lênin não viveram para analisar, era a expressão máxima da política burguesa de esmagamento do proletariado. Uma burguesia e uma economia altamente em crise, com uma agitação de massas ou ameaça real aos interesses capitalistas por parte dos trabalhadores, poderia levar a burguesia a uma militarização e repressão quase completas sobre a classe operária.

Tal regime, fascista, deveria contar com a radicalização e apoio da pequena-burguesia, e em geral a manipulação de setores do lumpen-proletariado, disposto a fazer o trabalho sujo, como destacamentos paramilitares de mercenários contra os trabalhadores. O proletariado precisaria estar derrotado para que houvesse o triunfo destas forças e a burguesia sem saída que não fosse abdicar ela mesma de parte de suas liberdades democráticas e livre exploração, para concentrar o poder nas mãos de uma camarilha truculenta, muitas vezes tendo que recorrer à estatização de boa parte das forças produtivas, e uma mobilização financeira e ideológica de perseguição aos comunistas e “agitadores sociais”, mas com a inevitável repressão e prejuízo também de alguns setores burgueses, em benefício de alguns outros setores principais.

Ainda segundo Trotsky, o fascismo é um fenômeno de exacerbação do capitalismo e, portanto, corresponde aos países de capitalismo desenvolvido, como foram a Alemanha ou Itália. Em países semicolônias como o Brasil, o máximo que poderia existir é o que ele chamou de semi-fascismo. Não por ser mais ameno ou menos violento, mas por, socialmente, expressar um fenômeno sem a capacidade destrutiva deste mesmo regime dentro de países imperialistas.

Neste sentido, quem “dispara” o fascismo são os capitalistas. Os burgueses como classe, ou um setor desta classe, como normalmente ocorre. De toda forma, a burguesia principal precisa estar decidida ao fascismo. Sua imprensa, seus bancos, suas grandes indústrias são os defensores do fascismo ou da ditadura, e os militares são seus instrumentos. As Forças Armadas são os agentes armados usados pela burguesia para implantar, pela força extrema, um regime de ataques agressivos à classe trabalhadora, que pelos mecanismos normais da democracia-burguesa não seriam possíveis.

Os militares não são uma classe social própria! Eles não têm interesses como classe, nem um projeto de Estado ou autonomia política para fazer o que querem. O fascismo e as ditaduras têm conteúdo de classe e são capitalistas! Quem instaurou o nazismo não foi Hitler. Nem foi Mussolini quem criou o fascismo ou Pinochet quem deu o golpe no Chile. Nem foram “os militares” que deram o golpe em 1964 sozinhos no Brasil. Foram todos movimentos da burguesia enquanto classe, e os indivíduos que assumiram a chefia das quarteladas eram empregados destes burgueses.

A Alemanha estava totalmente destruída na década de 20, pela derrota na 1a Guerra Mundial, que havia destroçado o país, suas terras, fábricas, infraestrutura e mão-de-obra, com milhões de mortos. Mais que isso, os países vencedores impuseram taxas para cobrir seus gastos de guerra aos países derrotados, e, além da pobreza e desmantelamento do país, o sentimento era de humilhação geral, tendo que reconstruir o país e os recursos sendo saqueados pelas demais potências europeias. No meio disso tudo, os comunistas alemães tentaram tomar o poder junto de revoluções populares em 1919 e 1923. Foram violentamente derrotados, com o assassinato de Rosa Luxemburgo e milhares de militantes por parte do governo democrático-burguês alemão, que não era nenhuma ditadura… A economia estava em frangalhos, com uma hiperinflação recorde, que fazia famílias terem que carregar dinheiro em carros de supermercado para comprar alguma comida (o filme o Ovo da Serpente de Ingmar Bergman é um clássico que retrata esta época pré-nazismo). A fome, o desemprego, a miséria e a humilhação, junto da tentativa de revoluções dos trabalhadores, foram os gatilhos para que a burguesia tivesse que optar por uma saída extrema, e o nazismo foi fabricado. Hitler foi o indivíduo que assumiu o posto de chefe deste movimento, mas os verdadeiros impulsionadores do nazismo foram outros: Bayer, Siemens, Basf, Volkswagen, BMW, as indústrias Krupp, Daimler-Benz, Dr. Oetker e inúmeras empresas inclusive de outros países, que vieram a ser adversários dos alemães na 2a Guerra, como a IBM (que organizou todo o método de execução em massa dos judeus), Coca-Cola,  Ford, Esso, Texaco, etc., etc. Todos os bancos, grandes empresas e setores da mídia principais mais do que apoiaram o nazismo: o montaram. Os nazistas não eram “estatizantes” anti-liberais. Estatizaram setores necessários para ter mais poder de fogo contra os trabalhadores e o Estado operário na ex-URSS, mas mantiveram todas as grandes empresas intactas. Siemens, Basf e Bayer chegaram a montar fábricas dentro de campos e concentração com mão-de-obra escrava de judeus… Foi para eles que foi feito o nazismo. Eles o criaram. Hitler era apenas seu administrador.

