A pandemia opõe classe contra classe

A pandemia do coronavírus segue avassaladora e matando milhares de novas pessoas todos os dias. Em todos os continentes, milhões de pessoas já foram infectadas e atingidas pelos efeitos desta crise. Mas não estamos todos no mesmo barco. São os mais pobres e é a classe trabalhadora que mais é alvo das mortes, apesar de, fora da China, esta pandemia tenha se iniciado em geral com pessoas mais ricas, com poder aquisitivo para viagens ao exterior.

Mundo - 13 de abril de 2020

                A pandemia do coronavírus segue avassaladora e matando milhares de novas pessoas todos os dias. Em todos os continentes, milhões de pessoas já foram infectadas e atingidas pelos efeitos desta crise. Mas não estamos todos no mesmo barco. São os mais pobres e é a classe trabalhadora que mais é alvo das mortes, apesar de, fora da China, esta pandemia tenha se iniciado em geral com pessoas mais ricas, com poder aquisitivo para viagens ao exterior. Muitos ricos e pessoas com alta renda também morreram, evidentemente. Mas presidentes, ministros, grandes empresários e famosos têm muito mais chances de sobreviver, tratados desde o início, nos melhores hospitais, com todos os aparelhos à disposição e medicamentos.

                Os mais pobres, no entanto, não estão sequer sendo testados! Quando ficam doentes, são mandados de volta para casa, sem remédios nem acompanhamento médico, muito menos internação. Para se curarem sozinhos… Só são tratados se retornam sem respirar, com febre e fortes dores alguns dias depois, muitas vezes quando sobreviver já é quase impossível.

                Como tudo, no capitalismo, a pandemia do Covid-19 também faz parte da luta de classes. Todas as doenças, e esta pandemia mostra isso de modo ainda mais cruel, são bombas lançadas contra os mais pobres, os setores oprimidos e a classe trabalhadora em geral.

                Os banqueiros e grandes empresários serão salvos pelo dinheiro público, enquanto os explorados serão os que mais morrerão e aqueles que perderão seus empregos, acumularão dívidas e pagarão a conta praticamente sozinhos. Mas, dentro da classe trabalhadora, são os negros, os imigrantes, as mulheres e os indígenas os que mais são atingidos.

                Por isto, não há uma saída universal contra a pandemia. Não é uma guerra dos humanos, todos juntos, contra um vírus. É um vírus que ataca a humanidade para agravar a guerra que nunca deixou de existir, e cresce a cada dia: a guerra de classes, que coloca burgueses e trabalhadores uns contra os outros. A saída da crise também será de uma classe ou de outra.

                A saída burguesa proporá o socorro estatal aos grandes capitalistas, com algumas migalhas aos trabalhadores, que logo em seguida serão retiradas e, num futuro próximo, será cobrada em 10 vezes mais, na forma de privatizações, retirada de direitos e maior concentração de renda e de capitais. A saída da classe trabalhadora precisa ser outra: expropriar os grandes capitalistas, não pagar as dívidas públicas e impor um programa de fato de recuperação econômica sob a perspectiva da maioria da população, com garantia de emprego, salário e direitos para todos, além de um grande plano de obras públicas e investimentos sociais. 

 

Negros, mulheres e oprimidos são os mais atingidos pela pandemia 

                Em vários locais do mundo, fica evidente quem são os mais atingidos pela pandemia. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, apesar do novo coronavírus matar mais brancos, o vírus é mais letal entre pretos e pardos. 23,1% dos hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave são pretos e pardos, mas eles chegam a representar 32,8% das vítimas de Covid-19. Já com os brancos, a situação é oposta e o número de mortos é menor que o de hospitalizados. Eles representam 73,9% dos hospitalizados e 64,5% das vítimas. E esta realidade está se agravando à medida que a pandemia chega com mais força às perfiferias e favelas do Brasil.

