Donald Trump: o novo inimigo número 1 dos trabalhadores do mundo!

A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos já causou espanto e preocupação na maior parte do mundo, por conta de suas incontáveis declarações machistas, racistas, homofóbicas e de ódio a imigrantes e muçulmanos.

Mundo - 5 de março de 2017

A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos já causou espanto e preocupação na maior parte do mundo, por conta de suas incontáveis declarações machistas, racistas, homofóbicas e de ódio a imigrantes e muçulmanos. Não por acaso, Trump foi derrotado por ampla margem nas principais regiões metropolitanas dos EUA e, mesmo com o voto massivo dos eleitores do interior do país, acabou perdendo no voto popular.

Derrotado por mais de 2 milhões de votos (64,2 milhões de Hillary x 62,2 milhões de Trump, ou 47,9% x 46,4X) , Trump só foi eleito por conta de um sistema eleitoral antidemocrático e absurdo, onde o presidente não é eleito em votação direta. No maior país capitalista do mundo, os trabalhadores não elegem quem vai lhes governar! O que diz muito sobre a incapacidade do capitalismo garantir o mínimo que seja de direitos civis e liberdades democráticas.

Independentemente da derrota popular, no entanto, Trump assumiu. E, ao contrário dos que previam que suas declarações durante a campanha eleitoral seriam apenas bravatas, ele já está colocando em prática parte de suas medidas reacionárias. A mais barulhenta delas, e que tem levado a inúmeros protestos, é a proibição de entrada de refugiados e imigrantes muçulmanos nos Estados Unidos.

Fundamentalismo cristão e xenofobia

O decreto anunciado por Trump nos primeiros dias de seu governo, proibindo a entrada de refugiados e imigrantes de sete países colocou em prática o início de um projeto de ódio aos estrangeiros (xenofobia), que inclui a construção de um gigantesco muro ao longo de toda a fronteira com o México, além da expulsão de milhões de imigrantes que já residem, trabalham e têm suas famílias nos Estados Unidos.

Esta ação provocou protestos no mundo inteiro e uma série de ações na justiça. Trump fechou as fronteiras americanas para todos os refugiados, independentemente do país de origem, em meio a maior crise humanitária e de refugiados da História. O que é ainda mais cruel quando sabe-se que foram e ainda são os EUA os principais responsáveis pela invasão de outros países, pela fome e pelo armamento de grupos semifascistas como os Talibã e Al Qaeda; todas razões centrais da crise política que afeta a África e o Oriente Médio hoje, e que gera os milhões de refugiados.

A desculpa para o decreto, assinado em 27/01, seria combater o terrorismo. Mas a medida, por ser indiscriminada, deve ser ainda mais causadora de tensões.protestos e resistência mundo afora. A hostilidade aos EUA e, como parte desta rejeição, a radicalização expressa em ações terroristas, só tende a crescer. Trump está alimentando a indústria dos atentados e deve atirar os EUA numa crise política ainda maior.

A partir de agora, está suspensa a entrada nos Estados Unidos por três meses de pessoas da Síria, Iraque, Irã, Líbia, Sudão, Iêmen e Somália. Ao mesmo tempo, refugiados do mundo todo foram barrados por quatro meses. No caso mais grave, que é o dos sírios, a “punição” foi ainda pior: estão barrados por tempo indeterminado. Uma atitude imperialista, racista, xenofóbica e que expressa outra marca do imperialismo norteamericano: o fundamentalismo cristão.

Uma das principais associações islâmicas do país entrou com um processo judicial para derrubar o decreto de Trump. O grupo afirma que a medida é dirigida contra muçulmanos e por isso fere a Constituição americana, que garante liberdade religiosa. E esta lógica fica clara ao proibir a entrada de pessoas justamente de países eminentemente islâmicos, enquanto outros países em guerra civil ou em conflito, como as Filipinas ou de colonização cristã na África, não foram afetados.

A xenofobia foi tão nítida que até estrangeiros com residência permanente nos Estados Unidos foram impedidos de entrar no país, o que obrigou o governo a rever o decreto logo nas primeiras horas de implementação. Houve caos nos aeroportos por conta de moradores dos EUA há décadas serem barrados nos portões de embarque.