O mesmo na Itália de Mussolini, na Espanha de Franco e assim por diante. São as classes ou setores expressivos delas que mudam regimes e Estados! Não indivíduos, e muito menos eleições. No Brasil de 1964, foram as empresas que deram o golpe. Hoje até já se trata como um “golpe civil-militar”, porque é evidente que não foram os milicos quem tomaram o poder sozinhos. Eles foram o instrumento da burguesia financeira e industrial, principalmente. Um dos principais líderes da organização do golpe foi o banqueiro e governador de Minas, Magalhães Pinto, dono do Banco Nacional, que, é claro, depois seguiu enriquecendo na ditadura e se tornou famoso na década de 80 por estampar o boné sempre presente na cabeça do piloto Ayrton Senna.

O golpe de 1964 foi financiado por ao menos 95 empresas e 125 empresários como “doadores físicos”, e tinha órgãos conspiradores como o Ipes, que promovia massiva propaganda contra o governo por meio de cursos, palestras, propaganda em revistas e superproduções televisivas pelo golpe. O Banco Mercantil de São Paulo, o Itaú, a Scania, Pinheiros Produtos Farmacêuticos, Ultragaz, Ford, Volkswagen, Chrysler, Supergel e outras empresas bancaram a infraestrutura do golpe em si, fornecendo de carros blindados e caminhões até refeições pré-cozidas, segundo apurou a Comissão da Verdade. As Listas Telefônicas Brasileiras, Light, Cruzeiro do Sul, Refinaria e Exploração de Petróleo União e Icomi eram outras empresas que lideraram o financiamento do golpe.

Mas não era só o conjunto das empresas; era a imprensa. 13 veículos de TV (todas que existiam) e quase todas as rádios e jornais apoiaram o golpe, incluindo a Globo e a Folha de São Paulo. O apoio burguês era hegemônico e a saída da ditadura era apontada para frear as lutas sociais crescentes, assim como uma resposta à revolução cubana ocorrida poucos anos antes, em 1959. Como o nazismo foi uma saída violenta para defender os interesses dos capitalistas contra os movimentos comunistas que cresciam na Europa.

Agora perguntamos depois desta longa explanação: o que isso tem a ver com o Brasil de 2018? Onde estão os grandes industriais, bancos e empresas apoiando a ditadura? O que falam a Globo, a Folha de São Paulo e os principais porta-vozes da burguesia brasileira? Quase todos eles são críticos de Bolsonaro. Mas o PT não era a 1a opção destes setores, e se tornou a partir de 2002, então também pode ser que Bolsonaro venha a ser apoiado por eles, que sempre preferiram o PSDB. Eles se adaptam…, Mas Bolsonaro vai ter que cumprir o programa deles! Como Lula e Dilma cumpriram! Não vai ser o programa de Bolsonaro, que mal tem um.

Lula não queria e nem poderia enfrentar estes grupos dentro do capitalismo. Bolsonaro não quer, não pode e não vai enfrentá-los, do mesmo jeito. O governo de Bolsonaro vai ser um governo burguês e neoliberal, de muitos ataques contra os trabalhadores. Seguindo as ordens dos grandes burgueses e mantendo todo seu funcionamento normal. Como qualquer um seria: Haddad seria, Ciro seria. Pode haver um ritmo diferente nestes ataques, como houve distinções entre o próprio Lula e Dilma, ou entre os dois mandatos de FHC; mais por diferentes situações econômicas e de correlação de forças, e não pelos partidos no governo.

Mas não haverá nenhuma ditadura no Brasil e muito menos um governo fascista. O fascismo é uma medida da burguesia, que precisa de condições políticas para isso e interesse econômico nesta opção, que, apesar das vantagens que lhes traz, gera custos imensos e um desgaste internacional e crise política e social interna totalmente indesejáveis hoje.

Assim como a esquerda reformista perdeu o referencial da revolução e acha que o socialismo pode vir das urnas, perdeu qualquer noção do que é o fascismo de verdade, que transformou numa caricatura eleitoral. Esta versão eleitoreira é ainda mais grave, pois não apenas serve para justificar sua capitulação e colaboração de classes ao projeto burguês do PT, como desarma os trabalhadores para a luta real, armada, contra um fascismo real, também armado, que pode estar no futuro.