1º de maio: dia de luta ou de festa com a burguesia?

Tivemos dois atos neste 1º de maio no Brasil. Os dois apenas virtualmente, devido à pandemia que tem matado quase 500 brasileiros todos os dias! Num destes atos, estiveram presentes ou foram convidados os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula; os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do ultradireitista DEM; e governadores bolsonaristas e semi fascistas como Witzel e Doria, de RJ e SP. Parece até fake news, mas é verdade: a maioria das centrais sindicais, incluindo a CUT, estiveram junto com os patrões e maiores inimigos dos trabalhadores para fazer festa no dia do trabalhador.

Nacional - 1 de maio de 2020

                Tivemos dois atos neste 1º de maio no Brasil. Os dois apenas virtualmente, devido à pandemia que tem matado quase 500 brasileiros todos os dias! Num destes atos, estiveram presentes ou foram convidados os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula; os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do ultradireitista DEM; e governadores bolsonaristas e semi fascistas como Witzel e Doria, de RJ e SP. Parece até fake news, mas é verdade: a maioria das centrais sindicais, incluindo a CUT, estiveram junto com os patrões e maiores inimigos dos trabalhadores para fazer festa no dia do trabalhador.

                Infelizmente, a maioria da CSP-Conlutas e a Intersindical também decidiram participar deste espetáculo lamentável. Esta foi a votação feita na Secretaria Executiva Nacional (SEN) da Conlutas na semana passada, quando já se sabia que o ato “unificado” seria tomado por burgueses que só nos atacam. A alegação do PSTU e dos setores do PSOL que apoiaram esta decisão era de que era preciso “unidade” (incluindo fascistoides e a direita egressa da ditadura militar) porque Bolsonaro poderia dar um “autogolpe”, a nova versão da narrativa que desde a derrubada de Dilma justificam a maioria da “esquerda” se acovardar, não chamar as lutas e se submeter aos interesses dos patrões.

                Mas 2 coisas fizeram esta votação ser desfeita e corrigida: a renúncia do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e a reação completamente negativa pela base.

                Moro caiu atirando em Bolsonaro e o governo perdeu muito de sua popularidade. Isto, na lógica de quem defendeu o mandato burguês de Dilma, atribuiu sua derrubada a um “golpe” e esteve por meses apavorado com o fascismo que viria com a eleição de Bolsonaro (incluindo fechamento do Congresso e sindicatos, assassinato de milhões etc.), significou uma diminuição do risco de mais um golpe que imaginam que iria ocorrer. Assim, poderiam voltar a ter alguma vida própria fora da órbita do PT… A outra questão foi a péssima reação das bases, com muitas categorias perplexas que a CUT faria um ato com a extrema-direita e mais ainda com a Conlutas também sendo favorável.

                Diante disso, houve o chamado a uma reunião extraordinária de urgência da SEN da Conlutas para 3 dias atrás, onde, por unanimidade, se votou uma política de construir um ato classista junto com a Intersindical, sem burgueses. O PSTU e os setores do PSOL que haviam cometido a absurda decisão de rendição e conciliação de classes anterior, enfim concordaram com o que os setores de esquerda da central já defendiam desde o começo. E isto marcou uma vitória importante da classe trabalhadora, que, mesmo impedida de sair às ruas, teve um ato de trabalhadores para poder ser representada. Isto foi um avanço!

Fora Bolsonaro/Mourão! Fora Congresso! Fora todos!

                O Movimento Revolucionário Socialista participou do ato classista formado pela Conlutas e pela Intersindical. Este é o caminho: apresentar uma saída da classe trabalhadora contra as saídas burguesas, sejam elas as do governo Bolsonaro, sejam as de Lula, Ciro Gomes, Doria, Witzel ou Maia, todos possíveis candidatos à presidência em 2022.