O decreto conseguiu a quase unanimidade de críticas. Foi criticado pela oposição do Partido Democrata e até por parte da liderança do Partido Republicano, de Trump, no Senado. O ex-presidente Barack Obama divulgou uma nota em que apoia os protestos e se diz contrário à discriminação religiosa. Nas fileiras do governo, a maior perda foi Sally Yates, Procuradora-Geral dos Estados Unidos da América (EUA), que tinha assumido a gestão interina do Departamento de Justiça desde a posse de Trump. Yates enviou uma carta a todos os procuradores para não defenderem a Casa Branca em processos movidos contra o polêmico despacho anti-imigrantes muçulmanos. Como resultado, Trump demitiu Yates.

Estas reprovações, mesmo que possam ser, na maioria dos casos, hipócritas e cínicas, refletem um ambiente popular de absoluta indignação contra Trump, que ainda não foi digerido como presidente, já que nem sequer teve maioria popular para isso. No entanto, ainda que todas as manifestações políticas, que incluíram presidentes e líderes em todo o planeta, possam ajudar a aprofundar a crise de Trump, são as manifestações de massa que podem levar à derrubada de Trump ou, ao menos, à derrota de suas iniciativas.

E têm existido inúmeras manifestações de rua, atos de protestos e marchas contra Trump. As mulheres estão à frente deste processo, e tomaram as ruas de Washington em duas oportunidades, dentre elas a posse, em 20/01, do presidente, que é odiado pelos oprimidos, por conta de suas declarações e ações criminosas, como abusar sexualmente de mulheres e admitir isto publicamente. Este é o caminho! No mundo todo, é preciso retaliar o imperialismo norteamericano e suas empresas, com medidas comerciais, diplomáticas e políticas; e mobilizar cada vez mais trabalhadores nas ruas do mundo todo.

 Protecionismo imperialista

Outra medida imperialista de Trump, que causou menos repercussão popular e na imprensa, mas pode ser ainda mais significativa do que virá pelos próximos 4 anos,  foi a ordem executiva para tirar o país do TPP (Acordo Transpacífico), um tratado de livre comércio assinado pelo então presidente Barack Obama e outros 11 países banhados pelo oceano Pacífico, do qual a China foi excluída. Assinado no início de 2016, o TPP foi formado por EUA, Japão, Canadá, Chile, Austrália, Brunei, Malásia, Nova Zelândia, México, Peru, Cingapura, Vietnã, dentre outros, e criava uma zona de livre comércio para 40% da economia mundial e era uma das peças centrais da estratégia de ocupar o espaço econômico da região, sem depender tanto da China.

Do ponto de vista dos trabalhadores, este acordo não traria nada de progressivo, pois, assim como o Nafta (acordo com Canadá e México) ou outros tratados de livre comércio (TLCs) feitos pelos EUA mundo afora, só beneficiaria as grandes multinacionais, e levaria ainda mais desemprego e unificação “por baixo” dos direitos e salários dos trabalhadores. Ainda assim, no entanto, a saída de Trump deve preocupar as massas mais pobres.

Ao invés de rejeitar o TPP por conta dos ataques que ele ocasionaria, Trump cancelou a adesão a ele exatamente para poder atacar ainda mais. Trump quer impor ainda mais taxas e barreiras ao comércio internacional com o único objetivo de fazer reserva de mercado às multinacionais dos EUA. Taxando a produção e o comércio dos demais países, Trump vai encarecer os preços dos produtos nos EUA e no mundo todo, gerando inflação, que será jogada sobre as costas dos mais pobres. Além disso, o desemprego subirá em todo o planeta, além de haver queda de arrecadação de impostos, do orçamento dos países e do investimento.