                Nos EUA, os dados são ainda mais explícitos. No estado de Illinois, 43% das pessoas que morreram pela doença e 28% das que testaram positivos eram negros, apesar deles serem apenas 15% da população. Na maior cidade do estado, Chicago, onde o ex-presidente Barack Obama vive e fez carreira política, os negros são 30% da população, mas são 52% dos infectados e 68% dos mortos, sendo que a letalidade dos negros pela pandemia é quase seis vezes maior que a de brancos.

                Esta realidade não começou com o coronavírus. O racismo mata todos os dias, em todos os lugares! Mesmo antes da pandemia, um branco vivia em média 8,8 anos a mais do que um negro em Chicago. A taxa de diabetes entre a população negra é duas vezes maior, e o volume de mortes relacionadas a problemas pulmonares é 20% mais alto. Dois em cada cinco adultos negros da cidade (40%) têm hipertensão, índice 25% maior que o dos brancos. Como disse Malcom X, “não há capitalismo sem racismo!”. E a pandemia só piorou isto.

                No Michigan, um terço dos pacientes é negro e 40% das mortes são dessa população, mesmo que só 15% dos habitantes seja negro. Em Lousiana, onde os negros são um terço da população, 70% dos mortos pela Covid-19 são negros e negras. Em Milwalkee, maior cidade de Wisconsin, os negros são 28% da população, mas 73% das mortes. Na Carolina do Norte, eles são 22% da população, mas 37% dos casos. Em Albany, na Geórgia, mais de 90% das mortes ocorrem atualmente entre a população negra. A taxa de infecção na população negra excede a taxa da população em geral como padrão geral nos EUA.

                Há 3 razões principais que explicam esta desproporção, e todas são sociais, provenientes do que é o capitalismo! Uma das razões é que os negros, por serem em média muito mais pobres, têm muito mais doenças pré-existentes provocadas por má alimentação, estresse e superexploração, como diabetes e problemas cardíacos e respiratórios.

                Outra razão é que os negros são maioria nos bairros mais pobres e favelas, sem acesso ao sistema de saúde adequado, os primeiros a ficar sem leitos, serem vítimas da falta de hospitais, médicos e remédios. A falta de testes sobre o Covid-19 mostra isso muito diretamente. O índice de pessoas sem seguro ou plano de saúde entre a população negra também é muito maior, e se agrava em países como os EUA onde não existe um sistema único e público de saúde.               

                Ainda há uma razão diretamente ligada à suprexploração do trabalho negro. No Brasil, os negros são 47,3% dos trabalhadores informais, assim como são a maioria entre os trabalhadores por conta própria, desempregados, população de rua e dos presos; toda a imensa massa de pessoas que não pode simplesmente fazer quarentena em suas casas, sem que receba condições para isso.

                No caso das mulheres, a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus as atinge em cheio! Nos EUA, estão elas as que mais estão perdendo seus empregos, e as mulheres já representam a maioria dos trabalhadores que solicitou seguro-desemprego durante as últimas duas semanas de março em pelo menos cinco estados. Segundo dados anteriores, nessa época do ano, as mulheres representam normalmente de 25% a 40% das pessoas que estão desempregadas nos EUA, conforme o estado analisado. Agora, elas representam de 50% a 70% em muitos deles.

                Com a quarentena, os setores mais afetados de imediato são os de serviços e o comércio, onde a mão-de-obra massiva é feminina. Restaurantes, serviços de faxina, cabeleireiro, lojas, etc., têm maioria de mulheres, e elas foram demitidas em massa. O setor de trabalho doméstico, com babás e empregadas domésticas, também foi gravemente atingido, e outra vez foram as mulheres as mais afetadas.

                Por isto, a luta pelo fim da exploração dos trabalhadores e a luta contra a pandemia estão diretamente ligadas à luta dos setores oprimidos, como mulheres, negros e negras, imigrantes e indígenas. Estes são os maiores atingidos pelo capitalismo, inclusive por suas doenças e crises, e serão a vanguarda da luta.