                Entretanto, num ato desta importância, já prejudicado por não poder ocorrer nas ruas, faltou mais democracia e compromisso com a luta. O MRS, organização revolucionária que atua como oposição de esquerda à direção da Conlutas, que constrói esta central desde seu 1º dia, e que compõe a SEN dela após concorrer com chapa própria (como sempre) e eleger de modo proporcional um dirigente na última eleição, teve 1 único minuto para se manifestar! É o que a burguesia e o TSE fazem com os partidos de esquerda no horário de rádio e TV durante as eleições burguesas. Enquanto isso, o ato brindou entidades religiosas, grupos musicais e correntes de partidos com registro eleitoral com mais de 99% do tempo.

                Lamentamos também que tenha havido muito pouco tempo para convocar o ato classista de 1º de Maio. Foram 2 ou 3 dias, apenas, pois até ali, a orientação era ato com a CUT, Força Sindical e todos seus burgueses e corruptos de estimação. A mudança de posição do PSTU e PSOL foi positiva, mas chegou em cima da hora, e só ocorreu pelo escândalo da presença de alguns convidados, como Witzel, Maia e Doria. Se o ato fosse “apenas” com Lula, Ciro Gomes, FHC e outros burgueses do tipo, aqueles partidos teriam mantido o ato com os traidores e inimigos dos trabalhadores.

                O momento não é de apresentar mais uma saída dos patrões por dentro do capitalismo. Bolsonaro, Lula, Ciro e FHC já governaram o Brasil, tendo sido presidentes ou ministros, e nenhum deles defende os explorados. O momento gravíssimo exige que seja apresentado um programa e uma saída revolucionários, de ruptura com o capitalismo. A defesa das vidas dos brasileiros massacrados pelo Covid-19, desemprego e perda de salários e direitos depende de derrubarmos Bolsonaro, Mourão, o Congresso e todos os que governam o país e cada um dos estados. Fora Todos! Os explorados precisam governar diretamente, por meio de comitês de luta, nos bairros, locais de trabalho e de estudo.

                Nós somos a favor da mais ampla unidade de ação para derrubar Bolsonaro, incluindo toso os setores da classe trabalhadora e também das demais classes. Assim foi feito na campanha das Diretas Já em 1984, na derrubada de Collor em 1991/92, na campanha pelo Fora FHC desde 1999, na derrubada de Dilma em 2015/16 e no Fora Temer em 2017/18. Temos orgulho de sermos a única organização que defendeu a participação em todos estes movimentos, e lamentamos os que se recusaram a lutar em parte ou em todos estes processos.

                Mas compor um 1º de Maio com partidos burgueses (sejam os ditos de esquerda como o PT de Lula e o PDT de Ciro, ou os diretamente de direita, como DEM, PSC, MDB e PSDB, também presentes no ato da CUT, defendido até o meio da semana pela Conlutas) não tem nada a ver com isto!

                Este 1º de Maio “amplo” nem foi uma ação de rua, nem defendia o Fora Bolsonaro e sequer tinha algum ponto concreto para unidade de ação. Todas as propostas dos presidentes da Câmara e do Senado, congressistas e governadores, seja para enfrentar a pandemia como a crise econômica, são contra a maioria da população. Eles querem vender empresas públicas que estão salvando as pessoas (como a Caixa), cortar verbas sociais como as do SUS, congelar salários de servidores públicos, permitir demissões, reduções de salário e retirar direitos. Não há nada em comum para lutar com esta escória!

                Os atos de  1º de maio acabaram. Mas a luta continua! E nossos aliados não são algum setor burguês “progressivo” nem alguma quadrilha menos violenta. Nem uma coisa nem outra existem!

                Precisamos derrubar Bolsonaro, Mourão e o Congresso por nós mesmos e os aliados dos ativistas são principalmente os 80 milhões de brasileiros desempregados, informais sem renda e pobres em geral, que estão tentando sacar R$ 600 em filas imensas por horas na chuva ou no sol, se expondo ao contágio do coronavírus, sendo que metade destes 80 milhões ainda não conseguiu sacar nem um centavo, e muitos já tiveram até este direito negado!

                São estes 80 milhões de desesperados e os mais de 30 milhões de trabalhadores com carteira assinada, com as mulheres e negros à frente, que são aliados da luta! O MRS convoca os trabalhadores e trabalhadoras a seguirmos mobilizados e confiando na nossa força e união. Trabalhadores de todos os países, uni-vos! Contra todos os burgueses!