Em troca, não haverá mais empregos dentro dos EUA, pois Trump já deixou claro que vai priorizar os setores burgueses mais parasitários e danosos aos trabalhadores, além de ao meio ambiente. São petroleiras em áreas de preservação, indústrias do carvão, bancos, fabricantes de armas e outros ramos poderosos e com pouca mão de obra empregada que serão beneficiados. Assim como ocorrerá com a redução de impostos dos mais ricos, que será paga pelos mais pobres.

“O que acabamos de fazer é algo grande para os trabalhadores norte-americanos”, disse o presidente, que havia prometido durante sua campanha que tiraria os Estados Unidos do acordo comercial em seu primeiro dia no cargo. O próximo passo pode ser o Nafta, que Trump quer “renegociar”. Assim como ocorreu na questão dos imigrantes e refugiados, a saída do TPP gerou revolta até mesmo entre os republicanos. O senador e ex-candidato presidencial John McCain declarou que sair do TPP é “um erro grave” com “consequências duradouras para a economia norte-americana” e a “posição estratégica” do país na Ásia-Pacífico.

O acordo está em processo de ratificação nos Parlamentos dos países signatários para entrar em vigor e, além de eliminar impostos, estabelece regras uniformes sobre a propriedade intelectual das corporações, além de criar regras únicas sobre a internet, etc. Sem o TPP, Trump joga os EUA num caminho de tentar avançar sobre a economia mundial de modo direto, unilateral e agressivo, ao invés da forma de acordos comerciais, como vinha priorizando Obama. Permanece a mesma política imperialista, mas muda a forma, agora mais truculenta.

Obama preparou o terreno para Trump

Trump ameaça os trabalhadores dos EUA e do mundo todo com graves ataques. Em especial as mulheres, negros, LGBT+, imigrantes e muçulmanos. Porém, ele está longe da imagem artificial de um louco isolado, que ganhou as eleições não se sabe como. Mesmo sem o apoio do núcleo do Partido Republicano e da grande mídia ou celebridades, Trump, desde o início de sua candidatura às primárias internas de seu partido, teve o apoio entusiasmado do Tea Party, grupo fundamentalista de ultradireita, que cada vez dirige mais o Partido Republicano.

Além do Tea Party, Trump contou com uma fortuna arrecada de inúmeros grupos empresariais, dos setores de energia, petróleo, armas, etc. Isso sem contar com o apoio internacional de vários países, em especial da Rússia de Putin, de onde, inclusive, partiram ataques cibernéticos dirigidos contra Hillary e os Democratas, e já confessados até mesmo por Trump, e que podem ter decidido a eleição. Ou seja, Trump não ganhou nada sozinho! É verdade que uma parte expressiva da burguesia se choca com Trump e preferia Hillary. Mas outra parte tão significativa quanto apoiou e elegeu Trump, e se prepara para lucrar muito com ele.

Mas, se Trump não se elegeu sozinho nem é um “louco isolado”, e sim a expressão do projeto político de um setor expressivo do imperialismo, ele tampouco poderia ter ganho se não fosse um grande cabo eleitoral involuntário que teve: Barack Obama!

Mesmo Obama tendo se esforçado pessoalmente em defesa de Hillary, seu legado foi fartamente utilizado pelo adversário, que acaba de tomar posse. Obama entregou seu 2º mandato, após longos 8 anos à frente do cargo político mais importante do mundo, com 43,1 milhões de pobres nos EUA! Desta imensidão de pobres, 14 milhões são crianças!

Ao final de 2015, último ano “fechado” estatisticamente antes das eleições em que Trump foi eleito, a taxa de desemprego estava superior a de 2008, quando Obama assumiu! Em relação a 2008, a quantidade de desempregados subiu 3,3 milhões de pessoas até o final de 2015.

No ano anterior ao início do governo Obama, 13,2% da população dos EUA viviam abaixo da linha da pobreza. Em 2015, essa taxa foi ligeiramente maior: 13,5%. São números decepcionantes para quem se elegeu dizendo “sim, nós podemos” e prometendo a “esperança”.

No quesito da saúde, que tria sido o grande legado de Obama, o saldo é de 13,5 milhões a mais sem seguro de saúde nos EUA, entre 2008 e o primeiro trimestre de 2016, de acordo com pesquisas do Centro Nacional para Estatísticas de Saúde. O “Obamacare”, que pretendia ampliar o atendimento de saúde, não mostrou quase avanço nenhum até o final do mandato de Obama.

Numa das estatísticas mais vergonhosas de Obama, 2,5 milhões de imigrantes foram deportados por seu governo entre 2009 e 2015, com base em ordens de remoção, de acordo com o Departamento de Segurança Nacional. Nenhum outro presidente na história dos Estados Unidos expulsou tanta gente como Obama, que foi chamado de “Deportador chefe” por líderes da comunidade latina. Calcula-se em entre 5% a 10% a redução no número de imigrantes ilegais durante o governo Obama, totalizando, hoje, cerca de 11 milhões no país. Ou seja, sem grande alarde e na surdina, Obama já fez o que Trump ameaça fazer!

No âmbito internacional, a terrível e fascista prisão de Guantânamo, em pleno território ocupado de Cuba, e onde nenhum preso recebe visitas, tem direito à defesa e nem sequer foi condenado em um processo legal, segue de portas abertas e com 60 presos políticos ilegalmente detidos! Obama manteve a guerra no Iraque e no Afeganistão por longos anos, e, mesmo após declarar tê-las encerrado, mantém soldados nos dois países. Enquanto isso, bombardeou ou fez ações militares na Líbia, Iêmen, Síria, Paquistão e outros países do Oriente Médio e África.

Entre 64 e 116 civis foram mortos por ataques aéreos autorizados pelo governo Obama fora de zonas de guerra entre 2009 e 2015, multiplicando o extermínio feito por drones não tripulados. Segundo analistas e grupos independentes, o número de mortos é muito maior, aproximando-se de 500. Os números oficiais indicam também que entre 2.372 e 2.581 “combatentes” foram mortos pelos 473 ataques realizados pela CIA e pelos militares americanos em países onde os Estados Unidos não estão em guerra, como Paquistão e Somália.

Na economia, Obama deixou os EUA com uma dívida pública de 19,9 trilhões de dólares! Um aumento de 87%. Isso significa que a dívida pública dos EUA supera 100% do PIB, com a população e as instituições domésticos como principais credores e China como o maior credor estrangeiro. Por sua vez, o deficit orçamentário dos EUA chegou a US$ 587 bilhões ou 3,2% do PIB do ano fiscal de 2016 encerrado no final de setembro.

É verdade que estes números já vinham péssimo da administração de George W. Bush, e se agravaram com a crise mundial iniciada em 2008, exatamente o ano em que Obama foi eleito. Mas a questão não é apenas atribuir a responsabilidade a Obama (que é, sim, culpado de continuar a massacrar os trabalhadores), mas de entender que ele não garantiu nenhuma das grandes mudanças que prometeu fazer. Com isso, a população negra, de mulheres e de imigrantes, parcialmente, deixou de apoiar seu governo, e os trabalhadores mais pobres e de cidades industriais, falidas desde 2008, e sem nenhuma medida de recuperação desde então, simplesmente votaram em massa pela derrota de Hillary.

A culpa é todo deles mesmos. Os Democratas assumiram com a ilusão popular de que acabariam com as guerras, com as prisões onde se torturava, com a discriminação aos oprimidos e com os ricos ganhando cada vez mais e a maioria da população cada vez mais pobre. Não mudaram coisa alguma, e pavimentaram o caminho para Trump. Que, outra vez, ilude os trabalhadores com promessas vazias de trazer empregos de volta e “tornar a América grande outra vez”. Não vai conseguir fazer nada disso…

Os trabalhadores dos Estados Unidos só têm uma saída: derrubar Trump, o congresso Republicano e a Suprema Corte racista e opressora, e varrer republicanos e democratas do poder, assumindo o controle da economia e das decisões do país  por meio de associações comunitárias, sindicatos independentes, entidades da juventude, organizações classistas de mulheres, negros, LGBTs, muçulmanos, imigrantes e de todos os explorados.

Fora Trump! Fora Todos! Ação direta pela construção do poder dos trabalhadores!